Geral
|
24 de novembro de 2017
|
19:20

No Senado, curador da ‘Queermuseu’ é questionado sobre boatos envolvendo exposição

Por
Sul 21
[email protected]
CPI dos Maus-Tratos discutiu a classificação etária para exposições, espetáculos e eventos. Foto: Reprodução/Facebook Magno Malta

Da Redação*

Na última quinta-feira (23), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Maus Tratos a Crianças discutiu a classificação etária indicativa para exibições ou apresentações ao vivo, abertas ao público. Durante a discussão, o procurador da República, Fernando de Almeida Martins, sugeriu que museus e galerias estabeleçam e submetam ao Ministério da Justiça as classificações indicativas para esse tipo de exposição, pois a Portaria 368/2014 do Ministério da Justiça, que regulamenta o tema, exclui da classificação indicativa exibições ou apresentações ao vivo, como teatrais, shows musicais ou circenses.

Leia mais sobre a Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira

Porto Alegre

Durante a discussão, o senador José Medeiros (Pode-MT) questionou Gaudêncio Fidélis, curador da exposição “Queermuseu  cartografias da diferença na arte brasileira”, sobre supostas provas de conteúdo impróprio da mostra, que teve seu encerramento antecipado pelo Santander, após a pressão de grupos políticos conservadores como o Movimento Brasil Livre (MBL). Gaudêncio afirmou que a Queermuseu teve a perspectiva de abrir o diálogo e o debate sobre questões consideradas fundamentais para a população brasileira, como as de identidade e as de expressão de gênero e de diferenças. 

Boatos de redes sociais e imagens falsas foram apresentados como supostos documentos. Um deles mencionava a distribuição de uma suposta cartilha para estudantes. Medeiros questionou se Gaudêncio não teria “mandado fotos das obras para as escolas”, ao que o curador respondeu que: “o projeto educativo do Santander é destinado à formação de professores. Ele é realizado a partir dessa formação e depois executado, destinado para as escolas. Esse é um processo contínuo. Com isso, é produzida uma publicação, que imagino ser esta cartilha à qual o senhor se refere. Esse caderninho é chamado material de professores e serve como instrumento para que os professores entendam melhor a exposição”.

O senador ainda mencionou ter recebido várias figuras e tuítes e mostrou duas delas ao curador. Gaudêncio afirmou que a imagem era de uma obra que não pertence à Queermuseu, mas que faz parte de um processo difamatório, que incluiu a divulgação de imagens de obras que não estavam na exposição. “Quando uma obra é jogada na internet, como provamos que não pertence, quando a exposição, além de tudo, está fechada? Nós tentamos, de todas as maneiras possíveis, comunicar, não por nenhuma razão, mas apenas comunicar que essa e várias obras não pertenciam à exposição. Isso seria fácil de constatar se as pessoas tivessem acesso à exposição”, afirmou.

Outro ponto abordado por Medeiros foi sobre um comentário feito por uma pessoa coordenadora do Movimento Brasil Livre (MBL), em uma entrevista coletiva em Porto Alegre, que teria afirmado que na exposição havia “obras para crianças vestirem e se tocarem sexualmente”. O comentário dizia respeito a uma obra da artista brasileira Lygia Clark. Gaudêncio explicou que “essa é uma obra histórica de uma das artistas mais celebradas do mundo e se chama O Eu e o Tu, que foi produzida na década de 1960. Essas obras são compostas de dois macacões em uma escala grande, para adultos. Ela discutia, dentro do contexto da produção dos anos 1960 a transição não necessariamente de gênero, mas de percepção do outro. Ela não pode ser manipulada, é uma obra de museu”. O curador complementou que a obra havia sido feita para adultos e que na exposição estavam em manequins, pois não podem ser tocadas. Fidélis ainda defendeu a liberdade de expressão, dizendo que cada um deve escolher o que quer ver, ouvir e ler e destacou que as exposições não devem ser um “lugar de consenso”, mas sim da construção de um diálogo.

São Paulo

O curador da exposição “35º Panorama da Arte Brasileira — Brasil por Multiplicação”, Luiz Camillo Osorio, que também foi questionado pela CPI, afirmou que a nudez do artista Wagner Schwartz durante a performance “La Bête”, realizada no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, e que causou outra polêmica nas redes sociais, não teve nenhuma conotação erótica, sexual ou pornográfica. “É uma nudez e nada mais do que isso. A nudez sem conotação sexual tem indicação livre. Não é um problema para as exposições, a nudez. O Louvre e o d’ Orsay estão cheios de nudez”, afirmou Osorio. Ele ainda ressaltou que no local havia placas avisando sobre a nudez na performance e que a exposição já tinha sido feita em vários países e cidades e nunca tinha gerado polêmica. “Ela aconteceu fora do Brasil, se não me engano na França, Alemanha, Bélgica. Aconteceu em São Paulo, no Paraná, no Rio de Janeiro e outra vez em São Paulo. Em nenhuma das outras vezes houve qualquer polêmica ou confusão em torno dessa performance”, disse.

A senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), que também participava da discussão, criticou a forma como têm  sido conduzidos os trabalhos na CPI. Ela chegou a dizer que se retiraria da comissão e afirmou que a maneira como a CPI tratou curadores e artistas foi desrespeitosa e chocou a população que tem apreço à arte. “Uma CPI que quer ser séria, chama essas pessoas que são sérias, respeitadas e então têm sua reputação vilipendiada nos jornais por estarem sendo chamadas em uma CPI”, disse. O senador Humberto Costa (PT-PE), ressaltou que é preciso que fique claro que os curadores e artistas não são criminosos, portanto a CPI, os parlamentares e o público em geral devem ter cautela na forma como tratam os depoentes. O presidente da CPI, senador Magno Malta (PR-ES), afirmou que ninguém estava sendo convocado para depor por ser bandido ou pedófilo. “Eles vieram porque a denúncia envolve a exposição e o museu. Ninguém veio aqui como criminoso. O nosso foco é a classificação [etária] e a censura, afirmou.

*Com informações da RBA e da Agência Senado


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora