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16 de junho de 2020
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22:27

Prefeitos pressionam, governo revê dados e regiões de Santa Maria e Santo Ângelo voltam para bandeira laranja

Por
Sul 21
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Prefeitos pressionam, governo revê dados e regiões de Santa Maria e Santo Ângelo voltam para bandeira laranja
Prefeitos pressionam, governo revê dados e regiões de Santa Maria e Santo Ângelo voltam para bandeira laranja
Apesar das reclamações, as regiões de Caxias do Sul e Uruguaiana permanecem em bandeira vermelha. Foto: Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Luciano Velleda

Após uma série de críticas de prefeitos de quatro regiões do Estado que passaram da bandeira laranja (risco médio) para a bandeira vermelha (risco alto) no modelo de distanciamento controlado, o governo do Estado reconsiderou duas delas — Santa Maria e Santo Ângelo, ambas permanecendo essa semana na bandeira laranja. O anúncio foi feito nesta terça-feira (16) pelo governador Eduardo Leite (PSDB), após dois dias de reuniões e debates.

Segundo Leite, na região de Santa Maria, a mudança ocorre em função da confirmação de novos leitos que não haviam sido computados no sistema do governo. Na região de Santo Ângelo, a permanência se dá devido à contabilização, nesta semana, de novos casos de contaminação que, na verdade, eram da semana passada. O retorno às bandeiras laranja vigora já a partir desta terça.

“O modelo que desenvolvemos serve para que façamos restrições, no Estado, de forma mais racional. Nunca prometemos que o Rio Grande do Sul estaria blindado contra o coronavírus devido à aplicação do modelo. A ideia é impormos restrições na proporção, no local e no momento em que forem necessárias, uma vez que a alternativa era restringir tudo, em todo o Estado, o tempo todo, o que parecia desproporcional”, justificou o governador.

Leite voltou a destacar a necessidade de ampliar restrições comerciais antes que aconteça a superlotação das UTIs, cenário que colocaria em colapso o sistema de saúde do Rio Grande do Sul. “Aí, perdemos vidas, perdemos a proteção à saúde e perdemos a retomada da economia, porque teremos de parar e, talvez, por mais tempo, por termos deixado de agir no momento certo”, afirmou.

Na região de Santa Maria, a justificativa para a manutenção da bandeira laranja é a não contabilização, na última sexta-feira (12), de sete leitos vagos. Com isso, o modelo criado pelo governo estadual apontou déficit na oferta de atendimento hospitalar nos 32 municípios da região.

“É uma boa notícia para os empreendedores, mas não posso deixar de fazer um alerta: a macrorregião Centro-Oeste, na qual se localizam as regiões de Santa Maria e de Uruguaiana, vinham com estabilidade de casos em maio, sempre entre seis e oito, e começamos a observar um aumento de casos. Da primeira semana de junho para cá, observamos um crescimento de internações em UTI, de 19 a 21 casos, e chegamos a 31 casos internados em UTI na macrorregião”, disse Eduardo Leite.

No caso da região de Santo Ângelo, além da diferença das datas em que os novos casos de hospitalizações foram computados, houve ainda a observação da curva de casos na macrorregião Missioneira, onde se localiza a região de Santo Ângelo. De acordo com o governador, essa observação apontou uma “estabilidade no número de internações”. “Essas duas informações nos apontam que, na verdade, não há uma tendência clara de aumento de casos na macrorregião Missioneira e na região de Santo Ângelo, então, acolhemos o pedido de reconsideração para que a região voltasse à bandeira laranja”, ponderou.

Por outro lado, as regiões de Caxias do Sul e de Uruguaiana permanecem com bandeira vermelha. Em Uruguaiana, mesmo com o acréscimo de sete leitos da macrorregião, o número não foi suficiente para alterar o cálculo e a classificação final de bandeira. Já a região de Caxias do Sul, que ao longo do mês de maio manteve estabilidade na curva de contaminação, nas últimas duas semanas aumentou de 23 para 63 as hospitalizações confirmadas por covid-19 , um aumento de 174%. O número de internados em leitos de UTI subiu de 31 para 44, um aumento de 42%. “Vemos uma tendência de aumento de casos na Serra gaúcha. Não houve dados suficientes para que se alterasse a bandeira”, explicou Eduardo Leite.

Alterações no modelo

Questionado pela reportagem do Sul21 se as mudanças, após pressão de prefeitos do interior, não afetariam a credibilidade do modelo, o governador Eduardo Leite disse que não. Pelo contrário. Para ele, o modelo de distanciamento controlado se fortalece. “Como ele é inovador, estará sujeito a aprimoramentos, análises constantes na sua implementação, para que possa se ajustar a essa realidade dinâmica que estamos vivendo da pandemia. Então, naturalmente, precisávamos fazer esses ajustes”, explicou.

Leite definiu como “grave” estabelecer restrições comerciais que afetam renda e empregos. Por isso, justificou, os dados do modelo precisam efetivamente demonstrar o aumento da incidência de novos casos de coronavírus.

“É claro que ele (o modelo) nos dá um suporte técnico para a tomada de decisão, mas mandar alguém fechar o seu estabelecimento, sem ter a absoluta segurança de que os indicadores, na sua análise pormenorizada, estão demonstrando um aumento de incidência, seria uma irresponsabilidade. Ou seja, os indicadores mostram, mas você precisa, muitas vezes, olhar o cenário ampliado. Então estamos abrindo, a partir da possibilidade das discussões, que haja a contestação e o contraponto. E analisando melhor, a gente pode chegar a uma conclusão de que há uma estabilidade, mas sempre com a análise dos dados, da informação e da ciência”, explicou o governador.

Outra mudança anunciada se refere ao cronograma do modelo. A partir de agora, a coleta de dados dos 11 indicadores de propagação de coronavírus e da capacidade de atendimento de saúde será na quinta-feira e não mais na sexta. Na sequência, os municípios terão até segunda-feira para apresentarem divergência nos números. Os questionamentos serão então analisados pelo Gabinete de Crise, que decidirá pela pertinência ou não dos recursos. Com isso, o governador passa a anunciar as novas bandeiras nas tardes de segunda-feira — e não mais no sábado —, entrando em vigor no dia seguinte.

“Os prefeitos irão tomar conhecimento da situação da sua região na sexta-feira e poderão, regionalmente, recorrer do cálculo, apresentando sua contestação e apontando erros, omissões e revisões na planilha de monitoramento. Com isso, criamos uma instância recursiva. E as ponderações serão analisadas antes de serem oficializadas”, explicou Leite.

“É fundamental que os dados representem exatamente aquilo que estão vivenciando nas cidades. As informações precisam estar bem apuradas e respaldadas para que possamos rodar o modelo com precisão e ter uma estratégia realmente efetiva de enfrentamento ao coronavírus, fazendo as restrições na proporção necessária, não mais nem menos, para mantermos o equilíbrio de preservação da vida com a atividade econômica”, afirmou o governador.


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