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9 de junho de 2015
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22:20

Venda do HSBC deve aumentar concentração do mercado bancário no Brasil

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Sul 21
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Venda do HSBC deve aumentar concentração do mercado bancário no Brasil
Venda do HSBC deve aumentar concentração do mercado bancário no Brasil
Na manhã desta terça-feira, o SindBancários realizou um ato em defesa dos empregos e contra a precarização do atendimento aos clientes do HSBC.  (Foto: Divulgação/SindBancários)
Na manhã desta terça-feira, o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) realizou, na Superintendência Regional do HSBC, um ato em defesa dos empregos e contra a precarização do atendimento aos clientes do banco. (Foto: Divulgação/SindBancários)

Marco Weissheimer

O que vinha sendo tema de especulações e pequenas notas na imprensa nas últimas semanas, materializou-se nesta terça-feira (9) com o anúncio feito em Londres pela direção do HSBC, informando a decisão de vender suas operações no Brasil e na Turquia. Segundo comunicado divulgado pela direção do banco no Brasil, “o HSBC está em processo de venda e não de encerramento de suas operações no País”. O banco, assegura o comunicado, “seguirá operando normalmente e, mesmo após a venda, seguirá prestando serviços aos seus clientes”. A nota informa ainda que o banco “está empenhado em garantir a continuidade do negócio e uma transição suave e coordenada para um potencial comprador”. Os dois principais potenciais compradores seriam o Bradesco e o Santander. A operação de venda do HSBC deve aumentar o processo de concentração do mercado bancário no país.

Segundo o anúncio feito pela direção da instituição, em Londres, o objetivo da venda das operações do banco no Brasil e na Turquia é gerar uma economia de até US$ 5 bilhões. O banco planeja reduzir em cerca de 50 mil o número de seus funcionários no mundo inteiro para atingir essa meta. Ainda segundo o HSBC, não ocorrerão demissões. Esses funcionários deixariam de pertencer aos quadros do banco e, depois da venda, passariam a integrar a nova instituição bancária resultante desta operação. Não há garantia, porém, de que não ocorram demissões após a venda.

Embora mencione o que classifica como “pequena abertura do Brasil ao mercado internacional”, o comunicado do HSBC reconhece que tem problemas de escala para atuar no mercado brasileiro. O banco teria de multiplicar por seis o total de investimentos para ingressar no grupo dos três maiores bancos privados brasileiros, hoje formado por Itaú, Bradesco e Santander. Os limites e dificuldades do HSBC para atuar no mercado brasileiro não chegam a ser uma novidade e vinham se manifestando nos últimos anos por meio de medidas como o fechamento e a fusão de agências.

O banco conta hoje com cerca de 850 agências e 21 mil funcionários no país. Para se ter uma ideia mais clara do que significa o problema de escala, o Bradesco tinha cerca de 4.650 agências no final de 2014, e o Itaú, 4.143. No Rio Grande do Sul, segundo estimativas do Sindicato de Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários), o HSBC tem 50 agências e cerca de 500 funcionários.

O banco, conforme informou nesta terça-feira o SindBancários, tem recorrido ao fechamento e fusão de agências bancárias para reduzir custos. Desde 2013, três agências foram fechadas na área de abrangência do sindicato: as agências Partenon e Sertório, em Porto Alegre, e a agência de Alvorada. Ainda segundo o sindicato, em 2014, o banco registrou prejuízo e os funcionários não receberam a Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

Ato em defesa dos empregos e dos clientes

Na manhã desta terça-feira, o SindBancários realizou um ato em defesa dos empregos e contra a precarização do atendimento aos clientes do HSBC. O ato paralisou, das 10 às 11 horas, a Superintendência Regional do banco, localizada no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. “Estamos aqui para dizer aos clientes que não vamos admitir que o banco deixe o país, feche agências e deixe trabalhadores e clientes na mão”, disse o presidente do sindicato, Everton Gimenis. A direção precisa garantir, por meio de compromisso, que vai manter empregos. Na mesma linha, Ademir Wiederkehr, diretor do sindicato e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS), disse que as entidades da categoria lutarão para que “os empregos sejam mantidos e que não haja nenhum prejuízo a trabalhadores e clientes”.

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e os sindicato dos Bancários de São Paulo e de Curitiba se reunirão com a direção do HSBC, na manhã desta quarta-feira (10), em São Paulo, para discutir a venda do banco e o risco de demissões no Brasil. A direção da Contraf divulgou nota, assinada pelo presidente da entidade, Roberto von der Osten, sustentando que “o HSBC deveria ser mais cuidadoso na concessão de entrevistas sobre o assunto, a fim de que o clima de insegurança não se espalhe entre a clientela e os trabalhadores do banco”. Após a divulgação da decisão da direção do banco de encerrar suas atividades no Brasil, ocorreram manifestações de funcionários do HSBC em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Recife e Salvador, entre outras cidades.

Maior concentração do mercado bancário

Em entrevista à Agência Brasil, Jorge Hereda, ex-presidente da Caixa e atual secretário de Desenvolvimento Econômico da Bahia, disse que a venda do HSBC vai aumentar a concentração do mercado bancário brasileiro, mas não deve causar nenhum problema mais sério no funcionamento do setor. “O mercado brasileiro é lucrativo e os bancos têm resultados muito bons. Portanto, isso deve ser uma decisão global que não leva em consideração o potencial do mercado brasileiro”, afirmou Hereda.

Apesar do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) (menos de 1%), o lucro dos três maiores bancos privados do país cresceu 27% entre janeiro e setembro de 2014. Isso representou um aumento de aproximadamente R$ 27,4 bilhões na soma dos resultados obtidos por Itaú, Bradesco e Santander.

Em abril de 2014, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou um estudo alertando para os riscos da crescente concentração no setor bancário no mundo. Segundo o estudo, o número de bancos vem caindo em diversos países. No Brasil, os ativos totais dos três maiores bancos passaram de 35% para 55%, de 2006 até 2012. Em outros países, essa concentração é ainda maior, chegando a superar a casa dos 60% dos ativos, como ocorre no Canadá, na Espanha e na França. “O alto grau de concentração traz um alto grau de potencial risco sistêmico. Problemas ou a falência de um ou três maiores bancos podem desestabilizar todo o sistema financeiro”, advertiu o FMI no estudo.


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