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19 de julho de 2014
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11:30

Final de semana dedicado à economia solidária em Santa Maria

Por
Sul 21
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A feira, que comercializa produtos ecológicos e artesanatos, reúne 800 grupos dos 27 estados brasileiros e de 20 países |Foto Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança
A feira, que começou na tarde de sexta e comercializa produtos ecológicos e artesanatos, reúne 800 grupos dos 27 estados brasileiros e de 20 países |Foto Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança

Jaqueline Silveira*

Uma diversidade de culturas, de povos e de produtos ecológicos. É o que oportuniza a 21ª Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop) e 10ª Feira Latino-americana de Economia Solidária, que começou na tarde de sexta-feira (18) e vai até domingo (20) em Santa Maria, Região Central. Os dois eventos, que ocorrem no Centro de Referência em Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter, reúnem 800 grupos dos 27 estados brasileiros e de 20 países, como Espanha, França, África, Argentina, Bolívia, Uruguai, Paraguai, Peru, Chile, Equador e Colômbia. Até o encerramento, cerca de 200 mil pessoas devem visitar as feiras, que funcionam das 7h30min às 20h e a entrada é gratuita. A Caminhada Internacional e Ecumênica pela Paz e Justiça Social, que está em sua décima edição, até o Centro de Referência abriu a Feicoop na sexta-feira.

“A economia solidária é um movimento mundial que pensa em outro mundo possível, do bem viver. Pensa no consumo e na produção sustentável”, explica a coordenadora da Feicoop, irmã Lourdes Dill, sobre a proposta da feira. Dentro desse contexto proposto pelo evento, são comercializados produtos ecológicos da agricultura familiar e da economia solidária. Ao mesmo tempo, são incentivados o “comércio justo e o consumo ético e solidário”. Na Feicoop, por exemplo, não há consumo de cigarros e não é comercializado água, uma vez que, pela prática da economia solidária, ela é tratada “como um bem universal e um patrimônio da humanidade”. Também não há venda de refrigerantes.

Nos pavilhões, os visitantes encontrarão uma diversidade de produtos. Ao total são cerca de 10 mil. Os artesanatos estão entre eles. Lindi e Denise Oliveira, por exemplo, participam do “Projeto Mulheres que Bordam e Geram Renda” e irão comercializar os tradicionais bordados de filé de regiões pesqueiras de Alagoas, Região Nordeste. No estande, há colchas, toalhas, vestidos, saias, saídas de banho, xales e lenços.

“Este é o quarto ano que venho na feira. Este é um local de solidariedade, conhecimento e aprendizado. Quem vem sempre quer voltar”, destaca Lindi, que integra a Cooperativa dos Artesãos da Barra Nova, de Alagoas. “Fiquei impressionada com a diversidade de povos nos pavilhões da feira. Além disso, o acolhimento das pessoas aqui, de Santa Maria, é muito bom”, completa Denise, que participa pela primeira vez da Feicoop.

As artesãs Landi e Denise  trouxeram os tradicionais  bordados de Alagoas para a Feicoop| Foto: Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança
As artesãs Landi e Denise trouxeram os tradicionais bordados de Alagoas para a Feicoop| Foto: Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança

Já de Osasco, região metropolitana de São Paulo, vieram 25 artesãos pertencentes à Rede Ecosol, motivados pela troca de experiências e também pela comercialização dos produtos que confeccionam. “Eu confecciono brinquedos educativos e moda para casa, mas a venda não é nosso objetivo principal aqui em Santa Maria. A troca de saberes e a aquisição de conhecimento com outras experiências em Economia Solidária são os nossos principais objetivos”, ressalta a artesã Maurisa di Betta.

Maurisa di Bettsa veio de Osaasco, São Paulo, expor e trocar experiências|Foto: Maiquel Rosauro/ProjetoEsperança/Cooesperança
Maurisa di Bettsa veio de Osasco, São Paulo, expor e trocar experiências|Foto: Maiquel Rosauro/ProjetoEsperança/Cooesperança

MST – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) também está presente na Feicoop.  Um túnel com produtos e vários banners resgatam os 30 anos de história do MST. Também está em exposição um barracão, com fogão de tijolo e uma tarimba (cama feita de taquara). “Estou há cinco anos acampado em Santa Vitória do Palmar (Região Sul). Este barracão é bem fiel aos que temos no acampamento”, conta o agricultor Ederli Zimermann.

Além de resgatar os 30 anos do movimento, o MST levou produtos da agricultura familiar|Foto: Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança
Além de resgatar os 30 anos do movimento, o MST levou produtos da agricultura familiar|Foto: Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança

Percentual de vendas  – Toda a estrutura da 21ª Feicoop foi montada com ajuda de 120 voluntários, que na maioria são expositores de Santa Maria. Todos os grupos participantes do evento, de acordo com a irmã Lourdes, destinam 5% da venda bruta à feira. A religiosa diz que os expositores de fora gastam com passagens e hospedagem, por isso destinam o mesmo percentual dos de Santa Maria.

A Feicoop é promovida pelo Projeto Esperança/Cooesperança, Arquidiocese de Santa Maria, prefeitura e Banco da Esperança e tem o patrocínio de órgãos e instituições públicas.

Paralelo à Feicoop, ocorre o Levante da Juventude com a participação de 500 jovens|Foto: Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança
Paralelo à Feicoop, ocorre o Levante da Juventude com a participação de 500 jovens|Foto: Maiquel Rosauro/Projeto Esperança/Cooesperança

Levante – Além da comercialização de produtos da agricultura familiar e de grupos de economia solidária, durante os dias de feira são realizados seminários, oficinas e apresentações culturais. Paralelo ao evento, ocorre o 10º Acampamento Estadual do Levante Popular da Juventude, que reúne 500 jovens. Eles ficam alojados na Escola Irmão José Otão, próxima ao Centro de Referência Dom Ivo Lorscheiter.

Feicoop cresceu com o tempo

A Feicoop surgiu a partir de iniciativas comunitárias, coordenadas pelo Projeto Esperança/Cooesperança, comandado pela irmã Lourdes Dill. Implantado há 30 anos, esse modelo alternativo hoje atinge 34 municípios e beneficia 5 mil famílias. Os agricultores, que se organizam em grupos, cultivam produtos ecológicos que são destinados ao programa Cozinhas Comunitárias e ao Restaurante Popular e são comercializados em feirões. “Os projetos alternativos se tornaram uma política pública  e a renda vem da oportunidade que os agricultores têm. Não tem patrão nem empregado”, explica irmã Lourdes.

O evento, que começou em 1994, foi gradativamente ganhando projeção e ultrapassou as fronteiras do país|Foto:Dilvulgação Projeto Esperança/Cooesperança
O evento, que começou em 1994, foi gradativamente ganhando projeção e ultrapassou as fronteiras do país|Foto:Dilvulgação Projeto Esperança/Cooesperança

Com base nessa experiência, foi organizada a feira. Inaugurado em 1994, o evento cresceu gradativamente: ganhou projeção nacional, depois foi ampliado para países do Mercosul e agora alcança o cenário latino-americano. “A feira sempre foi dando um passo a mais”, acrescenta a coordenadora do projeto Esperança/Cooesperança. E conclui: “Não existe economia solidária sem política pública”.

Liderança representativa

À medida que o projeto Esperança/Cooesperança se consolidava, crescia a liderança da irmã Lourdes Dill em Santa Maria e, como consequência, no Estado. Natural de São Paulo das Missões, Região Noroeste, ela tomou a frente do projeto há 30 anos, quando ainda era “uma semente” como ela própria descreve, a partir de uma iniciativa do bispo da Diocese de Santa Maria na época, Dom Ivo Lorscheiter, e da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). “Fui escalada para essa missão, ajudei no plantio desse projeto”, afirma, orgulhosa com a projeção que a iniciativa ganhou além das fronteiras do Brasil.

Coordenadora da feira, irmã Lourdes Dill tem uma liderança participativa em Santa Maria e é uma referência em conomia solidária |Divulgação: Projeto Esperança/Cooesperança
Coordenadora da feira, irmã Lourdes Dill tem uma liderança participativa em Santa Maria e é uma referência em economia solidária |Divulgação: Projeto Esperança/Cooesperança

Da Congregação Filhas do Amor Divino, irmã Lourdes, 62 anos, é uma liderança representativa no meio político e empresarial, entre outras áreas, de Santa Maria. “A minha voz tem um peso político, eu tenho coragem de enfrentar os problemas. Eu me sinto respeitada no meio político, empresarial e cultural”, avalia ela, consciente de sua liderança.

Integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), o Conselhão do governo Tarso Genro (PT), irmã Lourdes é uma referência em economia solidária. Ela viaja, além do Brasil, para países do Mercosul fazendo palestras. “Eu tenho bastante energia, o problema é o tempo”, conclui ela, sobre agenda atribulada à frente do Projeto Esperança/Cooesperança.

*(Com informações da assessoria de imprensa da feira)


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