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24 de dezembro de 2017
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11:22

Monografia premiada pelo IAB aposta em cooperativismo e preservação de patrimônio histórico

Por
Sul 21
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Moinho Moro, prédio histórico construído por imigrantes italianos em Silveira Martins-RS. Foto: Prefeitura de Silveira Martins

Cristiano Goulart

Um precário prédio histórico transformado em uma cooperativa com diversos produtores locais. Este foi o projeto vencedor do Prêmio IAB-RS 2016 José Albano Volkmer, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), conquistado pela recém-formada Ana Paula Venturini. A premiação avalia os trabalhos de conclusão de curso dos universitários indicados pelas faculdades gaúchas de arquitetura que receberam Menção Honrosa na monografia.

A edificação estudada por Venturini é o Moinho Moro, estrutura única e patrimônio histórico de Silveira Martins, cidade da Região Central do Estado pertencente à Quarta Colônia italiana. No prédio, que, atualmente, apresenta visíveis problemas estruturais, produz-se farinha e cachaça, alimento e bebida incorporados à cultura colonial italiana devido ao baixo custo.

A monografia, a partir de um projeto arquitetônico, propõe a criação de uma cachaçaria no Moinho Moro. Na Cachaçaria Armazém Dell’Ácqua, como foi nomeada, os produtores locais de cana-de-açúcar poderiam ceder a matéria-prima ao alambique e obter um percentual sobre a venda da bebida aos consumidores. Além desta sugestão, Venturini também ressalta que os produtores poderiam vender a matéria-prima à Dell’Ácqua.

O objetivo principal, destaca a recém-formada, é estimular o desenvolvimento econômico da região, sem abandonar a tradição cultural da colônica italiana: “Levando-se em consideração precariedade das agroindústrias existentes na região, a proposta da cooperativa Armazém Dell’Ácqua surgiria dentro desse contexto como uma forma de organizar a produção da cachaça da região, através de mão-de-obra especializada e equipamentos adequados, agregando assim, qualidade e salubridade ao produto sem perder o caráter artesanal. Além disso, essa pesquisa busca a valorização da cultura dos imigrantes italianos que se instalaram no município de Silveira Martins por meio do resgate desse patrimônio imaterial que é a produção da cachaça”, defende Venturini.

Telhado comprometido do Moinho Moro. Foto: Ana Paula Venturini.

Construído no final do século XIX, entre 1877 e 1890, o Moinho Moro é o único da cidade de Silveira Martins. Atualmente, o moinho faz parte de um conjunto de edificações composta ainda por residência, cantina, alambique. A estrutura foi construída com tijolos produzidos na própria cidade por imigrantes italianos. Com o passar do tempo, a residência sofreu alterações e acréscimos estruturais, como banheiros. A edificação, no entanto, é precária, como destaca Ana Paula Venturini: “A situação atual da edificação que abriga o moinho é de risco, pois as paredes possuem diversas rachaduras, principalmente as que delimitam o moinho e o alambique, bem como a cantina e a parede que sustentava a outra roda d’ água que existia ali”. Além disso, as rachaduras colocam sob risco de desabamento o telhado do moinho, “pois está sustentado somente por alguns pilares de madeira e com a continua trepidação proveniente da moagem a possibilidade de desabamento é muito grande, colocando em risco os usuários”, reforça.

Estrutura atual do Moinho Moro detalhado na monografia de Venturini. Fotos: Ana Paula Venturini / Montagem: Sul21

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Venturini propõe que as reformas necessárias para transformar o Moinho Moro em uma cooperativa de produção de cachaça sejam custeadas pelos associados. No entanto, por se tratar de um ponto turístico da cidade que pode atrair ainda mais visitantes à região, a arquiteta defende que o Poder Público tem papel fundamental na qualificação das vias da região e publicização da produção local; neste caso, da cachaça. A organização dos colonos em cooperativa, reforça Venturini, é a única forma de retirá-los do isolamento da produção agroindustrial e colocá-los em um mercado competitivo: “Quando bem conduzido, o sistema de cooperativas torna-se um eficiente agente econômico, assegurando ao produto uma maior valorização perante a concorrência existente no mercado. Além disso, o cooperativismo viabiliza a redução de custos provenientes da produção, através da aquisição de insumos mais baratos e com maiores prazos de pagamento, assim como, proporciona benefícios sociais e a participação nos lucros”, defende.

A monografia da arquiteta Ana Paula Venturini venceu, no dia 16 de dezembro, outros 30 projetos que concorreram ao Prêmio IAB-RS 2016 José Albano Volkmer, do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB). O estudo foi orientado pela professora e arquiteta Fernanda Peron Gaspary. O trabalho completo de Venturini, formada pelo Centro Universitário Fransicano (Unifra), de Santa Maria, pode ser conferido na nova plataforma digital do IAB-RS, onde também constam cerca de 120 trabalhos que concorreram à premiação nos últimos anos.


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