Geral
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19 de outubro de 2017
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17:15

Vídeo flagra brigadiano agredindo travesti durante revista em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Da Redação

Um vídeo de 40 segundos mostra um brigadiano agredindo travestis durante uma abordagem policial, em plena luz do dia, em Porto Alegre. O caso teria ocorrido em uma manhã de sábado, no final de setembro, na rua Ramiro Barcelos, bairro Floresta, e foi entregue ao gabinete do vereador Roberto Robaina (Psol). No vídeo, o policial rende uma travesti e joga seu rosto contra uma placa colocada na grade de um prédio. Uma brigadiana mulher se aproxima, mas não interfere na ação do colega.

Na semana passada, Robaina fez a denúncia em uma audiência com o governador José Ivo Sartori (PMDB). Nesta quarta-feira (18), a pedido de Sartori, o vereador foi recebido pelo secretário de Segurança Pública, Cezar Schirmer, e pelo chefe do Estado-Maior da Brigada Militar, Coronel Júlio César Rocha Lopes. O vídeo e a denúncia foram encaminhados para Corregedoria da corporação que decide se será aberto inquérito.

A Secretaria de Segurança Pública abriu um inquérito policial militar (IPM) para apurar o fato e encaminhou a denúncia à BM.

“É gravíssimo, porque sabemos que há uma situação de violência permanente no Brasil contra a comunidade LGBT. Dentro dela, as travestis são as mais agredidas. Este vídeo mostra uma realidade que ocorre muito. Não se pode dizer que esse seja o padrão de abordagem [da BM], mas sabemos que o nível de violência institucional contra a comunidade LGBT é enorme”, disse o vereador ao Sul21. “Infelizmente, acho que ele não é uma exceção. Então, mais necessária ainda a denúncia, a exigência de punição, de identificação e de que publicamente se combata o senso comum de que tudo vale”.

ONG diz que denúncias sobre abordagens violentas cresceram

A abordagem flagrada em vídeo, apesar de ir contra as recomendações da Brigada Militar, parece ser mais comum do que se tem registros. Quem afirma isso é Marcelly Malta, presidente da ONG Igualdade- RS – Associação de Trans e Travestis do Rio Grande do Sul. Segundo ela, as queixas de travestis e mulheres trans sobre abordagens agressivas aumentaram nos últimos anos. O medo de represálias, porém, faz com que os casos não sejam denunciados nos canais oficiais. “Como eu vou numa delegacia de polícia denunciar a polícia?”, diz Marcelly.

A ativista diz que o vídeo denunciado nas redes pelo vereador do Psol a levou de volta aos dias em que ela também sofria agressões da polícia. A diferença principal era que as memórias dela vêm dos dias de ditadura militar no país. “A primeira vez que eu fui presa, eu perguntei porque estava sendo levada. Veio a Polícia Civil, que era a que mais prendia e simplesmente nos levou”, conta. “Quando eu vi o vídeo, eu não acreditei no que estava vendo, perguntei quando tinha acontecido aquilo”.

No governo de Olívio Dutra (PT), no final dos anos 1990, Marcelly trabalhou como instrutora da Academia de Polícia – tanto com a Brigada Militar, quanto com a Civil – para ensinar aos policiais como fazer abordagem de travestis e trans corretamente. Segundo ela, a resistência vinha mais de mulheres policiais do que homens. “Lembro que um dia, uma delas me disse assim: ah, Marcelly, mas vocês querem que a gente entregue rosas para vocês durante a abordagem? Eu disse que não, mas queria que fizessem abordagem digna de qualquer cidadão ou cidadã. Não é quebrar salto de travesti, jogar as bolsas no chão e esvaziar”, lembra.

Os resultados, porém, foram positivos na avaliação dos próprios alunos. Ela lamenta que a iniciativa não tenha seguido dentro da corporação. “[Os alunos] diziam: isso deveria ter acontecido há 15 anos, hoje a gente teria uma polícia mais humanizada. Eu nunca mais esqueci essas frases e era verdade. Eu viajei o Brasil inteiro para sensibilizar essas pessoas que nós somos iguais a qualquer outra pessoa”.

Nesta quinta-feira, ouvidora geral da Defensoria Pública Estadual, Patricia Couto, recebeu o vereador Robaina com a denúncia e também passa a acompanhar as investigações do caso.


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