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12 de fevereiro de 2015
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20:21

“Nós não vamos recuar”, diz militante condenado por “depredação” em protesto de 2013

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Sul 21
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“Nós não vamos recuar”, diz militante condenado por “depredação” em protesto de 2013
“Nós não vamos recuar”, diz militante condenado por “depredação” em protesto de 2013

Débora Fogliatto

Uma semana antes do primeiro protesto contra um novo aumento nas tarifas de ônibus, foi divulgada a primeira condenação judicial de um militante envolvido nas manifestações de 2013. Vicente Mertz, membro da Federação Anarquista Gaúcha (FAG), foi considerado culpado por crime ambiental e dano ao patrimônio público, recebendo pena de um ano e meio de prisão, que pode ser revertida em trabalho comunitário.

Vicente Mertz participou das manifestações de 2013 | Foto: Divulgação/Facebook
Vicente Mertz participou das manifestações de 2013 | Foto: Divulgação/Facebook

Vicente é réu em dois processos e foi condenado pelo primeiro, referente a um ato que ocorreu no fim de março, em frente à Prefeitura. Na ocasião, após uma militante ser levada de forma abrupta pela Guarda Municipal para dentro do prédio, centenas de pessoas foram até a porta, forçando-a, para pedir que a jovem retornasse. “A prova que eles têm é uma filmagem em que estou junto com centenas de outras pessoas em frente à porta. Não tem nenhuma imagem minha, de fato, destruindo a porta”, analisa ele.

Inicialmente, Vicente havia sido acusado também de formação de quadrilha, em conjunto com outras 12 pessoas que faziam parte do processo. Com o passar do tempo, as outras acusações foram arquivadas, exceto a dele. Agora, no entanto, outros dois nomes foram anexados ao processo.

Há ainda um outro processo, referente a um protesto de junho, que aguarda julgamento. Deste, fazem parte Vicente e outros seis militantes que estiveram presentes nas manifestações. Esta acusação é mais extensa e inclui formação de quadrilha armada, além de porte de explosivos, furto qualificado, dano simples e qualificado e lesão corporal.

Para este outro processo, a polícia revistou a sede da FAG e o Centro de Cultura Libertário, confiscando livros, manifestos, textos e materiais em geral sobre o anarquismo. “Se fizermos um exercício de memória vamos lembrar das próprias declarações da época, do chefe da Brigada Militar e do governador, de que os partidos políticos não eram o problema, o problema eram os ‘anarquistas e fascistas’, colocando tudo no mesmo saco, dizendo que promoveriam ações violentas”, afirma Vicente.

Ele também menciona o fato de o comunicado de sua condenação ter acontecido uma semana antes do primeiro protesto, o que faz com que pareça uma tentativa de intimidação. No entanto, outro ato acontece nesta quinta-feira (12), a partir das 18h. O próprio Vicente não considera que deva parar de ir às manifestações. “Pretendo continuar, é um direito constitucional que eu tenho. Isso está sendo uma deturpação completa da Justiça. E se a intenção deles é nos calar para garantir os lucros das empresas, sinto dizer que vão ser mal sucedidos. Nós não vamos recuar”, garante.

Vicente fez um pedido de anulamento do processo e agora está recorrendo da decisão em segunda instância, o que deve levar um tempo para ser analisado. Mesmo com a possibilidade de cumprir a pena fazendo trabalhos comunitários, a manutenção da condenação faria com que ele não fosse mais réu primário, o impedindo de assumir cargos públicos, por exemplo.

Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Manifestação de 2013 na qual estava Vicente, condenado agora | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

“Não se intimidar”, diz nota da FAG

A Federação Anarquista divulgou uma nota de solidariedade a Vicente, em que considera que “o processo neste contexto busca ter o mesmo efeito de uma bala de borracha ou de uma bomba de efeito moral: uma tentativa de intimidar e frear as lutas nas ruas que ousam questionar os lucros dos empresários e os conchavos já evidente das empresas com os poderes públicos”.

Eles garantem que, apesar das tentativas de intimidação, “a luta e organização dos de baixo não começou hoje e também continuará. Mobilizam-se os jovens, os trabalhadores, os sem-tetos e as comunidades de periferia”. Por fim, expressam “solidariedade à todos e todas os companheiros e companheiras perseguidos por lutar”. Leia na íntegra.


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