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13 de dezembro de 2015
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17:25

Instalação etnográfica retrata trabalho de mulheres que transformam fibras de garrafas PET em edredons

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Sul 21
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Exposição está montada na Galeria Olho Nu, no Campus do Vale da UFRGS | Foto: Diogo Dubiela
Exposição está montada na Galeria Olho Nu, no Campus do Vale da UFRGS | Foto: Diogo Dubiela

Débora Fogliatto

Há 15 anos, um grupo de mulheres descobriu uma forma de fazer edredons a partir de fibras residuais de garrafas PET. O material, que seria “lixo” no processo de fabricação das garrafas, é adquirido por elas na fábrica e, após ser desfiado e manuseado de diversas formas, transforma-se em cobertas, que posteriormente são vendidas e convertem-se em renda para as produtoras. O trabalho realizado pelo grupo Art&Mãe, vinculado à Cooperativa 20 de Novembro do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), é o objeto de estudo do documentário e instalação etnográfica “As mulheres e a fibra”, que inaugura na próxima terça-feira (15).

O grupo é composto por 22 mulheres e existe desde os anos 1980, conforme conta Cenira Vargas da Silva, uma das integrantes e fundadoras. “Até 87, mais ou menos, trabalhávamos com resto de malharia. Mas eu conhecia o pessoal da Secretaria de Governança Local daquela época e conversando chegamos a esse ponto de trabalho, de fazer com resíduo de PET”, lembra ela. Além de confeccionarem os edredons, as mulheres ainda oferecem cursos em diversos locais a outras que também queiram aprender o ofício.

A produção acontece nas terças e quintas-feiras, quando o grupo se encontra, cada uma fazendo a sua parte na produção. A maior parte delas são aposentadas ou mulheres que recebem algum tipo de pensão e usam o que conseguem com os edredons como complemento de renda, segundo Cenira. Essa é a primeira vez que elas aparecem em um documentário, embora ela conte que já tenham tido suas histórias contadas em jornais e na televisão. “Foi muito bom, porque a gente sempre aparecia em reportagem mas eram poucas palavras, e ali todas falaram, todo mundo se expressou”.

| Foto: Diogo Dubiela
Trabalho é realizado por mulheres do Movimento de Luta pela Moradia | Foto: Diogo Dubiela

A oportunidade surgiu por meio do trabalho de Diogo Dubiella, artista/antropólogo que estuda na UFRGS e desenvolve, desde 2013, um projeto de pesquisa com a Art&Mãe. “Eu tenho este convívio com as mulheres desde o segundo semestre de 2013 a título de construir o documentário, que conta com 30 minutos, e a instalação, que conta com fibras e fotografias”, explica ele, que também irá apresentar o trabalho de pesquisa em Antropologia e Arte na ocasião.

Sobre o processo de criação dos edredons, Diogo define: “[A fibra] ora aparenta-se com uma estopa, novelos de lã, e ainda com a forma do algodão. Mas não é estopa nem lã nem algodão. É algo que parece mas não é. Engana. Por fim, surpreende. É o que ninguém imagina. É a garrafa PET que passa pelas mãos de muitos de nós no cotidiano: garrafa de água, refrigerante ou suco”.

Seu trabalho consistia tanto em observar quanto interagir e filmar, participando dos encontros de confecção dos edredons. “Eu ia lá conviver com elas, costurei junto com elas e ao mesmo tempo filmava, o tempo todo foi com a câmera na mão”, resume. Mas seu trabalho vai além, integrando a etnografia antropológica com a arte. “Eu me envolvi também artisticamente com a fibra e viemos a produzir juntos artisticamente com esse material, telas acrílicas que compõem a instalação. Foi uma construção no decorrer do processo”, relata. A partir daí, Diogo começou a dialogar com a universidade para viabilizar a instalação na Galeria Olho Nu, do Campus do Vale da UFRGS.

| Foto: Diogo Dubiela
Exposição apresenta a fibra em diversas fases e formas | Foto: Diogo Dubiela

O trabalho todo partiu do consentimento do grupo e da vontade que elas também tinham de ser retratadas no documentário. “Essa semana eu fui lá e levei elas para o Vale, para participarem da montagem da exposição, que já está lá”, conta ele. Durante todo o processo, a cada passo da montagem do documentário Diogo consultava as mulheres, assim como fazia com as fotos. “Isso tudo é o processo de pesquisa, que é também sobre a imagem e o diálogo da antropologia com a arte”, define.

A exposição começa com a exibição do documentário etnográfico “As mulheres e a fibra”, no Miniauditório IFCH/UFRGS, no Campus do Vale, às 18h. Em seguida, acontece uma visita à exposição e o seminário de apresentação do trabalho para a banca examinadora, na Sala Multimeios (ao lado da Galeria), seguido pela vernissage de abertura da exposição.

| Foto: Diogo Dubiela
| Foto: Diogo Dubiela

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