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18 de abril de 2018
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18:50

Falta de recursos pode tirar equipe de robótica da Vila Mapa de campeonato mundial no Canadá

Por
Luís Gomes
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Falta de recursos pode tirar equipe de robótica da Vila Mapa de campeonato mundial no Canadá
Falta de recursos pode tirar equipe de robótica da Vila Mapa de campeonato mundial no Canadá
Alunos da escola Heitor Villa Lobos conquistaram a vaga para o mundial em outubro do ano passado | Foto: Maia Rubim/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Em outubro de 2017, alunos da equipe de robótica da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Heitor Villa Lobos, localizada na Vila Mapa, uma das diversas que compõe a Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, conquistaram a Competição Brasileira de Robótica na modalidade OnStage, também conhecida como Dança de Robôs. Com a conquista, a equipe Lobóticos ganhou também uma vaga para disputar o campeonato mundial de robótica Robocup, que será disputada em Montreal, no Canadá, entre os dias 16 e 22 de junho deste ano. Faltando menos de dois meses para a disputa, porém, os alunos estão sob sério risco de não conseguirem participar do campeonato por falta de recursos para financiar a viagem.*

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A professora Cristiane Pelisolli Cabral, responsável pela equipe e pela coordenação do programa de robótica na Villa Lobos, elaborou um plano de trabalho prevendo os custos de passagens – previsão de ida no dia 15 e retorno no dia 23 -, documentos, acomodações, transporte, comida, entre outros, e estimou que seriam necessários cerca R$ 63 mil para bancar a estadia de cinco alunos e dela no Canadá.

No entanto, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) só oferece R$ 20 mil para ajudar na compra das passagens, sugerindo que a escola busque junto à iniciativa privada ou recorra a modalidades de financiamento coletivo para angariar o volume de recursos que faltam. Em resposta a questionamentos da reportagem, a Smed confirmou que pode disponibilizar apenas este valor. “O pagamento já foi autorizado e empenhado e o depósito na conta do Conselho Escolar da Emef Villa Lobos está previsto para ocorrer nesta quinta-feira, 19 de abril. Em meio à crise financeira em que se encontra a Prefeitura, a Smed considera o valor de R$ 20 mil extremamente significativos”.

Cristiane Pelisolli Cabral coordena a equipe Lobóticos | Foto: Maia Rubim/Sul21

Cristiane, que coordena a robótica na Villa Lobos há 10 anos, diz que, em outras oportunidades, quando a Prefeitura não disponibilizou o valor integral para bancar viagens para competições nacional, a comunidade escolar se organizou para fazer rifas ou abrir campanhas de financiamento coletivo, geralmente com valores entre R$ 8 mil e R$ 10 mil. Em alguns casos em estas ações não foram suficientes para arrecadar todo o valor, ela mesmo chegou a tirar recursos do bolso para complementar as despesas. Dessa vez, no entanto, o alto valor faltante, mais de R$ 40 mil, praticamente inviabiliza estas ações. Ainda assim, Cristiane criou nesta quarta-feira um projeto de financiamento coletivo para tentar arrecadar os recursos (disponível aqui).

Ela ainda está tentando buscar parceiros privados e até teve sinalização positiva da Dell — a fabricante de computadores se disponibilizou a contribuir com um valor entre R$ 4 mil e R$ 5 mil –, mas ainda assim permaneceria muito longe do valor necessário.

Cristiane diz que o grande problema é que a escola tem até o final da semana* para comunicar a organização da RoboCup se poderá ou não participar e, caso confirme a participação e não consiga arrecadar os recursos suficientes para viajar ao Canadá, o Brasil pode ser excluído das próximas edições da competição. Para evitar que outras escolas sejam penalizadas, a professora diz que a tendência é que a escola comunique nesta sexta-feira a intenção de desistir da participação no campeonato mundial.

“Nós não podemos deixar o tempo passar e chegar na hora e dizer que não vamos, senão o Comitê Brasileiro de Robótica vai ser penalizado com a perda em definitivo dessa vaga para os próximos anos. Eu não posso fazer isso com o comitê brasileiro”, diz.

Contudo, Cristiane lamenta a falta de apoio do poder público para crianças que conquistaram a vaga após derrotar representantes de escolas públicas e particulares de todo o Brasil na modalidade danças de robô em Curitiba (PR), no ano passado. “Eu acho um absurdo, um desrespeito. Já que a criança é de periferia, então tanto faz, não faz diferença. Só que faz toda a diferença na vida desses alunos. É uma oportunidade provavelmente única na vida deles. Então me dói”, lamenta a professora. “Todo mundo elogia o trabalho e dá tapinhas nas costas, mas quem quer ajudar para que as crianças da Vila Mapa viagem para disputar o mundial do Canadá?”

*Após a publicação da matéria, a professora Cristiane recebeu do Comitê Brasileiro de Robótica a confirmação da participação da equipe no mundial. Com isso, a equipe agora precisa juntar o dinheiro para a viagem


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