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19 de março de 2018
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16:03

“Os salários são ridículos”: grande desafio é investir em educação básica, diz ex-ministro

Por
Sul 21
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Campolina foi ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação e, entre 2010 e 2014, reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Fotos: Joana Berwanger/Sul21

Giovana Fleck

“O país tem que resolver o problema da educação básica. Eu sou um professor de universidade, passei minha vida na universidade. Mas, é na educação básica que se criam as condições para uma alfabetização adequada, de consciência política, social e de cidadania. Não só preparar as pessoas para o trabalho, mas preparar as pessoas para a vida. E hoje os salários são ridículos.” Clélio Campolina Diniz veio a Porto Alegre para ministrar uma aula magna na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) com o tema: “Corrida científica e tecnológica mundial e a posição relativa do Brasil: desafios e urgências”. Porém, para ele, não se pode pensar em avanços sem pensar na educação básica e na valorização dos professores e dos alunos enquanto cidadãos. “A minha concepção é de que educação, ciência e tecnologia são os fundamentos para pensar em desenvolvimento.”

Campolina é ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação e, entre 2010 e 2014, foi reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em sua “pré-história”, como descreve, atuou como engenheiro e, há quase 50 anos, atua como professor nas áreas de desenvolvimento econômico, economia da tecnologia e economia brasileira. Hoje, é Professor Emérito da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG.

Em entrevista antes de ministrar a aula, o ex-ministro defendeu que o grande desafio hoje no Brasil é fazer o país, em crise, investir em educação. Para ele, tecnologia, economia e desenvolvimento são palavras-chave que, alinhadas, tornam-se conceitos cíclicos – onde um leva ao outro. “Se o país não investir mais dinheiro em pesquisa e desenvolvimento, em ciência e tecnologia e não compatibilizar esse esforço com a política macroeconômica nós vamos continuar “hackeando” e não vamos conseguir implementar um projeto de desenvolvimento”, assinalou.

Para Campolina, tecnologia, economia e desenvolvimento são palavras-chave que, alinhadas, tornam-se conceitos cíclicos – onde um leva ao outro. Fotos: Joana Berwanger/Sul21

Ele explicou que países desenvolvidos, em geral, estão investido de 3 a 5% de seu PIB em tecnologia. “No Brasil, com a crise recente, acredito que tenha caído para cerca de 1%”. Campolina prefere analisar a situação de ‘fora para dentro’, olhando para o mundo até chegar ao Brasil. Em sua aula, ele inicia sua abordagem analisando o quadro mundial do avanço científico e tecnológico – e as consequências disso para o avanço econômico do ponto de vista geopolítico. Depois, explica a relação entre o ocidente e o oriente dentro dos mesmos temas e, por último, situa a posição brasileira e quais são os caminhos para que o Brasil retome posição de inovação.

Para o professor, o últimos anos na política brasileira marcaram um conflito entre a política tecnológica e a política macroeconômica. “Uma entrou em contradição com a outra e as duas foram inviabilizadas”. Além disso,  destacou que a desvalorização da educação, em todos os níveis, tem crescido de forma “preocupante”.

Autonomia universitária

“É num momento de crise que a gente têm que construir os projetos de solução. Para que, dadas as condições, você esteja preparado e mobilizado para saber o que fazer”, explica Campolina. Fotos: Joana Berwanger/Sul21

No dia 6 de dezembro de 2017, uma ação da Polícia Federal executou a condução coercitiva do reitor da UFMG, Jaime Arturo Ramirez, da vice-reitora, Sandra Regina Goulart Almeida, do presidente da Fundação de Desenvolvimento e Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira, além de duas ex-vice-reitoras e duas funcionárias da Fundep. A operação “Esperança Equilibrista” apura um suposto desvio de cerca de R$ 4 milhões em recursos públicos na construção do Memorial da Anistia Política do Brasil.

Clélio Campolina foi um entre 11 ex-reitores da universidade que assinaram uma carta de repúdio à ação policial. Na carta, consideram o episódio pautado por “atos totalmente ofensivos, gratuitos e desnecessários”. Para Campolina, as universidades devem, de forma ininterrupta, ter a liberdade de manter seus projetos e seu funcionamento. ” O país está numa situação de degradação econômica, política e institucional preocupante. Mas as universidades são o espaço de reflexão. Cabe a elas reforçar a busca de um entendimento de quais são as possíveis saídas.”

Ele defendeu que, no presente, o ideal seria que o Governo Federal se sensibilizasse quanto à importância da educação aliada à ciência e à tecnologia com a esperança de que um novo governo possa se estabelecer criando melhores condições para esse avanço. “É num momento de crise que a gente têm que construir os projetos de solução. Para que, dadas as condições, você esteja preparado e mobilizado para saber o que fazer.”

Campolina acredita que o mundo está em busca de novos paradigmas de organização social. “Isso  deveria sair dos países novos, onde se têm menos amarras. Era grande a esperança de que um país como o Brasil pudesse construir novas trajetórias. Infelizmente, essa alternativa fracassou à curto prazo. Mas nós não podemos desanimar e continuar buscando soluções e alternativas”, finalizou.

 

 


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