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10 de agosto de 2020
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22:06

Ronaldo Hallal: ‘O fracasso no enfrentamento à covid-19 antecede a pandemia, começou no subfinanciamento do SUS’

Por
Luís Gomes
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Ronaldo Hallal: ‘O fracasso no enfrentamento à covid-19 antecede a pandemia, começou no subfinanciamento do SUS’
Ronaldo Hallal: ‘O fracasso no enfrentamento à covid-19 antecede a pandemia, começou no subfinanciamento do SUS’
O médico infectologista Ronaldo Hallal (dir.) conversou com os repórteres Luís Gomes (esq.) e Luciano Velleda (centro) na Live do Sul21 | Foto: Reprodução

Da Redação

A Live do Sul21 desta semana recebeu Ronaldo Hallal, médico infectologista e consultor da Sociedade Riograndense de Infectologia. Em conversa com os repórteres Luís Eduardo Gomes e Luciano Velleda, Hallal abordou diversos assuntos relacionados à pandemia de covid-19 e ao enfrentamento à doença em âmbitos nacional, estadual e municipal.

Hallal expressou preocupação com as medidas adotadas na última semana tanto pelo governo do Estado, quanto pela Prefeitura de Porto Alegre, de promover o relaxamento de restrições ao comércio em um momento em que a epidemia do coronavírus ainda está registrando seus indicadores mais elevados de casos, óbitos e ocupação de UTIs. “Sempre que se abriu em patamares elevados, na curva ascendente de transmissão e de casos, ocorreu um recrudescimento na epidemia, que é o que nós estamos reproduzindo. (…) A gente está vivendo o que fomos alertados, que, com essa pandemia, não se poderia relaxar os cuidados de isolamento. Nós vimos isso nos meses anteriores no hemisfério norte. Os países que relaxaram antes do declínio de casos tiveram uma piora e uma expansão da epidemia”, disse.

Para ele, está ocorrendo uma “naturalização” das mortes em detrimento de políticas focadas na preservação de vidas. “No final de semana, chegamos a 100 mil mortes no Brasil. Mas, ao que parece, hoje está se trabalhando em um registro que eu acho um problema, porque se trabalha com a naturalização de que algumas pessoas vão morrer. Se antes nós queríamos que a curva de casos fosse achatada, hoje o desafio seria esmagá-la. Nós sabemos que, com essa epidemia, algumas pessoas vão morrer, especialmente aqueles mais vulneráveis, aqueles que se expõem mais ao vírus, as pessoas que precisam sair de casa para trabalhar, trabalhadores informais, quem pega o transporte coletivo, quem vive em locais com alta densidade demográfica, em favelas, em aglomerações, e aqueles com mais idade e com doenças crônicas. Ao que parece, os governos e o sistema de saúde, de uma maneira geral, embora alguns hospitais estejam alertando para a gravidade, estão trabalhando para evitar que ocorra um colapso. Mas, bom, ainda que se amplie leitos, muitas pessoas vão acabar morrendo. Nós deveríamos, na verdade, proteger a população, evitar que as pessoas se exponham ao vírus até que tenhamos uma vacina eficaz e preservar vidas, mas não é o que temos observado”, disse.

O infectologista afirmou que o Brasil e praticamente todos os estados estão fracassando no enfrentamento ao novo coronavírus, mas considerou que isso também é resultado de medidas que antecedem a pandemia. “O fracasso nacional, estadual e municipal, em Porto Alegre, iniciou nos anos que antecederam com o subfinanciamento do sistema de saúde, com a desestruturação dos laboratórios públicos, com a diminuição da valorização dos serviços públicos de saúde, da atenção básica. Então, o cenário que antecede a pandemia já anunciava que nós teríamos uma capacidade de resposta muito limitada. A desigualdade social, a inexistência de políticas de renda, o desemprego. Todas essas coisas não são elementos retóricos apenas, eles significam a capacidade de uma sociedade conseguir enfrentar uma situação de crise como esta que nós estamos enfrentando”, disse.

Hallal destacou também que o Brasil não se preparou para fazer a testagem em massa e que, no início da pandemia, o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ainda era um crítico do SUS. “Lembremos que o ministro Mandetta, logo que assumiu, estava estruturando um projeto para exterminar com a gratuidade do SUS, para terminar com a universalidade do SUS. Digamos de passagem que poucos hoje se atrevem a seguir o discurso que tinham, de que o SUS deve ser extinto”, afirmou.

O infectologista destacou ainda que um dos fatores que contribuiu para a propagação do coronavírus no mundo foi a degradação ambiental e a forma como a humanidade tem se relacionado com o meio-ambiente. “A desestruturação ambiental que a humanidade vem colocando. O coronavírus é uma zoonose [doença transmitida aos seres humanos por animais]. Esses tempos eu estava fazendo uma comparação com HIV, que também é uma zoonose, assim como o ebola. Eles mostram a consequência da invasão humana no ambiente, em relação a algumas espécies de animais, e também mostra os problemas relacionados com o modo de vida e o modo de produção modernos, que estabelece o potencial de uma doença que se transmite por vias respiratórios e pelo contato de atingir pandêmicos”, disse.

Confira a íntegra da Live do Sul21 com Ronaldo Hallal:


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