RS da Igualdade
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13 de maio de 2014
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10:41

Agroindústria familiar triplica renda do pequeno produtor

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Sul 21
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Agroindústria Puro Sabor , de Farroupilha, produz queijo, iogurte, doce de leite, bebida láctea, ricota e parmesão | Foto:  Kátia Marcon / Wmater
Marcelo, Odete e Letícia Ferrari, da agroindústria Puro Sabor, de Farroupilha: eles produzem queijo, iogurte, doce de leite, bebida láctea, ricota e parmesão | Foto: Kátia Marcon / Wmater

Lorena Paim

Transformar a matéria-prima da pequena propriedade em saborosos alimentos contribui para aumentar a renda no campo e ajuda a fixar o produtor em sua terra. O Programa Estadual de Agroindústria Familiar está sendo desenvolvido no Estado há dois anos, com a retomada do selo Sabor Gaúcho. Hoje existem 1.914 agroindústrias cadastradas no Rio Grande do Sul, contra 274 do governo anterior.

Uma delas é a indústria de embutidos Bergamaschi, do município de Fagundes Varela, que produz salame comercializado em várias regiões do Estado, inclusive na capital. O negócio começou com o pai, Celso, e hoje é tocado por ele, a mulher e dois filhos. Um deles, Jair Bergamaschi, conta que a família chegou a pensar em se mudar para a cidade, em busca de melhores oportunidades, mas o produto que era feito sem maior compromisso acabou se transformando em fonte de sustento para todos.

Jair, da indústria de embutidos Bergamaschi: “Meu pai fabricava o salame, bem artesanal e de alcance regional, até que tivemos a ideia de montar a agroindústria” | Foto: www.avindima.com_.br
Jair, da indústria de embutidos Bergamaschi: “Meu pai fabricava o salame, bem artesanal e de alcance regional, até que tivemos a ideia de montar a agroindústria” | Foto: www.avindima.com_.br

“Meu pai fabricava o salame, bem artesanal e de alcance regional, até que tivemos a ideia de montar a agroindústria”, conta Jair. Seu irmão, Geraldo, foi em frente e conseguiu financiamento, há 11 anos, para construir a fábrica, tendo recebido, na época, ajuda da prefeitura de Fagundes Varela, com materiais de construção. “De lá para cá, aumentamos quase dez vezes a produção de salame, que chega hoje a 500 quilos por semana”, informa.

Para chegar a esse ponto, toda a família fez cursos de produção e de boas práticas. Os suínos são criados na propriedade e vão para o abate em um matadouro próximo, com inspeção sanitária. O produto fabricado leva o selo Sabor Gaúcho, o que, segundo Jair, beneficiou muito a pequena empresa, sendo um diferencial, um atestado de sanidade e de procedência. Em 2012, na Expointer, a Bergamaschi obteve o título de “melhor salame”, num concurso que envolveu as agroindústrias presentes à grande exposição de animais de Esteio. O título contribuiu para o aumento de clientes, “que nos procuram até hoje”.

Os Bergamaschi têm uma área de 30 hectares, onde também plantam milho e soja. Conseguem se dividir nos dias da semana para trabalhar na agroindústria e na plantação, alternadamente. A renda vem, quase igualmente, das duas atividades. Segundo Jair, a atuação da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR) deu um alento para os pequenos produtores, incentivando a participação deles em feiras, onde podem mostrar o que fabricam e conseguem um preço justo. A agroindústria está num ritmo bom, diz ele, tanto que já existe um projeto para sua ampliação. O segredo do produto? “Fazemos um salame puro, com matéria-prima superior, nos preocupando desde o trato balanceado dos animais até a hora do abate e da comercialização. Tendo um produto bem-feito e trabalhando direitinho, vai funcionar”, afirma Jair Bergamaschi.

Incentivos em diversos níveis

A Secretaria de Desenvolvimento Rural vem auxiliando as feiras regionais, nas quais as pequenas agroindústrias familiares comercializam seus produtos. Já investiu mais de R$ 1 milhão nesse apoio, com destaque para a Expointer, Expodireto, Expoagro-Afubra e outras de pequeno porte. Mas este é o elo final da cadeia de incentivos proporcionados pelo governo gaúcho.

Ricardo Fritsch: “Os cursos servem para empoderar o agricultor com informações sobre boas práticas, gestão e processamento”
Ricardo Fritsch: “Os cursos servem para empoderar o agricultor com informações sobre boas práticas, gestão e processamento”

Ricardo Fritsch, diretor do Departamento de Agroindústria Familiar, Comercialização e Abastecimento (DACA) da Secretaria, diz que o Programa da Agroindústria Familiar, resultante de uma lei estadual, é exemplo de política pública que prioriza este segmento rural. Ao participar do Programa, o produtor pode se formalizar, ter acesso a crédito, a mercados e participar de cursos de formação. “Os cursos servem para empoderar o agricultor com informações sobre boas práticas, gestão e processamento”, diz. Os cursos ocorrem nos centros de treinamento, sem custo ao participante. A Emater, além da assistência técnica permanente, também orienta sobre as melhores formas de encaminhar o negócio. A SDR ainda ajuda na formatação do rótulo das embalagens, com designers preocupados em dar uma boa apresentação ao produto.

Conforme Fristch, o acesso à linha de crédito do Feaper – Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais, com juros baixos, é outro fator importante. Foram oferecidos recursos para as agroindústrias familiares no valor de R$ 10 mil por beneficiário com DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf), totalizando hoje 129 projetos contratados. “Acessar mercados é o mais relevante, daí a importância de participação nas feiras do Sabor Gaúcho”, observa o diretor. A SDR está trabalhando em projetos para a Copa do Mundo, a fim de que os pequenos possam mostrar sua produção.

Das 1,9 mil agroindústrias cadastradas pela SDR em três anos, 500 estão aptas a comercializar. A inserção não é maior, segundo o diretor, porque o pequeno agricultor tem dificuldades em deixar a propriedade para buscar aperfeiçoamento – em geral, ele trabalha em tempo integral junto com a família e não dispõe de grande informação sobre os passos necessários à formalização. Para estar apto a vender, ele tem que possuir licença ambiental e sanitária. Com os requisitos atendidos, a SDR encaminha o pedido à Secretaria da Fazenda para que o processo seja isento do pagamento de ICMS.

selo ssbor gaúcho

O selo Sabor Gaúcho indica que um produto é proveniente de agroindústria do Estado. Hoje, cerca de 280 empresas ostentam o selo. “Com as nossas exigências, não queremos alterar receita do produto, queremos continuar com a essência do sabor da roça, que o consumidor gosta”, diz Fritsch. A maior visibilidade ocorre nas feiras. Em nove dias de Expointer, em 2013, 177 agroindústrias comercializaram mais de R$ 1,5 milhão, o que representa mais de R$ 8 mil por dia por empresa. Na Expodireto, este ano, 165 agroindústrias comercializaram um total R$ 800 mil, o que também dá um rateio considerável. A SDR incentiva com a realização de concursos na Expointer, os quais, além do melhor salame, já premiaram o melhor queijo, mel, suco de uva, vinho, cachaça.

Até agora, a SDR realizou investimentos diretos de R$ 5,7 milhões nas agroindústrias, enquanto os municípios entraram com R$ 6,9 milhões, por meio da Participação Popular Cidadã. As principais regiões de agroindústrias são a Serra, Missões e Celeiros. Fritsch destaca que “temos algumas com muitas necessidades, pois estão afastadas dos acessos rodoviárias e não conseguem sair em dias de chuva. A logística, para o agricultor, é o grande entrave atualmente”. Outra dificuldade que ainda persiste diz respeito ao Susaf, sistema da Secretaria da Agricultura que unifica a inspeção dos produtos animais. Os municípios têm que pedir a adesão ao sistema, para o produto poder circular em todo o Estado, mas apenas 180 o fizeram até agora.

Da cidade para o campo, o encontro da vocação

A família de Odete da Cas morava na cidade de Farroupilha, na Serra, mas possuía área no interior, a três quilômetros da zona urbana, para o plantio de acácia e eucalipto. Por razões particulares, em 1998 acabaram se mudando para a zona rural, onde estão até hoje e de lá não pretendem sair. Meio por acaso, resolveram abrir um tambo de leite, “sem sabermos de nada”, conforme ela lembra. “Fomos correr atrás, a Emater nos ajudou com cursos e passamos a entregar leite através de uma associação”.

As feiras do Sabor Gaúcho contribuíram para divulgar os produtos da Puro Sabor | Foto: Kátia Marcon / Emater
As feiras do Sabor Gaúcho contribuíram para divulgar os produtos da Puro Sabor | Foto: Kátia Marcon / Emater

Logo constataram que a renda não seria suficiente para o casal e a filha. E começaram, em 2004, a pensar em abrir uma agroindústria de beneficiamento do leite. Com um financiamento, pelo Pronaf, conseguiram adquirir equipamentos para a agroindústria e para a produção de alimentos na propriedade. “Financiamento para quase tudo: dois tratores, implementos agrícolas, resfriador de leite, queijeira, prensa”, esclarece Marcelo Ferrari, marido de Odete, ressaltando os juros baixos e o prazo longo para pagar. Agora, a família quer comprar uma camioneta maior e espera pela abertura de uma nova linha do Pronaf.

Com a agroindústria Puro Sabor do Interior, a família quase triplicou a renda em relação ao que obteria apenas vendendo o leite. Um funcionário ajuda no trabalho na área de 11 hectares, parte própria, parte arrendada. Marcelo se encarrega da plantação de milho para alimento dos animais. As 22 vacas produzem em média 600 litros/dia. Tudo é processado no local: queijo, iogurte, doce de leite, bebida láctea, ricota, parmesão. A pequena fábrica entrega alimentos para 50 escolas e dez creches. Marcelo Ferrari destaca a função da Emater, que dá apoio técnico, formata e encaminha projetos para os pequenos.

As feiras do Sabor Gaúcho, conforme Odete, contribuíram para divulgar a produção. “O pessoal nos conhece e passa a nos procurar”. Ela lembra que fez sucesso, na Expointer, o queijo mergulhado no azeite de oliva, uma de suas invenções. Também fabrica um gruyere diferenciado, resultado de um processo semelhante ao do parmesão. Agora, está fazendo testes de queijos para a Copa do Mundo. A bebida láctea misturada com frutas já chegou à consistência ideal, tanto que os clientes e técnicos aconselham a não mexer na receita. “Vivo do leite, não pretendo mais sair do interior”, diz a empreendedora.

Com apoio do Pronaf, os Meurer criaram a padaria colonial Koloniebackhaus, que costuma participar das feiras de agroindústria
Com apoio do Pronaf, os Meurer criaram a padaria colonial Koloniebackhaus, que costuma participar das feiras de agroindústria

Delícias nascidas no fogão a lenha

A atividade que agrega valor à produção e aumenta a renda de toda a família também beneficia os Meurer (pai, mãe, três filhas), de Salvador do Sul. Em 1989 começaram plantando e vendendo verduras na cidade. Em 2003, conseguiram formar a agroindústria de panificados, com o auxílio do Pronaf, programa que possibilitou a aquisição de dois veículos, equipamentos e a própria construção do prédio, com facilidades para pagar. Nascia a padaria colonial Koloniebackhaus, cujas origens são as delícias preparadas no fogão a lenha e vendidas nas feiras coloniais da cidade.

“O selo Sabor Gaúcho nos abriu as portas”, constata Beatriz Meurer, uma das filhas. Hoje, o resultado mensal é de 1.500 pães, mil cucas, 1.500 biscoitos, número que dobra ou triplica em épocas de feiras. Tudo é feito na propriedade rural de 21 hectares, de onde, igualmente, provém a matéria-prima: leite, ovos, nata, milho; só compram a farinha de trigo e o açúcar. Fornecem para a merenda escolar de Salvador do Sul e São Pedro da Serra, além da venda direta ao consumidor. “Esperamos atingir mercados maiores, estamos em contato com uma grande rede de supermercados”, informa Beatriz Meurer.

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