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5 de outubro de 2014
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02:59

Um outro Brasil nas urnas

Por
Sul 21
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Benedito Tadeu César*

Com a realização do primeiro turno de votações neste domingo (5), estaremos completando um período de 28 anos ininterruptos em que ocorreram eleições livres e diretas no Brasil. Desde a redemocratização do país, estas serão a oitava eleição livre e direta para os Governos dos Estados e a sexta para a Presidência da República. Um marco inédito na história brasileira, marcada por golpes de estado e ditaduras e por períodos democráticos curtos e intermitentes.

Somos, hoje, uma sociedade urbana, desenvolvida e complexa. Pela primeira vez a maioria do eleitorado brasileiro, ou exatamente 52,45% dele, segundo dados do TSE, têm escolaridade de nível fundamental completo. Este, talvez, seja o dado mais significativo para entendermos as reviravoltas e o resultado final, ainda a ser apurado, das eleições deste domingo.

Mais escolarizado e, consequentemente, com maiores condições de observar e entender a realidade que o cerca, tendo vivido um período de ascensão social e inserção no mercado de consumo, com ganhos salariais significativos, formalização crescente das relações de trabalho e pleno emprego, o eleitorado brasileiro tem adquirido, progressivamente, maior capacidade de avaliar e de escolher autonomamente seus candidatos, avaliando com maior rigor as diferentes propostas que lhe são apresentadas durante o período de campanha eleitoral.

Candidatos que se apresentam como impolutos, “salvadores da pátria”, capazes de resolver “todos os males” simplesmente pela força de suas vontades e que alegam pairar acima de partidos e ideologias, ainda que possam entusiasmar parte do eleitorado e se manter, durante algum tempo, à frente nas intenções de voto, acabam definhando na reta final das campanhas eleitorais.

Além da maior capacidade dos eleitores de avaliar propostas de governos e de identificar, mesmo que de modo tênue, os grandes campos ideológicos em disputa, contribui também para uma escolha mais consistente dos candidatos a existência de estruturas partidárias melhor consolidadas e relativamente implantadas relativizando o poder de influência das grandes redes de comunicação.

Sem que se menospreze a importância dos recursos financeiros utilizados pelos candidatos para a realização das campanhas e a conquista dos votos, fica cada vez mais evidente que a experiência de vida dos eleitores, o que inclui, de um lado, a avaliação de como o desempenho da economia e as realizações dos governantes de turno impactaram suas vidas e, de outro, a avaliação das propostas e da capacidade de cada candidato de realizá-las.

Não somos mais um país com uma maioria de eleitores analfabetos, com baixa capacidade de compreensão da realidade e de avaliação das propostas de governo de cada candidato. Não somos mais um país de homens e mulheres dependentes da distribuição paternalista de benesses, realizadas por oligarcas que controlaram, durante séculos, o acesso aos bens públicos.

Somos hoje, finalmente, um país de cidadãos, mesmo que as condições sociais básicas para o exercício pleno da cidadania de muitos estejam, ainda, em construção. O acesso aos bens públicos, como saúde e educação, mesmo que precários em qualidade, foi estendido ao conjunto da população. Eliminamos a fome, como ocorrência endêmica. Avançamos no processo de construção de uma sociedade de “classe média”, mesmo que conservemos ainda enormes desigualdades sociais.

Um país, como o Brasil de hoje, vota pensando no amanhã, mas sem se esquecer das conquistas do passado e do caminho já trilhado para alcançá-las.

* Cientista político


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