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24 de outubro de 2014
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16:57

É preciso votar

Por
Sul 21
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Paulo Timm*

E no entanto é preciso cantar. Mais que nunca é preciso cantar…
Antes, porém, é preciso enterrar os mortos, sem medo dos tortos.
É preciso ter todos os sentimentos do mundo e seguir o Poeta Maior:
“É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio”
,
É preciso amar, casar e ter a casa arrumada
É preciso separar o joio de trigo:
distinguir o justo do injusto sabendo-os igualmente justificáveis
Para tanto é preciso vendar os olhos: enxergar com os olhos da alma
É preciso prevenir o câncer e extirpar o mal pela raiz
Sem jamais confundir ódio de classe com a consciência de si:
Pertencer a si mesmo.
É preciso lembrar e relembrar: o perdão, que do amor é feito
É preciso ler aquele livro e reler aquele outro com o nariz
É preciso saber que um clássico é como a casa da gente:
O lugar pra onde sempre se retorna. Pungente
É preciso saber que a pátria é a língua da gente.
E que a palavra afiada corta: No texto. No contexto.
É preciso saber que tudo é datado: o tempo não é. Dá-se!
É preciso escutar o canto das cigarras e o silêncio da noite
É preciso olhar o céu e contemplar as estrelas,
Tão belas as estrelas e sem noivos. Ei-las.
“Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”

É preciso compreender, mais do que chorar ou rir sem sentido
Afinal, todos se atribuem grande importância e ouvido
Então é preciso ser como os loucos, como as crianças e como os poetas:
Repetir sem cessar: É preciso! É preciso…! Relevância.
“Mas é preciso estar atento e forte”
Principalmente diante da morte
Pedir a Deus, apenas, que ela venha suave e doce como o chá da tarde,
Nada de amargas surpresas. Todo cuidado é preciso.
É preciso tanta coisa, meu Deus!
Por onde começar?
E ainda assim é preciso começar, recomeçar, e ser capaz de beber mil frascos.
“As belas noites são feitas para as palavras puras.
A lua branca deve impedir o sono.
Ébrios nos deitaremos na montanha deserta.
Céu e terra nos servirão de colcha e travesseiro”
.
É preciso envelhecermos juntos e não perder as ilusões
Ao mesmo tempo que os meus, teus cabelos se tornarão
“Brancos como a neve das montanhas, como a lua de verão…”

É preciso aceitar as perdas: Os fracassos são tão importantes quanto as vitórias
Não há mal que sempre dure. Tudo em vão: as glórias, a vida. O amor acaba.
É preciso decifrar o enigma da vida. Em tempo … Tarefa difícil.
É preciso saber que os corpos – todos eles – são conservadores:
O humano, o social, o celeste.
E que só a alma imoral os liberta
Navegar é preciso. Contudo é preciso sondar o tempo e o vento.
É preciso saber nadar, saber andar, saber perder-se no olhar ao longe
sem confundir a poesia com a filosofia…
Antes de tudo isso, porém, é preciso, nesta hora, votar…

*Economista, Pós Graduado ESCOLATINA , Universidade do Chile e CEPAL/BNDES, Ex Presidente do Conselho de Economia DF – Professor UnB


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