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18 de maio de 2015
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20:48

Novas gerações precisam aprender a acolher imigrantes, defende diretor de ONG

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Sul 21
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Novas gerações precisam aprender a acolher imigrantes, defende diretor de ONG
Novas gerações precisam aprender a acolher imigrantes, defende diretor de ONG
Imigrantes haitianos participam de lançamento de projeto da ONG Viva Rio em parceria com a Escola Municipal Haiti, em QuintinoTomaz Silva/Agência Brasil
Imigrantes haitianos participam de lançamento de projeto da ONG Viva Rio em parceria com a Escola Municipal Haiti, em Quintino Tomaz Silva/Agência Brasil

Vinícius Lisboa

Da Agência Brasil

Uma das datas mais importantes para os haitianos, o Dia da Bandeira do Haiti, foi comemorado nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro, em uma ação da organização não governamental (ONG) Viva Rio na Escola Municipal Haiti, no bairro de Quintino, na zona norte.

A escola promoveu uma série de atividades pedagógicas, que incluíram aulas sobre a história do país caribenho, e recebeu a visita de haitianos e do embaixador do Haiti no Brasil, Madsen Chérubin, além do jogador de futebol Zico, ex-aluno da unidade de ensino.

O embaixador do Haiti elogiou o projeto, por levar informações sobre o país aos alunos da escola pública.”Fico honrado de participar. Acho que é uma maneira de fazer conhecer melhor o Haiti e talvez ver semelhanças com nossa história, que faz parte do conjunto da história de toda a nossa América”, disse Madsen Chérubin.

Para o embaixador, o Haiti ficou mais conhecido no Brasil depois do terremoto de janeiro de 2010 e também pela presença das tropas brasileiras e da migração haitiana. “Mas tem algo que a gente gostaria de exaltar, que é a nossa história, que tem que ver com o caminho da liberdade em nosso continente”, disse Madsen Chérubin.

Para o diretor executivo da ONG Viva Rio, Rubem César Fernandes, o Rio de Janeiro precisa de maior consciência para lidar com a imigração. “A gente não tem uma experiência direta de migração recente. Não temos uma consciência forte de como tratar o migrante.”

Rubem defendeu que o caminho para melhorar esse cenário é investir nas novas gerações, a fim de preparar a população para a chegada cada vez maior de estrangeiros. “Não só haitianos, mas também da África e do Oriente Médio. O país ainda é procurado porque, apesar de tudo, não tem guerra civil, nem guerra com os vizinhos. E o Brasil é um país aberto.”

O ex-jogador de futebol Zico, que estudou na escola na década de 60, também participou da homenagem e causou um verdadeiro alvoroço entre os alunos. Para Zico, os brasileiros são um povo acolhedor e, com mais informações, poderão dar uma recepção melhor aos haitianos. “Acho que qualquer problema com o ser humano é sempre complicado. Se a gente puder acolher de uma forma humana e civilizada, é sempre bom.”

Nascida no Haiti, a estudante da UFRJ Marina Mathieu acredita que o brasileiro não tem preconceito especificamente com o povo haitiano. Na avaliação dela, ao chegar ao Brasil, a pessoa nascida no Haiti, muitas vezes negra, enfrenta o preconceito racial. “A discriminação não é contra os haitianos, mas contra as pessoas negras no geral. E isso é no mundo, e não é só no Brasil.” Ela considera que, no caso das mulheres, o problema tem agravante. “A percepção da mulher negra é muito sexualizada, é de que ela está aqui para ser o bumbum, para o ser exotismo. Aqui, e no Haiti, a cultura machista está muito forte”.

No Brasil há quatro anos, Robert Montinard concorda que os haitianos não sofrem preconceitos específicos contra eles. Adepto do movimento rastafári, ele afirma que sempre sofreu com discriminação no Haiti e, ao chegar ao Brasil, o problema não cessou. “O racismo aqui é mais pela cor da pele e pelo lugar onde você mora. Se é na favela ou na zona sul. No Haiti, o preconceito é contra quem não tem dinheiro.”

Conhecido como Bob, Robert Montinard trabalha como voluntário na ONG Viva Rio ajudando os haitianos a lidar com questões burocráticas, como tirar documentos e traduzir certificados. De acordo com ele, ao chegar ao país, muitos se decepcionam ao ver que não terão condições de mandar dinheiro para a família. “Eles chegam aqui e veem que, com um salário mínimo, não conseguem ter uma casa e mandar dinheiro para a família toda semana.”

Estudante de ciência da computação, Ludger Jean Louis, também haitiano, conta que a falta de intimidade com a língua e a cultura deixa os haitianos tímidos quando chegam ao Brasil, mas, ao se encontrarem uns com os outros, eles sentem como se estivessem diante de um parente mesmo sem nunca ter visto seus compatriotas. “A vontade é de abraçar mesmo sem nem conhecer. Sempre nos reunimos e é uma grande festa”, relatou ele, que vai se mudar para o Paraná onde viverá perto do irmão, que vai estudar em uma universidade de Foz do Iguaçu. “Já que estamos longe da família, é melhor ficarmos juntos.”


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