Notícias em geral
|
9 de outubro de 2014
|
19:40

Polarização e politização no segundo turno das eleições gaúchas

Por
Sul 21
[email protected]

Benedito Tadeu César*

Polarizadas, mais uma vez, entre PT e PSDB, na disputa para a Presidência da República, e entre PT e PMDB, na disputa para o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, as eleições em segundo turno ocorrerão entre adversários claramente posicionados à direita e à esquerda do espectro ideológico, no nível nacional, e entre candidatos que disputam o mesmo espaço político-ideológico, no nível estadual.

Se a eliminação de Marina Silva, que se apresentava como a representante da “nova política” e da “terceira via”, ajudou a clarear a disputa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves, a eliminação de Ana Amélia Lemos, que se apresentava como representante da “nova política” e se posicionava claramente à direita do espectro ideológico, dificultou aos eleitores em geral a clara identificação dos campos políticos ocupados pelos candidatos ao segundo turno nas eleições para o Governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro e José Ivo Sartori.

A dinâmica eleitoral há muito instalada no Rio Grande do Sul confirmou-se mais uma vez. A existência de três grandes campos político-ideológicos em disputa acirrada, a conflitualidade no campo da centro-esquerda gaúcha e a reviravolta eleitoral às vésperas do dia da votação, com a resolução dos pleitos fortemente relacionada com as articulações e as cisões no bloco de centro-esquerda, já estavam esboçadas desde o início da campanha, tendo sido, inclusive, abordadas aqui durante os meses que antecederam o primeiro turno das eleições (vejam-se as colunas publicadas nos dias 20/6, 21/7, 23/9 e 2/10.

Em um estado cujo eleitorado tende, majoritariamente, para a centro-esquerda, Tarso Genro e José Ivo Sartori, eles próprios integrados a partidos que disputam espaço no campo político-ideológico da centro-esquerda, terão que enfrentar, no segundo turno, a difícil tarefa de conquistar o maior número possível de votos entre os eleitores posicionados ao centro do espectro político-ideológico e de avançar, ao mesmo tempo, sobre os eleitores situados à esquerda e à direita.

José Ivo Sartori, herdeiro dos votos antipetistas, que fluíram para sua candidatura já na etapa final do primeiro turno e que sai em vantagem por ter concluído o primeiro turno liderando a disputa, pouco se empenhará para demarcar diferenças com seu adversário. Tudo indica, pela forma como se portou até aqui, que ele evitará, tanto quanto possível, o debate direto com seu adversário, como já revelou sua coordenação de campanha, e que tentará também secundarizar sua participação em governos estaduais peemedebistas anteriores, notadamente no de Antônio Britto.

Com um discurso no qual procurou manter-se acima e desvinculado dos partidos políticos, José Ivo Sartori alinhou-se, no primeiro turno, com Maria Silva, apresentando-se como o “Gringo que faz”, cujo “partido é o Rio Grande”, e como o representante da “nova política”. Repetiu, assim, de certo modo, a estratégia de Germano Rigotto, na campanha de 2002, e, ainda, os discursos de Yeda Crusius, em 2006, e de Ana Amélia Lemos, em 2014. Ao final da campanha, pregando o voto útil, apresentou-se como “o único que pode(ria) vencer o PT”, o que contrariou sua alardeada postura apartidária e de não beligerância.

Alinhando-se com Aécio Neves, no segundo turno, José Ivo Sartori terá que se esforçar para não deixar que a lembrança de suas participações nos governos peemedebistas passados ofusquem suas realizações na Prefeitura de Caxias, seus projetos de futuro e suas promessas de mudanças. Com certeza, ele será instado a explicar o que fez à frente da Secretaria Estadual do Trabalho e Bem Estar Social, entre 1987 e 1988, durante o governo de Pedro Simon, bem como lhe serão cobradas explicações sobre sua atuação, como líder da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa, na renegociação da dívida do Rio Grande do Sul com a União e nas privatizações ocorridas durante o governo de Antônio Britto.

Tarso Genro, tendo que reverter sua desvantagem inicial na disputa, tudo fará para se distinguir de seu adversário e demarcar suas possíveis diferenças. Além de procurar o debate direto com seu adversário e de denunciar suas possíveis recusas à discussão, explicitará os feitos de seu próprio governo, contrapondo-os aos governos peemedebistas anteriores e se empenhará, tanto quanto possível, em revelar a participação de seu adversário nesses governos.

Alinhando-se com Dilma Rousseff, Tarso Genro tentará demonstrar a necessidade da continuação dos atuais governos federal e estadual e do aprofundamento das mudanças já em curso. Procurará os prefeitos e as lideranças dos pequenos municípios, nos quais venceu a disputa no primeiro turno e onde as feridas dos embates históricos travados entre PP e PMDB estão ainda abertas e os ressentimentos que afastam os dois partidos são mais fortes do que os sentimentos antipetistas. Reduto do voto petista durante as últimas décadas, a Região Metropolitana deverá receber atenção especial da campanha de Tarso Genro, visando a recuperação dos votos que lhe fugiram no primeiro turno.

A ação dos partidos e dos blocos políticos será fundamental para a definição dos resultados desta eleição. As defecções de correligionários e os apoios de aliados, à direita e à esquerda, influenciarão tanto o maior ou menor afluxo de votos, quanto os rumos que assumirão os governos a serem constituídos pelos agrupamentos político-partidários que se sagrarem vencedores.

Para o bem da democracia e do eleitorado gaúcho, é desejável que a disputa entre José Ivo Sartori e Tarso Genro seja uma disputa de projetos políticos e de alternativas de desenvolvimento para o Estado e não uma mera disputa de biografias. A despolitização pode granjear votos, mas, com certeza, acrescentará muito pouco para a melhoria das condições de vida da população do Rio Grande do Sul.

*Cientista político


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora