Annie Castro
Nem só de marchinhas e purpurina é feito o Carnaval. Uma das festas mais populares do Brasil, momento de alegria e descontração, também pode ser de medo e violência para muitas mulheres. Em 2017, durante o feriado, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 registrou um aumento de 87,93% nas denúncias de violência sexual em comparação à 2016. Somente em quatro dias, 2.132 atendimentos a mulheres vítimas de diferentes agressões foram registrados, de acordo com o Governo do Estado. Porém, muitos casos não viram denúncias formais e às vezes nem são comentados com ninguém. Para romper com o silêncio que ainda envolve o tema, a campanha #AconteceuNoCarnaval se propõe a reunir os relatos de assédio e violência que acontecem com mulheres durante essa época do ano.
Ainda no ano passado, a campanha recebeu 66 histórias que aconteceram em Olinda e Recife, em Pernambuco, permitindo que fosse possível verificar os locais onde os assédios eram mais frequentes. Neste ano, a campanha acontece a nível nacional, promovida pelas redes Minha Porto Alegre, Meu Recife, Minha Sampa, Meu Rio, Minha Jampa, Minha Ouro Preto, Minha Igarassu e pelas ONGs Mete a Colher e Women Friendly. Segundo Clara Alencastro, coordenadora de relacionamentos da Minha Porto Alegre, a campanha, além de um espaço onde as mulheres possam compartilhar casos de assédio, também visa uma conscientização sobre o tema. “Esse relato não tira a importância de uma denúncia de caráter legal, mas a gente pode falar sobre isso e, principalmente, desmistificar essa história de que no Carnaval está tudo bem passar a mão na pessoa, roubar um beijo, puxar o cabelo”, afirma Clara.
Além disso, as Redes também pretendem reunir informações sobre locais onde os relatos são frequentes, para criar um ‘mapa do calor’, e sobre o perfil das mulheres assediadas, gerando estatísticas para que seja possível cobrar políticas públicas voltadas para a segurança das mulheres e que terminem com a cultura do assédio no Carnaval. Por conta disso, na hora de enviar seus relatos no site da campanha, as mulheres devem informar quando o assédio aconteceu e especificar a cidade e o local exato onde foram assediadas. Elas ainda podem cadastrar seus e-mails caso queiram realizar uma denúncia formal e não saibam como proceder.
Segundo Clara, a Minha Porto Alegre está contatando os blocos de Carnaval da cidade, onde a campanha acontece pela primeira vez, para divulgar e pensar em possíveis parcerias: “Começamos a falar com os blocos porque queremos participar, ir lá distribuir adesivos com o slogan da campanha, ter um espaço de fala lá, levar uma faixa para divulgar que existe um canal onde as mulheres podem escrever e contar sobre o que aconteceu e que elas não estão sozinhas”. A campanha acontece até o final do Carnaval quando, após um levantamento das informações, os relatos serão divulgados de maneira anônima.