Coronavírus
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18 de setembro de 2020
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19:38

77% dos moradores de quilombos de Porto Alegre precisaram sair de casa para trabalhar, diz pesquisa

Por
Luís Gomes
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Em junho, ato em frente a prefeitura denuncia o abandono das comunidades quilombolas, assentamentos urbanos e população de rua de Porto Alegre em meio a pandemia do novo coronavírus. Foto: Luiza Castro/Sul21

Da Redação

Uma pesquisa elaborada por estudantes da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), e divulgada no informe de setembro da Frente Quilombola do Rio Grande do Sul (FQ/RS), reflete a desigualdade de condições econômicas e sanitárias para manter o distanciamento social em comparação com outras regiões da cidade.

De acordo com a FQ/RS, 750 famílias vivem hoje nos oito quilombos urbanos de Porto Alegre: Silva (Três Figueiras), Alpes e Flores (Glória), Areal e Fidélix (Centro), Machado (Sarandi), Lemos (Morro Santana) e Família Ouro (Mapa/Lomba do Pinheiro). O estudo ouviu moradores de quilombos urbanos da Capital sobre a situação econômica e de saúde deles durante a pandemia do coronavírus.

A Frente Quilombola destaca que a população negra apresenta maior prevalência de doenças que levam uma pessoa a ser considerada como parte do grupo de risco para a covid-19. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), 44,2% da população negra sofre com hipertensão e 12,7% com diabetes, enquanto a prevalência dessas doenças entre a população branca é de 22,1% e 6,2%, respectivamente.

Fonte: FQRS

Essa tendência foi confirmada pelo estudo divulgado pela entidade. A pesquisa aponta que quase 60% dos moradores de territórios quilombolas sofrem de doenças respiratórias, como asma e bronquite, cerca de 40% de hipertensão ou pressão alta e quase 10% de alguma doença no coração.

Por outro lado, o estudo aponta que apenas 21,8% dos moradores do territórios estão conseguindo manter o isolamento durante a pandemia, contra 78,2% que disseram estar saindo de casa. Entre os motivos para saídas, 77% disseram já estar saindo para trabalhar, 99% para comprar comida, 44% para atendimento de saúde, 26% para passear, 40% para visitar amigos ou familiares e 5% para esticar as pernas.

Fonte: FQRS

Além disso, 50% disseram não ter condições de praticar o isolamento em casa em caso de contaminação e cerca de 70% disseram não ter mais de um banheiro em casa para dedicar exclusivamente à pessoa infectada.

Com relação a situação econômica durante a pandemia, quase 80% disseram estar inscritos no Cadastro Único do governo federa, cerca 75% disseram estar recebendo auxílio emergencial e pouco mais de 40% disseram ter perdido o emprego durante a pandemia.

“Ressaltamos que os territórios quilombolas encontram-se em áreas vulneráveis à alta dispersão do novo coronavírus, em decorrência da segregação territorial e racismo estrutural que imperam na cidade. Denunciamos a falta de uma política estrutural voltada para as especificidades quilombolas, embora haja recursos para tanto, para se fazer cumprir o direito fundamental à vida”, diz o informe da Frente Quilombola.


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