Notícias em geral
|
10 de outubro de 2014
|
22:52

Brasil, teu nome é mudança

Por
Sul 21
[email protected]

Enéas de Souza*

Todo mundo está querendo mudanças. Inclusive a Dilma. E por que ela não mudou? Antes de tudo, é preciso dizer: ela e o Lula já mudaram muito o país. Mudaram a economia e a sociedade que FHC e os tucanos deixaram. Mas, por que, mesmo querendo mudanças, a Dilma não mudou a economia nesse ano? Não mudou porque não se muda uma política econômica num ano eleitoral, sobretudo uma política econômica de longo prazo. A mudança de uma política econômica precisa e leva tempo. Mas, o que diferencia a Dilma do Aécio, o que diferencia o governo do Lula e da Dilma do governo neoliberal é exatamente isso: uma política econômica de horizonte amplo. Ou seja, uma política que parta de um projeto, de um projeto de Brasil. A Dilma pensa um Brasil com desenvolvimento econômico e com desenvolvimento social. E para que tenhamos estes dois desenvolvimentos é indispensável que tenhamos uma trajetória de longo termo, baseado numa concepção de um futuro de nação.

As etapas para chegar ao longo prazo

Qual é o projeto de longo prazo para o Brasil? Vale dizer que neste momento o referido projeto deve partir da colocação do país num mundo hegemonizado pelas finanças internacionais e pela eletrônica em processo de expansão. Diante da primeira, o Estado deve armar uma forte defesa econômica, com a finalidade de deter a devastação que elas provocam. Não fazer da dívida pública um instrumento das finanças; não fazer do orçamento um avanço do comportamento financeiro; não fazer do superávit primário e dos cortes fiscais um meio para pagar juros, etc. Isto significa que só o longo prazo, a busca do investimento produtivo, vai reorganizar o país, depois de um período exitoso, na pós–crise mundial, de definição e transição pelo consumo. Este, para a classe média e para a classe baixa, foi usado com o fim de sustentar a atividade econômica e o emprego num período de ruptura cíclica. Ou seja, o consumo deu forte alento ao Brasil desde 2008 até agora. Trouxe, é claro, um tempo para preparar a reformulação e a metamorfose brasileira. Estamos assim, hoje, aptos para fazer parte da arquitetura de uma nova economia mundial hegemonizada pela eletrônica. Com o propósito de diminuir, ou até mesmo neutralizar, as mortíferas políticas das finanças, chegou sim, a hora de construir a mudança.

Com isso, depois de nos protegermos do impacto inicial da crise financeira de 2007/8, conseguimos nos assegurar, neste momento, das condições de provocar o investimento. Cabe frisar enfaticamente: investimento produtivo. Ou seja, nada a ver com o investimento financeiro. E a demora de resolver o norte produtivo tem que ver com a necessidade de instalar e começar uma nova dinâmica econômica. O que importa é, sem dúvida nenhuma, um conjunto de investimentos que faça a economia deslanchar. E o ponto fundamental desta fase já está localizado; e até já principiou o seu movimento. Estamos falando do investimento em infraestrutura. Para tal, foi e tem sido indispensável, uma pausa para prepará-lo, para programá-lo. E ainda há muito que fazer. Contudo há que ser explícito. Esta liderança só o Estado pode ter. Trata-se de executar inúmeros projetos estatais através de investimentos oriundos, principalmente, da parceria setor privado-setor público, com a participação de capitais estrangeiros e/ou capitais nacionais.

Podemos, desta forma, definir este momento como a oportunidade de inauguramos uma ampla onda de investimentos em infraestrutura. Um dinamismo que cobre um espaço enorme: estradas, ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, armazéns, transportes urbanos, energia, etc. E, também, produzirmos a base para a tecnologia vitoriosa, a infraestrutura eletrônica. Vem com toda a força um mar volumoso de recursos e de realizações na direção das condições futuras de produção. Estes investimentos caminham para dar origem a uma segunda fase desta etapa do desenvolvimento. Virá com ela uma segunda plataforma de crescimento, originada de investimentos internacionais e nacionais no nível produtivo das cadeias globais de valor. O campo a ser preenchido é o das novas tecnologias de comunicação e informação, é o da internet, é o da nanotecnologia, é o da biotecnologia. Investimentos no bojo de um projeto de nação. Um projeto de desenvolvimento que pode assegurar não só o crescimento do PIB, o crescimento da renda, o crescimento do emprego, mas também uma liderança na América Latina, uma integração avançada no BRICs, um dialogo em posição média de força na composição da nova geoeconomia e geopolítica mundial. (E isto já começou com a proposição do Banco de Desenvolvimento e um Fundo de Assistência Mútua em caso de crise financeira, na última reunião dos BRICS em Fortaleza.)

Como linkar o curto e o longo prazo?

A grande questão aqui é organizar os problemas de curto prazo a partir do longo prazo. É preciso ter clareza total: é o longo prazo que comanda o caixa, que comanda o orçamento, que comanda os gastos, que comanda o superávit fiscal, que comanda a inflação, que comanda a moeda, que comanda o nível de taxa de juros, etc. Trata-se de uma implantação de uma política de longo curso numa negociação com as dificuldades do imediato. Portanto, não é o curto que comanda o seu oposto. E este movimento na direção do futuro, ao criar o investimento produtivo gerando mais empregos, vai reposicionar, vai hierarquizar as questões de hoje, as questões do curto e do curtíssimo prazo. E é assim que a Dilma enxerga esta estratégia econômica. Por essa razão ela tem tanto interesse em mudar. E em mudar para introduzir as mais notórias alterações sociais que podem vir na educação, na saúde, na previdência, na segurança. Uma sociedade brasileira que entre na sociedade eletrônica do século XXI. O que está em jogo, no limite, na posição da Dilma é um manejo adequado das exacerbações das finanças, produzindo o contraveneno básico, o desenvolvimento produtivo e social do Brasil.

Pois bem, existe um Projeto Aécio?

Em função do que dizem Aécio e Armínio Fraga, não. Eles dizem só palavras vagas. Nenhuma ideia. Shakespeare diria; “Words, words, words”. Não se fala em investimento produtivo. Na verdade, falam ambiguamente em inversores, investidores. Na linguagem dissimulada das finanças, esses investidores, de fato, são investidores financeiros que vão atuar na bolsa, no mercado de títulos, sobretudo no mercado de títulos públicos. E é por esse canal que a dívida do Estado vai se tornando uma fonte de lucratividade das finanças. E com isso se corrói insidiosamente o projeto de longo prazo. E por quê? Porque os recursos públicos vão se dirigindo, vão se tornando, vão se encolhendo para soluções e decisões de curto e de curtíssimo período. Importa a especulação de hoje e não a economia produtiva de agora e de amanhã. Está aí a significação daquilo que Armínio Fraga fala quando diz que o Brasil precisa mobilizar capital. Entenda-se: mobilizar capital para o jogo dos papéis públicos e privados. Entra-se por todos os poros nas veredas desses mercados e desaba-se no furacão do cassino financeiro.

Desta forma, não há projeto de Brasil, não há projeto de investimento produtivo. Não há preocupação com uma multiplicidade simultânea de investimentos de infraestrutura para preparar a continuidade de expansão dos investimentos na produção. Não há nem política, nem estratégia, nem projeto de país e nem de nação. Porque impera um objetivo único e obsessivo: a expansão dos investimentos financeiros. Repito para enfatizar: expansão dos investimentos financeiros. Que são dinheiro que procura mais dinheiro. Capital que não passa pela construção de uma nova estrutura produtiva, que mergulha direto na vertigem do jogo da bolsa e dos inumeráveis ativos fictícios criados para o rodopio das finanças. Não foi o que ocorreu freneticamente no período neoliberal de 1994 a 2002 no Brasil?

O que existe, na visão de Aécio, na visão do PSDB, é um projeto de Brasil como uma praça, como um local, como um vasto mercado da expansão financeira mundial, que é uma expansão instantânea. É a economia do hotmoney. E o problema é que é uma economia para quem tem muito dinheiro, porque só muito dinheiro traz especulativamente muito mais dinheiro. E se você é classe média, o máximo que você deve ter é uma migalha, que pode desaparecer como aconteceu com muita gente na catástrofe americana de 2008. Ou como na crise dos bancos na época de FHC, quando o Estado pagou para a reordenação do sistema financeiro brasileiro. É sempre o mesmo esquema. Eles ganham e o Estado, paga. E nós – você, eu e o país – somos quem perdemos. Pergunte aos gregos, aos portugueses, aos espanhóis, aos italianos, se não é assim? Pesquise para ver. Não será, portanto, o recomeço da ciranda financeira que pretende Armínio Fraga quando propõe o banco central independente, sem a interferência do presidente do país? Não é uma autoimolação de Aécio Neves e do Brasil? Não será um projeto de abandono da produção e do emprego?

Para variar um pouco, veja o que aconteceu, em termos de trabalho, no período governamental de 1994-2002, aquele do PSDB e do FHC. As taxas de desemprego foram muito altas: Salvador chegou a 25 por centro. Os salários caíram pelas ladeiras do Brasil. A informalidade e a precarização atingiram níveis inquietantes. Inúmeros direitos trabalhistas foram retirados por portaria, decreto, medida provisória e até mesmo por lei. E pasmem queridos leitores: em cada dois desempregados um era jovem. O governo começou com 4,5 milhões de trabalhadores desempregados e terminou com 7 milhões. Pode? Se você gosta de perigo e de sofrimento e do desespero: vote no sorridente Aécio – a sedução do precipício, como disse um amigo.

O Brasil quer mudanças

Eis o momento hamletiano; ser ou não ser. Você tem um menu com dois pratos, você pode escolher. Que tipo de mudança você quer? Você vai mudar com Aécio para um país dos papéis financeiros e sem desenvolvimento produtivo e com desemprego? Ou você vai mudar com a Dilma para uma economia com infraestrutura e produção avançada, uma economia moderna, contemporânea e se inserindo, com direitos sociais e emprego, na 3ª Revolução Industrial?

*Economista


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora