Coronavírus
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30 de julho de 2020
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17:27

Quase 10 milhões de testes para a covid-19 estão parados no Ministério da Saúde por falta de insumo

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Sul 21
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Quase 10 milhões de testes para a covid-19 estão parados no Ministério da Saúde por falta de insumo
Quase 10 milhões de testes para a covid-19 estão parados no Ministério da Saúde por falta de insumo
“Está faltando só competência. Falta só disposição do Estado para distribuir, coletar e processar”, avalia professor de Saúde Pública da USP sobre ministério, agora ocupado por militares. Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

Da RBA

Considerado um dos países com os menores índices de teste para a covid-19, o Brasil tem 9,85 milhões de amostras de exames que estão paradas no estoque do Ministério da Saúde. De acordo com a pasta, faltam insumos usados em laboratórios para processar as amostras dos pacientes. Isso porque o governo de Jair Bolsonaro comprou todos esses lotes sem ter a garantia de que haveria os reagentes específicos para processar os exames. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O número de testes encalhados hoje é quase o dobro dos cerca de 5 milhões de unidades entregues até agora aos estados e municípios. A partir de documentos internos do ministério, a reportagem apurou que os exames estocados são do tipo PT-PCR. Esse tipo de teste é considerado “padrão-ouro” para diagnosticar a doença causada pelo novo coronavírus.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) confirma que os insumos são indispensáveis para a realização dos exames. Mesmo assim, segundo os secretários de Saúde, estes produtos não são entregues “com regularidade” pela pasta.

Com mais de 2,5 milhões de infectados e 90.134 vidas perdidas, o Brasil é o segundo país mais afetado no mundo pelo vírus, atrás somente dos Estados Unidos. Mas, ao contrário dos estadunidenses que realizam cerca de 120 testes para cada positivo, este índice não chega a quatro exames para cada positivo no Brasil. Ao mesmo tempo, os estados têm locais de armazenamento lotados com os testes recebidos. Mas que também estão parados à espera dos demais produtos, como mostra o Estadão.

“Agora está faltando só competência. Falta só disposição do Estado para distribuir, coletar e processar”, avalia à reportagem o professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Gonzalo Vecina, ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Militarização na saúde 

Ao veículo, o Ministério da Saúde alegou ter tido “dificuldades para encontrar os reagentes no mercado internacional. Mas que está estabilizando a distribuição conforme recebe importações de fornecedores”. Na falta de testes, enquanto isso, o país têm uma alta cada vez maior no número de casos sem o diagnóstico adequado.

O ministro interino da Saúde, o general Eduardo Pazuello, contudo, vem minimizando a baixa testagem, argumentando que é preciso “ter o diagnóstico médico para dizer que é coronavírus”. A declaração polêmica vem acompanhada ainda de uma série de outras medidas que são tomadas por ele desde que assumiu a pasta, em 15 de junho.

Entre elas, a militarização do ministério. Pazuello, embora interino, vem mexendo na estrutura da pasta em meio à maior emergência sanitária do país. Mais de 20 postos são agora ocupados por militares da ativa e da reserva, até mesmo por filhas de generais e amigos de confiança. De acordo com ele, experiência na área de saúde não é um pré-requisito para ocupar o ministério.

Mortes não mobilizam defesa da pátria

Pazuello também é um dos responsáveis pela tentativa de mudar os critérios de divulgação dos dados sobre a pandemia. Além de transformar o Sistema Único de Saúde (SUS) em um mero receptador de toneladas de cloroquina – remédio sem comprovação científica contra a covid-19 produzido pelo Exército.

Bolsonaro, no entanto, continua afirmando que ele permanecerá interinamente por um “um bom tempo” no ministério. A médica sanitarista Ligia Bahia, professora de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), define esse momento do país no jornal O Globo: “‘Enfrentamento’, ‘controle’ e ‘campanha’, metáforas de guerra, adotadas pela ciência para delinear estratégias de ação durante a pandemia, perderam significado para quem impávido assiste o país perder vidas”.


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