Coronavírus
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27 de maio de 2021
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11:28

Quatro escolas municipais de Porto Alegre suspendem aulas presenciais após casos de covid-19

Por
Luís Gomes
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Escola Anísio Teixeira está fechada desde a segunda-feira devido à confirmação de casos positivos de covid-19 | Foto: Divulgação
Escola Anísio Teixeira está fechada desde a segunda-feira devido à confirmação de casos positivos de covid-19 | Foto: Divulgação

Quatro escolas municipais de Porto Alegre suspenderam as aulas presenciais nesta semana após um ou mais professores testarem positivo para covid-19. A Secretaria Municipal de Educação (Smed) confirma até o momento apenas os fechamentos das escolas municipais de ensino fundamental (EMEFs) Anísio Teixeira e Gilberto Jorge. Mas a reportagem confirmou que as escolas Salomão Watnick e Wenceslau Fontoura também estão com as aulas suspensas. Uma quinta EMEF, a Monte Cristo, está com ao menos dois casos confirmados* de covid-19 e aguarda retorno da Secretaria Municipal de Saúde para saber se deve prosseguir com o ensino presencial ou não.

A Smed divulgou nota na terça-feira (25) informando que, desde o 3 de maio, quando as aulas retornaram no municípios no Ensino Infantil e nos 1º e 2º ano do Ensino Fundamental, haviam sido confirmados 21 resultados positivos entre professores da rede municipal, 72 casos foram descartados e 53 ainda estavam sob investigação, num universo de mais de 2 mil professores. No entanto, de acordo com levantamento feito pela Associação dos Trabalhadores/as em Educação do Município de Porto Alegre (Atempa), 57 servidores da educação municipal já testaram positivo para o coronavírus desde o retorno das aulas e outros 91 casos estão sob suspeita.

Com o retorno das aulas presenciais, a Prefeitura adotou uma política de testagem dos profissionais de educação, testando escalonadamente servidores das 98 escolas municipais, além de trabalhadores das 209 instituições comunitárias. O levantamento da Atempa contabiliza o resultado destes mesmos testes.

Diretora da EMEF Anísio Teixeira, Rosele de Souza conta que a escola só retornou às aulas presenciais no dia 10, pois estava com obras do Departamento Municipal de Água e Esgoto (DMAE) na semana anterior. Desde então, três pessoas testaram positivo para a covid-19 na escola, ela própria, a supervisora e uma professora.

Como parte da política de testagem do município, Rosele fez o exame na última quinta-feira (20). Sem saber que testaria positivo, no mesmo dia conseguiu se vacinar na xepa da Unidade de Saúde do Guarujá com o imunizante da AstraZeneca. No domingo, recebeu o resultado do teste. “Domingo me bateu o desespero. Eu pensei: ‘Pronto, agora eu vou’. Dizem que não pode tomar vacina positivada”, diz.

Ela conta que só se tranquilizou após um médico pneumologista que mora no prédio lhe dizer que vacinar enquanto positivada não necessariamente era motivo para preocupação, uma vez que muitas pessoas deveriam estar se vacinando assintomáticas, alertando apenas para a necessidade de monitorar a febre e a saturação de oxigênio. Contudo, Rosele diz que está bem, tendo apenas sentido alguns efeitos colaterais da vacina na sexta-feira.

Como a escola está sem vice-direção desde o ano passado — a titular está afastada por problemas de saúde e o substituto está em férias aguardando a aposentadoria –, ela diz que a Central de Covid da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) orientou que a escola suspendesse as aulas, o que ocorreu na segunda-feira (24). “A suspensão do presencial foi permitida, digamos assim, porque não tenho quem me substitua”, diz. “Em tese, eu acredito que, se tivesse um vice-diretor, a escola estaria aberta”, complementa.

Rosele explica ainda que teve contato com a supervisora que também está com covid, mas que nenhuma das duas teve contato com a outra professora que testou positivo nesta terça-feira (25). A diretora explica que, justamente para evitar surtos, a escola implementou em novembro do ano passado, quando havia retomado aulas presenciais, uma organização em que o professor apenas participava de sua aula na escola e não permanecia para reuniões e períodos de planejamento. “Eles estão indo três turnos, dão a aula e vão embora. Então, a gente não está tendo contato em salas. Claro, qual é o contato que a gente tem? O uso do banheiro, porque os professores compartilham um banheiro”, diz, acrescentando que, outra medida, foi evitar que dois professores almoçassem ao mesmo tempo.

Ela diz que, com a verba extraordinária para o enfrentamento da covid-19 encaminhada pela Prefeitura no ano passado e no início de 2021, além dos recursos de manutenção repassados trimestralmente para a rede municipal, a direção também tem comprados máscaras PFF2, jalecos e face shields para todos os professores. Além disso, comprou dispensadores automáticos para instalar nos banheiros e nas salas. “A minha preocupação maior é que tudo que tem que ser feito para manter a segurança a gente fez”, diz. “Eu fiquei procurando onde a gente errou nos protocolos, mas depois eu cheguei à conclusão de que não foi lá que a gente se contaminou. Só que o que não dá é para a gente continuar indo para a escola com esse nível de transmissibilidade”.

A direção orientou os pais dos alunos da professora afastada para testarem seus filhos.

Escola Gilberto Jorge suspendeu aulas após casos positivos de covid-19 | Foto: Divulgação

Adriana Longoni Moreira, diretora da EMEF Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, conta que a escola está fechada desde terça-feira também pelo afastamento da direção. Ela diz que, na última sexta-feira (21), a única vice-diretora da escola testou positivo. Como elas trabalham na mesma sala e o protocolo da Prefeitura é que pessoas que mantiveram contato em um mesmo ambiente por mais de uma hora devem realizar um teste para covid-19 e se afastarem até que saia o resultado negativo, a escola teve que ser fechada.

Como o protocolo também determina que a pessoa na lista de contatos deve aguardar cinco dias após o último encontro para realizar o testa, Adriana fez o exame nesta quarta. Ela imagina que não tenha sido contaminada, pois já contraiu a covid-19 em fevereiro passado. “Mas a gente está aguardando”, diz. Localizada no bairro Morro Alto, a Gilberto Jorge tem 40 servidores, entre professores e equipe de limpeza e cozinha, e 230 alunos.

Andréa Ketzer Osório, diretora da EMEF Surdos Bilíngue Salomão Watnick, explica que a escola é voltada para o atendimento de alunos surdos, muitos dos quais são portadores de outras deficiências. Por ser uma escola especial, tem apenas 44 alunos e um corpo profissional de 40 pessoas, entre professores, monitores e equipe de limpeza e cozinha. Segundo ela, na primeira semana, poucos alunos retornaram, com o contingente maior voltando às atividades apenas na semana passada, quando iniciaram os trabalhos dos anos finais do Ensino Fundamental.

Na última quarta-feira, a professora de Artes, que tinha apresentado sintomas da covid-19, fez o teste, com o resultado positivo saindo no sábado (22). “Ela trabalha com todas as turmas, tinha dado aula para todos os alunos”, diz Andréa.

A diretora diz que entrou em contato com a Central de Covid da SMS ainda no sábado e que, na segunda-feira (24), a escola abriu com orientação para que os demais professores fossem testados. Contudo, ainda na segunda, perceberam que ela e a vice-diretora tinham tido contato com a professora positivada e que não deveriam estar trabalhando, assim como os alunos que haviam tido aula com ela. Como não teria mais como abrir a escola, pois está sem secretária, e com o diretor e vice na lista de contactantes, a Central de Covid orientou o fechamento. “Naquele momento, a gente percebeu que tinha que fechar a escola porque os contactantes eram vários”, diz.

Ela destaca que, como a escola é muito pequena, o afastamento é quase impossível entre os professores. “E, quando a gente trata com aluno especial, não tem como seguir os protocolos”, diz. A diretora pondera que alguns alunos portadores de deficiência não conseguem manter o uso constante da máscara, por exemplo.

Além da professora de Artes, que teve sintomas por dois dias, mas já estaria bem, uma segunda professora recebeu a confirmação nesta quarta de que havia testado positivo. A escola ainda aguarda o retorno de outros testes realizados na segunda-feira, incluindo da diretora e da vice.

 

Escola Salomão Watnick também está com as aulas suspensas | Foto: Divulgação

Em protesto contra o retorno presencial da rede municipal, parte dos servidores da Educação está em greve, mantendo apenas os trabalhos no ensino remoto.

Para a diretora Adriana, da escola Gilberto Jorge, apesar de as escolas municipais terem protocolos adequados, a realidade do retorno presencial tem mostrado que ele ocorreu precipitadamente. “Acho que o mais complicado é a gente estar com as escolas abertas no momento que a transmissibilidade ainda é muito alta. Por mais que a escola tenha protocolos, na prática, as coisas são muito diferentes da teoria. Os nossos protocolos são ótimos, mas, na prática, é difícil, a gente lidar com pessoas, com crianças”, afirma. “Tem muito uma coisa de ‘ah, os professores não querem trabalhar’. Não é que os professores não querem trabalhar. Com certeza, preferíamos estar todos dentro de sala de aula, porque presença é tudo no ensino, ainda mais na rede pública, que não tem acesso online. Mas a gente não pode ser irresponsável, dizer que está tudo bem, quando não está tudo bem”, complementa.

Rosele também cobra da Prefeitura uma política de testagem mais sistemática, destacando que, como os três casos de sua escola são, até o momento, de pacientes assintomáticos, as confirmações só ocorreram porque foram feitas na “data certa”. No entanto, os testes só foram feitos na semana passada porque a escola atrasou em uma semana o retorno e muitos dos professores não realizaram os exames imediatamente após receberem o voucher da Prefeitura, no dia 10. Ela, por exemplo, só fez o teste no dia 20.

“Se a gente tivesse feito todo mundo junto, não seria detectado o meu covid. Ainda disse ontem para a pessoa do RH: ‘A gente precisa fazer esse teste de forma escalonada, não tem que fazer todo mundo junto’. E tem que ser periódico, porque, se tirar a minha escola como base, a única professora que a gente teve com sintomas testou negativo”, diz.

* A matéria dizia inicialmente que a escola Monte Cristo tinha quatro casos confirmados de covid-19. A informação foi corrigida para dois às 12h desta quinta-feira (27.5). 


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