Samir Oliveira
O município de Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, será o primeiro a contar com uma escola de inspiração libertária no Estado. A escola municipal Sepé Tiaraju II passará a funcionar a partir de fevereiro do próximo ano num modelo completamente diferente das demais: não possuirá séries, os alunos serão agrupados por áreas de interesse, não por turmas, e não haverá uma avaliação baseada em notas ou em boletins.
Implementada por meio de um convênio da Prefeitura com diversas entidades, o colégio é inspirado na Escola da Ponte, em Portugal, que funciona há mais de 40 anos a partir de um modelo alternativo de ensino. A iniciativa surgiu a partir de uma proposta do Movimento Sepé Tiaraju e do Ministério Público. O projeto também é apoiado pela organização Seicho-No-Ie e pela Casa Espírita Eurípedes Barsanulfo, que cedeu o espaço físico para a nova escola – que funcionará num antigo orfanato desativado na zona rural de Eldorado.
Futura diretora da escola, a professora de História da rede municipal de ensino, Rosângela Guimarães Debom, explica que o novo espaço busca estabelecer um processo de aprendizagem diferente do que historicamente vem sendo praticado pelos colégios tradicionais. “Temos uma escola do século 20 para alunos do século 21. Essa nova escola vai trabalhar com uma pedagogia diferente, em que a construção do conhecimento será feita a partir dos interesses dos alunos”, comenta.
Ela ressalta que a escola será regida por um conjunto de valores e princípios que nortearão a convivência entre os alunos, os professores e a comunidade. “Isso será construído junto com a comunidade escolar, com a presença constante dos pais”.
A Sepé Tiarajú II funcionará em turno integral, das 8h às 17h, e, num primeiro momento, contará com 36 alunos, três professores – que passarão a ser chamados de tutores – e uma merendeira. As crianças, com idades entre 9 a 13 anos, serão selecionadas a partir de um diálogo com suas famílias.
O perfil buscado é o de alunos com dificuldades de adequação à rede tradicional de ensino. “A escola fica dentro de um bairro extremamente pobre, as crianças serão oriundas da comunidade e estão expostas a vários problemas sociais, muitas possuem distorção em relação à idade e à série e dificuldades de relacionamento em suas escolas”, observa Rosângela.
Novo paradigma
A professora afirma que uma das principais dificuldades para a implantação do projeto é justamente a mentalidade da comunidade escolar, que está muito condicionada ao modelo tradicional de ensino. “Esse modelo que estamos implantando demanda uma desconstrução do modelo atual. O professor tem que se descontruir de sua própria prática”, entende.
Ela espera que a Sepé Tiaraju II faça com que as crianças e os jovens vejam um novo sentido na instituição escolar. “Esperamos que as crianças tenham prazer em estar dentro da escola e não queiram sair. Que elas construam a ideia de que se trata de um espaço de aprendizagem e lazer para suas vidas”, estima.
Apesar de propor um novo paradigma na relação entre alunos, professores e ambiente escolar, o modelo que está sendo implantado em Eldorado conta com todo o respaldo institucional da Lei de Diretrizes e Bases da Educação. A escola será tão oficial quanto qualquer outra da rede municipal, estando vinculada à Secretaria de Educação do município.
“É o que existe de mais inovador, está de acordo com o século 21 e dá liberdade para que o aluno construa o conhecimento a partir do que ele estiver motivado a estudar. Não se trata apenas de desenvolvimento de conteúdos, mas de uma verdadeira educação”, destaca o secretário municipal de Educação, Tadeu Rossato Bisognin.
A Sepé Tiaraju II será o primeiro colégio inspirado na Escola da Ponte em funcionamento no Rio Grande do Sul. Outra iniciativa está sendo articulada em Santa Maria. Nacionalmente, já existem duas experiências em funcionamento em Cotia (SP) e no Rio Grande do Norte.
