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17 de março de 2021
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18:58

Leite justifica retomada da cogestão pelo ‘fim do fôlego’ econômico

Por
Sul 21
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Governador Eduardo Leite  | Foto: Divulgação
Governador Eduardo Leite | Foto: Divulgação
Governador Eduardo Leite abriu a possibilidade de retomar a cogestão no próximo final de semana | Foto: Reprodução

Luís Eduardo Gomes
Luciano Velleda 

O governador Eduardo Leite (PSDB) publicou nesta quarta-feira (17) um vídeo em que explica os motivos para a possibilidade de retomar a cogestão do modelo de Distanciamento Controlado, o que na prática significa permitir que prefeituras possam adotar restrições menores em relação àquelas previstas no sistema de bandeiras.

A cogestão foi suspensa no dia 26 de fevereiro, quando 11 regiões do Estado estavam classificadas como bandeira preta, o mais alto grau de risco da pandemia de covid-19. Nas duas últimas semanas, em que todo o Estado esteve sob bandeira preta, os municípios foram obrigados a cumprir as regras previstas pelo governo, com o fechamento de todo o comércio considerado como não essencial.

Leite inicia o vídeo afirmando que o registro de 502 novas mortes por covid-19 no boletim epidemiológico de terça-feira (16) “nos sensibiliza e nos choca”, mas ressalta que os indicadores de ocupação hospitalar começaram a apontar para a redução na velocidade de crescimento da pandemia no Estado.

“Depois de ter atingido um pico de aumento de 350 leitos a mais por dia, a taxa já retrocedeu para cerca de 16 leitos a mais, fruto das duas semanas e meia de restrições mais severas que adotamos no RS. O volume de pessoas internadas neste momento ainda resultará, infelizmente, em mais óbitos, mas os dados da demanda de internações já demonstram redução da circulação do vírus”, disse.

Leite não confirmou que a cogestão será retomada já a partir da próxima semana, mas disse que se os indicadores permanecerem na tendência atual, isso poderá ocorrer. “Sabemos que o fôlego da população, no quesito econômico, é limitado. Por isso, se os indicadores nos permitirem, até o final desta semana, confirmar essa efetiva redução do contágio e da demanda hospitalar, poderemos partir para a retomada da cogestão”, disse.

A retomada da cogestão, como o próprio governador explicou no vídeo, significa que prefeitos de uma região podem entrar em acordo para estabelecer protocolos próprios, por exemplo seguindo regras da bandeira vermelha quando estiverem sob bandeira preta.

Contudo, Leite já indicou que todo o Estado deve permanecer sob bandeira preta na próxima semana. “O Estado vai seguir em bandeira preta porque o risco é altíssimo, uma vez que a demanda ainda está alta e há forte pressão no sistema hospitalar. Então, quem se contaminar neste momento vai encontrar um sistema hospitalar pressionado”, disse.

Para além do recorde de mortos registrados na terça, o RS está nesta quarta com uma taxa de ocupação de leitos de UTI de 109,4%, uma vez que 3.485 pessoas estão internadas em unidades de terapia intensiva, enquanto a capacidade operacional é de apenas 3.186.

Não é o momento

Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, questiona o argumento usado pelo governo para abrir a possibilidade de retomada da cogestão de que os indicadores hospitalares estão melhorando. “A gente não está nem em estabilização e, mesmo assim, seria perigoso. O que está acontecendo é que o sistema de saúde acaba criando essa falsa sensação de estabilidade porque simplesmente não tem mais onde botar as pessoas. Aí o número não sobe, só que as pessoas começam acumular aguardando leitos de UTI”, diz.

Para Isaac, não há no momento um indicador confiável de quantas pessoas estejam, de fato, aguardando leitos de UTI para que o governo possa afirmar que a procura desacelerou. “Não tem um indicador a mão que me diga quantas pessoas estão aguardando leito de UTI no Estado. A gente pega locais que medem, como Porto Alegre, a gente percebe que tem o indicador de pessoas na emergência aguardando UTI, mas não tem o número de pessoas na UPA e não tem o número de pessoas em casa, doentes, que deveriam estar na UTI e não estão”, afirma.

O pesquisador pondera ainda que uma desaceleração consistente dos casos só ocorrerá após um período maior de restrição de circulação. “A mobilidade tem que cair muito e por um tempo maior, quanto maior for a incidência doença. Então, se a gente começa o fechamento com 10 mil casos ativos da doença, esses 10 mil vão gerar outros 12 mil e aí depois, vamos supor que já comece a cair, esses 12 vão gerar 11 mil, depois outros 8 mil, entendeu? Esse tipo de queda demora. Quanto mais alto sobe, mais demora a cair”, diz.


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