Geral
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17 de fevereiro de 2015
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11:11

Bloco da ‘esquerda festiva’ leva mais amor ao Carnaval de Rua de Porto Alegre

Por
Sul 21
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Foto: Divulgação
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Da Redação

Na contramão da onda de ódio e do descrédito para com o sistema político brasileiro que emergiu no país nos últimos anos, um grupo de pessoas passou a ocupar a cidade de Porto Alegre para intervir na política de forma lúdica. Chamado de Bloco da Diversidade, o grupo surgiu em outubro de 2014 e se mantém como um movimento cultural independente e não alheio à conjuntura política. A proposta é levar mais amor para as ruas e intervir nos temas da política de forma inovadora e livre de organizações partidárias. Este ano, o bloco estreia na programação do cada vez mais consolidado Carnaval de Rua da capital gaúcha.

O desfile será no dia 28 de fevereiro (sábado), a partir das 16 horas, com saída da Ponte da Amizade (Ponte de Pedra), Centro de Porto Alegre. O local foi ocupado pelo grupo para os ensaios e tem um significado especial por ser o roteiro de estreia do bloco no carnaval portoalegrense. “Os blocos carnavalescos estão ligados ao conceito de ocupação dos espaços públicos. Estamos tentando revitalizar o Largo dos Açorianos, um espaço marginalizado e abandonado na cidade, com a ocupação de pessoas e a limpeza que fazemos antes e depois dos ensaios. Acreditamos que estamos contribuindo com a cidade e o carnaval”, comenta o estudante de Direito, Thiago Braga, um dos organizadores do Bloco.

Ensaios do Bloco da Diversidade ocorrem na Ponte da Amizade. Foto: Divulgação
Ensaios do Bloco da Diversidade ocorrem na Ponte da Amizade. Foto: Divulgação

No repertório do Bloco da Diversidade não tem espaço para letras preconceituosas ou discriminatórias. “Algumas marchinhas do Carnaval são muito machistas ou racistas. E nós aceitamos todas as formas de amor. Todos os casais que frequentam o bloco se sentem muito a vontade pra trocar afeto ou se beijar em público, não temos preconceito”, conta a estudante Alice Dutra.

A adaptação da letra de ‘Vale Tudo’, de Tim Maia traduz um pouco do DNA do Bloco da Diversidade. “Vale tudo, vale o que vier. Aqui pode dançar homem com homem e também mulher com mulher”, cantaram no ato de fundação. Um dos gritos de guerra no primeiro ato de rua do Bloco foi: “Eu beijo homem, beijo mulher.Tenho direito de beijar quem eu quiser”, contam os estudantes.

O grupo prefere fazer surpresa das músicas que levarão para o desfile deste Carnaval, mas pelo flashback de um dos principais cânticos do Bloco da Diversidade na última eleição, é possível perceber que não falta criatividade.

“Do PMDB Sartori é e diz que não é. E diz que não é.

Será que vai vir uma proposta, para índio ou pra negro ou mulher,

Será que vai vir pra cultura, mas isso eu não sei se ele quer,

Acha uma proposta dele, acha uma proposta dele.”  – marchinha adaptada durante a eleição de 2014 no RS.

 

Esquerda Festiva

Ocupação dos espaços públicos está na DNA dos blocos carnavalescos de Poa. / Foto: Divulgação
Ocupação dos espaços públicos está na DNA dos blocos carnavalescos de Poa. / Foto: Divulgação

Atualmente são 50 pessoas na organização do Bloco da Diversidade, número que aumenta consideravelmente quando o bloco vai para rua. “Nós temos moradores de rua que se integram ao bloco, travestis, transexuais. Temos até estrangeiros, como um francês que está emigrando para o RS e está aprendendo a tocar percussão conosco. Todos podem se integrar”, conta Thiago.

Ainda que se autodefinam como bloco de ‘esquerda festiva’ apartidária, o grupo possui integrantes com filiações partidárias. Mas tem claros seus princípios plurais e independentes. “O Bloco é de esquerda e, acima de tudo, luta em defesa da diversidade étnica, cultural, racial, de gênero e de orientação sexual, contra o racismo, o machismo e a homofobia. O Bloco não é burocrático ou engessado. É festivo!”, escrevem no perfil do Bloco no Facebook.

Por mais amor e discussões sobre comportamento nasce o Bloco da Diversidade./ Foto: Divulgação
Por mais amor e discussões sobre comportamento nasce o Bloco da Diversidade./ Foto: Divulgação

“A política partidária discute questões mais estruturais. Nós queremos dialogar sobre comportamento, como as questões sobre a autonomia do próprio corpo, discriminalização das drogas, e outros temas que encontram eco na juventude atual”, conta Alice Dutra.

A organização se dá por Grupos de Trabalho (GT), divididos em quatro temas: Musical, Ornamentação, Comunicação e Infraestrutura. Todos se organizam em grupos no Facebook e no WhatsApp e novas pessoas podem participar, basta comparecer em uma das reuniões abertas.

A intenção do Bloco da Diversidade é que o ano de 2015 seja de consolidação do movimento. “Nós temos parcerias com carnavalescos e não fizemos o desfile de blocos convencional. Estamos levando bateria completa pra este desfile. Nossa intenção é fazer oficinas itinerantes, em diferentes espaços públicos ao longo do ano para ensinar quem quiser aprender a tocar algum instrumento de bateria”, explica Thiago Braga.


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