Maria Wagner*
Não dá para negar: quem comanda a edição da revista Veja, engajada na campanha de Aécio Neves, está suando a camisa no combate à reeleição de Dilma Rousseff à presidência da República. Tanto que, nesta semana, a circulação do produto foi antecipada em dois dias, com declarações que, atribuídas ao doleiro delator Alberto Youssef, envolvem o ex-presidente Lula e a candidata do PT no “suposto esquema de corrupção da Petrobras” (página 10 de Zero Hora – 24 de outubro).
Segundo Veja, Youssef afirmou em Curitiba (21 de outubro) que Lula e Dilma sabiam do esquema. Será que a revista fala a verdade? Não, de acordo com Antonio Figueiredo, advogado do doleiro. Ainda no texto publicado pela Zero Hora, ele se disse surpreso. E fez um alerta: “Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo. É preciso ter cuidado, porque está havendo muita especulação”. Obviamente, pelo que se vê nas redes sociais, essa especulação prospera quando vai ao encontro da expectativa do que o leitor deseja ler na revista que compra na banca ou assina. Mas Brasil afora também há um bocado de gente para quem, há muito tempo, Veja perdeu toda a credibilidade. É sinônimo de mau jornalismo.
Faço parte dessa turma. Não sinto raiva da revista. Meu sentimento é de desprezo. Isso poderia mudar se Veja declarasse sua parcialidade e desistisse de recorrer a suposições ou declarações sem apresentar provas. Até lá, para mim, como eleitora, ela é simplesmente carta fora do baralho quando se trata de influência. Além disso, vi coisas bem mais interessantes no decorrer da semana. Aqui mesmo, no Rio Grande do Sul. Por exemplo, o candidato José Ivo Sartori abandonou o estilo “Alô doçura”. O problema é que ele buscou refúgio no humor e acabou dando motivo para deboche e protestos de uma categoria que alguém preocupado com a educação – como ele se diz – deve respeitar: os professores.
Accidente, candidato!! Essa comparação do piso salarial do magistério com o piso que a Tumelero vende foi humor de quinta categoria, que, de quebra, deve ter causado inquietação na redação do Jornal do Comércio pela possibilidade de sugerir uma relação não desejada entre o conteúdo de suas páginas e a campanha política, o que certamente não agradaria a todos os assinantes. O barulho foi grande país afora, ganhando a capa de jornais e citação em comentários de Eliana Cantanhêde e de Christina Lobo, na GloboNews.
Sartori não gostou dessa notoriedade negativa, vendo maldade na exploração de seu mico pelo PT e pretendendo que fosse visto como brincadeira inocente. Caramba, candidato! Inocente? Até posso aceitar que acredite nisso, mas então preciso aceitar também que é muito simplório e nunca entendeu a verdadeira função de um humorista, que é usar a brincadeira para dizer verdades. Em outras palavras, segundo o que já li em livros escritos por especialistas no comportamento humano, a brincadeira é uma forma amena de revelar o que realmente pensamos. Portanto, seu inconsciente lhe pregou uma peça. Além disso, mostrou que até mesmo marqueteiros tão competentes quanto Marcos Martinelli caminham na corda bamba e podem ver seu milagre ameaçado quando o candidato se deixa trair pela palavra.
Em âmbito nacional, além da pressa da Veja em chegar a seus leitores nesta semana, A Folha de S. Paulo de quinta-feira (23 de outubro), circulou com o encarte Eleições 2014, com matéria de capa intitulada “Governo segura divulgação de dados que podem afetar campanha de Dilma”, porque são negativos, mostrando “piora” na área de desmatamento e número de pobres. O governo afirma que a divulgação foi adiada por “razões técnicas e legais”. Na página 3, o mesmo caderno evidencia no título a defesa de Aécio Neves, que se diz vítima de “atentados” à sua honra e, no texto, explica a estratégia do PT para desconstruir o candidato tucano. Mais adiante, na página 5, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogia a “lealdade” e a “resiliência” de Aécio e bate forte em Dilma Rousseff, afirmando que ela é vítima de sua própria ambição, o que a leva a dizer “coisas em que não crê”. Em bom português, FHC diz que a candidata do PT mente.
É guerra. Ela termina no domingo? Acho que não. Vai continuar, na reacomodação de forças do vencedor para que seu governo não seja travado no Congresso.
*Jornalista