Geral
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4 de abril de 2018
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15:50

Contra terceirizações e a falta de diálogo sobre pagamentos, Cpers realiza ato em defesa da escola pública

Por
Sul 21
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“Cade o meu salário? Sartori salafrário!”, gritavam os manifestantes em frente ao Palácio Piratini. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

Na manhã da quarta-feira (4), funcionários, estudantes, professores e apoiadores participaram do Ato Estadual em Defesa da Escola Pública, convocado pelo Cpers. Durante a concentração em frente a sede do sindicato, os manifestantes fizeram falas em cima do caminhão de som pedindo pela união “das categorias afetadas pelo desmonte da educação no Rio Grande do Sul”. “Está chegando a hora. Outubro já vem. Raiando, meu bem. Sartori já vai embora”, cantavam.

Segundo a presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, a manifestação foi organizada com quatro objetivos principais: se posicionar contra a terceirização, contra o fechamento de turmas, turnos e escolas, defender o concurso público e cobrar a reposição imediata dos 22,73% perdidos com a falta de reajustes desde o início do governos Sartori. “Os 22,73% são referentes à inflação que tivemos nos últimos quatro anos. Nós apresentamos o pedido emergencial de reposição e não obtivemos resposta. Queremos conversar sobre isso. É lei. E não vamos desistir”, diz Helenir.

“Eles garantiram que não haveria qualquer punição aos grevistas e aos apoiadores. Mas usaram diversas estratégias para deslocar funcionários das escolas”, denuncia a presidente do CPERS, Helenir Aguiar Schürer. Foto: Joana Berwanger/Sul21

De acordo com a presidente, abril é o 29° mês de atrasos no pagamento dos salários. “Lembrando que o governo, quando aumentou o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestações de Serviços], dizia que ia elevar as taxas para pagar o servidor público. Mas isso obviamente não aconteceu.”

O aumento da alíquota ocorreu em 2015, com a justificativa de ser uma das soluções para reduzir o déficit das contas do Estado. Em 2017, a arrecadação chegou a bater recordes, crescendo 4,1%. Ainda assim, o ano passado foi marcado pelos parcelamentos contínuos, que resultaram nos 94 dias de paralisação dos professores entre setembro e novembro de 2017.

Helenir também afirma que o cumprimento do Acordo de Greve, assinado entre o Cpers e a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), tem sido “uma vergonha”. “Eles garantiram que não haveria qualquer punição aos grevistas e aos apoiadores. Mas usaram diversas estratégias para deslocar funcionários das escolas. O acordo foi para inglês ver. A mesa de negociação para discutirmos salário não está aberta – o secretário diz não conseguir nos receber. Por isso vamos tentar, hoje, uma auto-agenda com a Casa Civil para cobrar uma resposta.” Ela também denuncia o desconto mensal do salários dos educadores para contribuição do sindicato, o qual teria sido repassado apenas no dia 28 de março. “O governo trabalhou com esse dinheiro. Não é possível um governo que paga R$ 1,55 pelos atrasos e usa o dinheiro do servidor”, afirma, se referindo  .

Além disso, Helenir manifesta preocupação com os funcionários das escolas que têm seus cargos ameaçados pela possibilidade de terceirização dos serviços. “Hoje, é nosso grande grito de resistência.”

Elisandra Pires é merendeira. Na segunda-feira, ela não conseguia comer por conta da ansiedade. “A direção da minha escola se reuniu com a secretaria para falar sobre demissões”. Sentindo seu trabalho ameaçado, há alguns anos, ela decidiu iniciar uma graduação em Recursos Humanos. “Nós temos que achar opções. Se eu esperar pelo governo, fico sem emprego.” Porém, Elisandra diz que não deixará de lutar pela educação. “Logo mais, meu filho vai precisar contar com um Ensino Médio de qualidade. É importante porque a gente não tá aqui defendendo só o nosso trabalho. A gente tá defendendo a base de um ensino bom.”

“Sartori, desiste”, dizia a filha do professor Leonardo Schneider. Foto: Joana Berwanger/Sul21

Leonardo Schneider levava sua filha nos ombros enquanto caminhava pela avenida Borges de Medeiros. Ele é professor na Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora Aparecida, em Alvorada. “A gente já cansou dessa situação toda. Mas hoje eu vim especialmente pelos funcionários que correm risco de demissão. Tem uma merendeira que está há 17 anos na escola. Imagina: ela deu merenda para avós e mães de alguns alunos de hoje. E ela continua trabalhando.” Leonardo diz que a filha pede para participar dos atos. “Sartori, desiste”, grita a menina.

“Diminuiu a circulação na Páscoa?”, perguntavam os manifestantes em cima do caminhão de som aos comerciantes nas calçada. “Faz quase quatro anos que não recebemos em dia, que não temos reajuste. E a nossa categoria não é a única comprometida. Claro que ia diminuir a circulação na Páscoa”, ressaltaram.

Ao chegar no Palácio Piratini, Gilda, monitora de uma escola em Santana do Livramento, erguia sua bandeira e gritava “Fora, Sartori!” junto com os outros manifestantes. “Eu estou aqui contra a terceirização. Agora pode ser para os funcionários, mas quando vê chega nos professores. Estamos todos com medo.”

Confira mais fotos:

Foto: Joana Berwanger/Sul21
Foto: Joana Berwanger/Sul21
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