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31 de outubro de 2016
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21:22

‘Está na hora de acabar com esta brincadeira’, diz governador do Paraná

Por
Sul 21
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Estudantes pedem que apoiadores se dirijam para escolas para evitar ações truculentas | Foto: Frédi Vasconcelos
Estudantes pedem que apoiadores se dirijam para escolas para evitar ações truculentas | Foto: Frédi Vasconcelos

Frédi Vasconcelos

Da RBA

Entrevistado na hora em que votava, no domingo (30), o governador Beto Richa (PSDB) deu a senha para a repressão contra os estudantes que estão ocupando cerca de 800 escolas no Paraná. “Está na hora de acabar com essa brincadeira”, disse. Na entrevista, à rádio CBN Curitiba, afirmou que a Polícia Militar está monitorando ocupações para “manter a ordem e paz” e que acompanhou a presença de militantes do Movimento Brasil Livre (MBL) em algumas escolas. “Assisti também a vídeos mostrando a participação deles conversando com alunos, até houve confronto e agressões físicas numa determinada escola, mas, enfim, a polícia, a segurança e a polícia vai (sic) procurar mediar e resolver esses conflitos…”

O modo como vai atuar nessa “mediação” já pôde ser visto na semana passada. Na quinta-feira (27), membros do MBL invadiram o Colégio Lysimaco Ferreira da Costa, na Água Verde, bairro nobre da capital curitibana. Segundo o advogado Vitor Leme, que defende alunos ocupantes, o diretor da escola facilitou a ação. “No momento em que o diretor disse que queria dialogar, ele foi autorizado a entrar e abriu o portão para deixar membros do MBL entrarem e causarem confusão aqui dentro. Aconteceram ameaças morais e de agressão física. Os alunos se trancaram dentro do prédio e a PM entrou e tirou os integrantes do MBL”, afirmou Leme ao Paraná Portal. “Eu e mais dois alunos fomos agredidos quando tentamos entrar. Me bateram, puxaram meu cabelo”. No final, a PM escoltou os membros do MBL para fora da escola e garantiu a segurança deles.

No dia seguinte, o MBL convocou novamente “militantes”. O alvo seria o Colégio Estadual Pedro Macedo, próximo ao local do dia anterior. Avisada, a reportagem da RBA, que acompanhava a tentativa de desocupação do Colégio Estadual do Paraná por parte da PM, se dirigiu para a outra escola. Por volta das 18h, o MBL programou a desocupação para as 18h30. Havia cerca de 50 pessoas do lado de fora. Do MBL, apenas um caminhão de som parado por perto. O número de defensores da ocupação foi aumentando e, por volta das 19h30, havia mais de 200 pessoas à frente dos portões da escola. O MBL não apareceu. Mas novas “desocupações” estão sendo programadas e convocadas pelo “movimento” para esta semana.

Os alunos relataram que sofrem pressões de pessoas do bairro e de outros estudantes | Foto: RBA
Os alunos relataram que sofrem pressões de pessoas do bairro e de outros estudantes | Foto: RBA

Se essa tática vem sendo combatida, outros métodos menos sutis estão sendo utilizados. Os alunos do Colégio Estadual Teotônio Vilela, na Cidade Industrial, periferia de Curitiba, relataram à reportagem que estavam sofrendo pressões de pessoas do bairro e mesmo de outros alunos, que ameaçavam desocupar a escola nesta segunda-feira (31).

No domingo, um secundarista foi agredido quando saiu da escola. Apanhou muito, ficou bem machucado. Apesar de ele querer continuar, os outros membros da ocupação decidiram encerrar o movimento. Isso, de acordo com palavras deles, depois de terem resistido por três semanas passando frio e até fome. “Na primeira semana, por exemplo, a gente só tinha pão, salame e mortadela para comer. Foi uma felicidade quando conseguimos abrir a cozinha da escola e começar a cozinhar, até o cheiro do alho e da cebola sendo fritos nos enchiam de alegria”, disse um deles.

Reintegração de posse

Nesta segunda devem voltar as reintegrações de posse das escolas determinadas pela Justiça do Paraná. Na sexta-feira, apesar do recesso por conta do dia do funcionário público, oficiais de Justiça com auxílio da PM tentaram retomar o Colégio Estadual do Paraná, a maior escola do estado e símbolo das ocupações. A ocupação foi mantida. Mas o governo estadual pretende executar a liminar dada pela juíza Patrícia de Almeida Gomes Bergonese, da 5ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba.Por sua decisão, 25 colégios estaduais devem ser reintegrados pelo Estado, inclusive com o uso da força. Para ela, a medida é necessária “para garantir o restabelecimento do direito à educação, ao trabalho e à proteção da criança e do adolescente. O pedido de liminar foi feito pelo governo do estado, alegando que além dos riscos aos quais às crianças estão submetidas, há também a proibição da entrada de professores e funcionários, que não podem trabalhar devido às manifestações.


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