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14 de novembro de 2017
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15:31

Desemprego entre negros é 60% maior do que entre não negros na Região Metropolitana, aponta FEE

Por
Luís Gomes
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Iracema Castelo Branco (esq.) e Virgínia Donoso apresentam os resultados da pesquisa | Foto: Maia Rubim/Sul21

Luís Eduardo Gomes*

Em parceria com o Dieese e com a FGTAS, a Fundação de Economia e Estatística (FEE) divulgou nesta terça-feira (14) os indicadores da inserção dos negros no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em 2016, que apontam para um aumento nos números de desemprego acima do restante da população. Segundo o estudo, o desemprego entre negros economicamente ativos chegou a 16,1%, em 2016, enquanto entre os não negros atingiu a marca de 9,9%.

Segundo a pesquisa, a taxa de desemprego total aumentou de 12,6% para 16,1% entre 2015 e 2016 para os negros, e de 8,1% para 9,9% para os não negros, no mesmo período, o que demonstra que o desemprego atingiu de forma mais acentuada os negros no período. A economista da FEE Iracema Castelo Branco, Supervisora do Centro de Pesquisa de Emprego e Desemprego, afirma que diante da crise que atingiu o País nos últimos anos, em um primeiro momento, em 2015, afetou principalmente homens que possuíam um rendimento mais elevado, dando início a um processo de rotatividade, com a substituição desses por um número menor de trabalhadores e com um salário menor.

“No ano de 2016, a gente também tem esse processo, mas a gente já tem uma quantidade maior de pessoas no desemprego. Então, os empregadores têm muito mais opção, tem uma quantidade maior de pessoas para selecionar. Como o brasileiro historicamente carrega, de forma mascarada, uma discriminação em termos racial, na hora de contratação você vai ter uma escolha maior pela população não negra. Então, os negros acabam ficando mais tempo no desemprego”, avalia Iracema.

No recorte por sexo, a taxa de desemprego das mulheres negras aumentou de 12,8% em 2015 para 16,6% em 2016. Entre os homens negros, houve aumento de 12,4% para 15,5%. Para a população não negra, a taxa de desemprego das mulheres aumentou de 8,5% para 10,4%, enquanto a dos homens passou de 7,8% para 9,6%.

Segundo a posição na ocupação, houve queda na maioria das formas de contratação, com destaque para o trabalho assalariado no setor privado com carteira assinada e o serviço público. A análise por gênero revela que a redução do nível ocupacional entre as mulheres negras se deu principalmente no trabalho assalariado com carteira assinada no setor privado (menos 10 mil, ou -16,9%) e no serviço público (menos 3 mil, ou -21,4%). Entre os homens negros, a redução do nível ocupacional foi acentuada no segmento assalariado do setor privado com carteira (menos 17 mil, ou -22,4%) e também no serviço público (menos 5 mil, ou -41,7%). Para os não negros, a maior redução relativa ocorreu no serviço público (menos 13 mil, ou -6,9%), e o crescimento percentual mais expressivo foi no serviço doméstico (mais 2 mil, ou 2,8%), observado apenas entre as mulheres.

A pesquisa também aponta que o recente aumento do desemprego, especialmente nos últimos dois anos, reverteu uma tendência registrada nos anos 2000 de queda nos números totais de desemprego e também queda da desigualdade nos índices de desemprego entre negros e não negros, ainda que os negros historicamente apresentem taxas maiores de desocupação.

“Nós estávamos gerando postos de trabalho com carteira assinada, que são de melhor qualidade, e, além disso, estávamos reduzindo as desigualdades entre negros e não negros. Embora historicamente os negros já ocupassem postos de trabalho mais precários. As mulheres negras estão muito mais presentes no emprego doméstico, comparativamente com as mulheres não negras. Para os homens, eles estão muito mais presentes na construção como trabalho braçal, enquanto o não negro é engenheiro, está em outras ocupações de melhor qualidade. Quando a gente tem períodos de intensa recessão econômica e de piora dos indicadores no mercado de trabalho, isso se dá de forma mais intensa para as populações consideradas mais vulneráveis, ou seja, para os negros, para as mulheres e os jovens”, afirma a economista da FEE.

Coletiva da FEE apresentou dados sobre a população negra no mercado de trabalho | Foto: Maia Rubim/Sul21

Queda na renda 

A pesquisa também aponta queda mais acentuada na renda dos negros na comparação quanto não negros. Em valores monetários, o rendimento médio real caiu de R$ 1.652 para R$ 1.485 para os negros (-10,1%); e de R$ 2.203 para R$ 2.025 para os não negros (-8,1%). De acordo com o recorte por sexo, em 2016, a queda dos rendimentos foi mais intensa para os homens negros (-14,1%) do que para as mulheres negras (-3,4%). “Esse fenômeno tem relação com o fato de as mulheres negras já ganharem perto do rendimento mínimo”, disse. Entre a população não negra, a redução do rendimento médio real foi mais acentuada para as mulheres (-8,2%) do que para os homens (-7,7%).

Já o número médio de horas semanais trabalhadas manteve-se estável para os negros (41 horas) e aumentou em 1 hora para os não negros (de 41 para 42 horas) entre 2015 e 2016. A proporção de negros ocupados que contribuía para a Previdência Social declinou de forma intensa, passando de 82,6%, em 2015, para 77,5%, em 2016. Entre os não negros, a queda deste indicador foi menos acentuada, de 84,6%, em 2015, para 83,8%, em 2016. Segundo Virgínia Donoso, economista do Dieese, “ampliou-se o hiato entre negros e não negros ocupados quanto à cobertura previdenciária, em detrimento dos primeiros, o que indica uma inserção mais precária da população negra no mercado de trabalho”.

*Com informações da FEE

 


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