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26 de março de 2018
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14:23

Casos de assédio e violência motivam campanha de jornalistas: #DeixaElaTrabalhar

Por
Sul 21
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Joana Berwanger

Na tarde deste domingo (25), mais uma vez, uma repórter foi desrespeitada enquanto trabalhava. Kelly Costa, da RBS TV, foi insultada por um torcedor durante o jogo entre São José-RS e Brasil de Pelotas, em Porto Alegre. O caso coincide com o lançamento de uma iniciativa de mulheres jornalistas que luta contra a cultura do assédio, o machismo e a misoginia que permeiam o trabalho diário. A campanha #DeixaElaTrabalhar reúne cerca de 50 jornalistas de todo o Brasil que produziram um vídeo expondo uma série de comentários e ameaças feitos por torcedores nas redes sociais, além de publicizar relatos pessoais de assédio no ambiente de trabalho: “já aconteceu com todas nós”.

Não é difícil concluir que o caso de Kelly Costa não é raro. Dois exemplos recentes, no dia 14 de março desse ano, a jornalista Bruna Dealtry, do canal Esporte Interativo, estava realizando uma cobertura ao vivo da partida entre Vasco e Universidad do Chile, no Rio de Janeiro, quando foi beijada à força por um torcedor; a repórter, assustada, seguiu a cobertura: “isso não precisava, mas aconteceu”. Também nesse mês, a repórter Renata Medeiros, da Rádio Gaúcha, estava cobrindo a partida entre Internacional e Grêmio, em Porto Alegre, quando foi agredida por um torcedor “sai daqui, sua puta”.

Também no ano passado, foi lançada a campanha Jornalistas Contra o Assédio. O estopim para a mobilização foi o caso da repórter Giulia Pereira, do site IGassediada pelo cantor MC Biel durante uma entrevista, e demitida 14 dias após a denúncia do caso. Além de um portal de informação, a campanha hoje denuncia diversas formas de assédio na profissão. Após o caso, o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo lançou um canal de denúncia de casos de assédio sexual e moral contra jornalistas.

Gênero e Número

A pesquisa “Mulheres no Jornalismo” da Abraji e da Gênero e Número constatou que 59% das jornalistas que responderam a pesquisa presenciaram ou tomaram conhecimento de uma colega sendo assediada no exercício de sua profissão por uma fonte – como no caso do cantor Biel. Além disso, 70,2% das jornalistas afirmaram que já presenciaram ou tomaram conhecimento de uma colega sendo assediada em seu ambiente de trabalho. Ainda nessa pesquisa,  revelou-se que 75,3% das jornalistas admitiram já ter ouvido, no exercício do trabalho, um comentário ou elogio sobre suas roupas, corpo ou aparência que as deixaram desconfortáveis.

O levantamento constata que há uma “naturalização de situações discriminatórias no ambiente jornalístico em prejuízo das mulheres”. O fato de ser mulher prejudica a profissional em suas relações de redes de fontes e contatos, além de expor a jornalista a formas específicas de estresse e risco no trabalho, causando um efeito negativo sobre o crescimento da profissional na área.

A mesma pesquisa também aponta que apenas 4,6% das jornalistas mulheres atuam na área esportiva. De acordo com o relatório, “esse quadro sugere uma certa divisão do trabalho jornalístico conforme os antigos estereótipos que apontam que os homens são mais aptos a trabalhar em áreas como esportes e tecnologia, enquanto mulheres teriam afinidade com temas como viagem, comportamento, moda etc”. Ainda assim, por mais que o terreno seja predominantemente masculino, é possível observar que dezenas de mulheres têm ingressado na área e a quantidade de apresentadoras e repórteres tem crescido – mas elas ainda precisam exigir o ingrediente mais básico para realizar seu trabalho: respeito.

 


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