Geral
|
15 de fevereiro de 2018
|
18:48

Funcionárias terceirizadas de escolas municipais se mobilizam contra atraso de pagamentos e são demitidas

Por
Sul 21
[email protected]
Acompanhadas pela vereadora Sofia Cavedon (PT), as funcionárias foram exigir esclarecimentos à empresa Multiclean. Foto: Divulgação/Marta Resing

Giovana Fleck 

A empresa Multiclean é responsável pela prestação de serviços nas áreas de limpeza e cozinha em 99 creches e escolas municipais. São, ao todo, 957 funcionários. Em 2017, o calendário letivo foi afetado por conta das greves motivadas pelo atraso no pagamento dos salários já parcelados dos municipários. Assim, os terceirizados continuaram trabalhando. O problema é que, no meio desse processo, o contrato de dois anos entre a Prefeitura de Porto Alegre e a Multiclean venceu. Desde o dia 15 de dezembro de 2017, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) não repassa os valores referentes aos pagamentos dos trabalhadores. A Multiclean está com os pagamentos atrasados para cerca de um quarto de seus funcionários.

“Uma das funcionárias teve que decidir se comprava comida ou pagava a luz no mês passado”, conta a vereadora Sofia Cavedon (PT). Na manhã da quinta-feira (15), Sofia e um grupo de funcionárias se encontraram em frente à empresa, no bairro São Geraldo, para cobrar um posicionamento. Lá, ela conversou com as pessoas que contaram como estavam lidando com a situação – algumas sem dinheiro para continuar indo até o trabalho.

No início de janeiro, funcionários já haviam se reunido em frente à Smed cobrando um posicionamento sobre os atrasos. Na ocasião, a secretaria afirmou que os repasses já haviam sido encaminhados à Multiclean e que seria responsabilidade da empresa transferir as quantias.

Cláudia Mena Gomes está entre os 203 terceirizados que não recebem desde dezembro. Funcionária de limpeza, ela afirma ter ido até a sede da empresa que a contratou pedir explicações. Chegou cedo, antes de todo mundo. Assim que outra colega se somou, foram ao guichê falar com a funcionária disponível. “Eu preciso saber o que vai acontecer com o nosso pagamento, ou com o vale-transporte pelo menos”, cobrava. Segundo ela, na mesma hora, a diretora da Multiclean teria descido em direção às funcionárias aos gritos. “Ela berrava perguntando sobre o que estávamos reclamando. Quando respondemos que só queríamos saber como estava o processo, ela mandou que assinássemos o aviso prévio”, conta. As duas foram demitidas na hora. Cláudia já tem um processo contra a empresa na Justiça, por conta dos atrasos no pagamento e desvios de função.

Documento assinado pelo diretor Júlio Cézar de Passoas recomendando a renovação do contrato com a Multiclean. Foto: Divulgação/Sofia Cavedon

Cláudia trabalhava como vendedora, até ser indicada para trabalhar na Multiclean. Ela conta que até ir à sede na manhã de quinta, só tinha contatos esporádicos com seu supervisor. “Não me surpreendeu a reação dela, todos eles sempre nos trataram com muita grosseria”, afirma.

Em documento assinado pelo diretor Júlio Cézar de Passoas, um histórico da contratação da Multiclean é relatado para recomendar ao Secretário Adriano Naves de Brito que renove o contrato. Entre os fatos considerados, consta uma proposta de redução de mais de R$ 1 milhão em custos para a Smed e o fato de os funcionários terem mantido o serviço sem remuneração. Segundo Sofia, o secretário teria se comprometido a assinar a renovação definitiva com um aditivo cobrindo esses primeiros dois meses do ano na terça-feira (20). “Mas é um absurdo demorar tanto tempo para assinar um contrato. O principal que faltou nesse processo foi o respaldo aos trabalhadores”, declara.

Tanto a Smed quanto a Multiclean foram procuradas pelo Sul21. Em ambos os casos, funcionários informaram que os responsáveis não estavam disponíveis para dar declarações à reportagem.

 


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora