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18 de janeiro de 2019
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13:18

Por que as ações da Taurus caíram, em vez de subir, após o decreto de Bolsonaro?

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Sul 21
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Por que as ações da Taurus caíram, em vez de subir, após o decreto de Bolsonaro?
Por que as ações da Taurus caíram, em vez de subir, após o decreto de Bolsonaro?
Taurus opera em prejuízo e enfrenta processos judiciais fora do país / Maurilio Cheli/SMCS

Rafael Tatemoto
Brasil de Fato

A empresa brasileira de armamentos Taurus, com sede em São Leopoldo (RS), viu o valor de suas ações despencar justamente após a assinatura do decreto governamental que flexibilizou a posse de armas no país. A aparente contradição suscitou hipóteses por parte da imprensa especializada e de economistas. A mais forte delas é a de que a oscilação é fruto da própria dinâmica de especulação do mercado.

Outras duas explicações surgiram: a de frustração com o conteúdo do decreto – que poderia ser mais abrangente – e a de reação à declaração por parte do governo sobre a possibilidade de instalação de fábricas de marcas estrangeiras no país. Paulo Kliass, doutor em Economia, avalia que nenhuma delas é relevante.

Kliass entende que o mercado acionário brasileiro é “bastante restrito”, com poucos investidores se comparado a outros países, o que faz com seja relativamente difícil estabelecer relações entre o mundo político e a variação de valores. Na interpretação dele, o movimento seguiu a lógica usual de funcionamento da área.

“É uma natureza basicamente especulativa. Ano passado, houve uma aposta de que a candidatura de Bolsonaro teria um resultado positivo. Ou que a composição do Congresso seria favorável a mudanças legislativas. Isso já sugere algum grau de especulação”, exemplifica.

Durante a campanha presidencial de Jair Bolsonaro (PSL), as ações da Taurus tiveram uma valorização expressiva, apesar dos prejuízos registrados pela companhia em 2018. Nos primeiros dez dias de janeiro, os papéis da empresa tiveram alta de mais de 90%.

Kliass explica que, mesmo “não se sabendo exatamente quem está por trás desse movimento”, os “profissionais do mercado” captaram a tendência. Enquanto alguns decidiram investir na Taurus na expectativa de que a empresa teria maiores lucros a partir do decreto, os investidores especulativos, capazes de ditar as tendências de mercado, esperaram o ponto máximo de valorização –  a manhã de terça-feira (15), dia da assinatura – para vender. Em outras palavras, compraram com valores baixos e venderam com valores altos, “realizando o lucro especulativo”.

A lógica especulativa, lembra Kliass, não impede que estes vendedores, que podem ter contribuído para a desvalorização, passem a recomprar as ações com a expectativa de nova alta, para revendê-las mais uma vez.

Apesar das críticas da chamada “bancada da bala”, o economista descarta que os grandes especuladores tenham se frustado com o conteúdo do decreto. Mesmo a proposta do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), de liberar a entrada de marcas estrangeiras e quebrar o monopólio da Taurus é ainda, segundo Kliass, incapaz de influenciar a oscilação.

“Tecnicamente quebrada”

“Sobe no boato, cai no fato”. Esse é um ditado comum no mercado de ações, que se encaixa precisamente na situação da Taurus.

Operadores do mercado financeiro ouvidos pelo Brasil de Fato sob condição de anonimato confirmam que o fator preponderante para a variação de preços das ações foi resultado da ação especulativa, baseada na “venda de curto prazo”, ainda que apontem o desapontamento com o teor do decreto como outra variável: “A expectativa política sobre o decreto fez com que especuladores achassem que era uma boa hora para ganhar dinheiro”.

Avaliações do estado financeiro da Taurus, para além do caixa operando no vermelho em 2018, fazem com que alguns classifiquem a companhia como “tecnicamente quebrada”. “[Apresenta] prejuízo há vários trimestres seguidos, tem patrimônio líquido negativo, dívida de curto prazo altíssima e de longo prazo grande também”, afirma uma das fontes.

A situação da Taurus foi agravada por processos judiciais fora do país, que resultaram em um acordo para pagamento nos EUA por conta do mau funcionamento das armas produzidas pela empresa.

Em tese, quem desconhecia essas nuances comprou ações da Taurus em meio à “empolgação” do decreto, mas passou a vendê-las na primeira oportunidade, ao saber que a saúde financeira da empresa estava comprometida.


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