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10 de outubro de 2014
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15:30

A vitória será do conservadorismo?

Por
Sul 21
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Maria Wagner*

5 de outubro de 2014. A votação estava em andamento e a revista IstoÉ, um dos produtos da Editora Três, circulava pelo País escancarando o combate à candidata Dilma Rousseff, que busca a reeleição para a Presidência da República. Em letras garrafais, a chamada na capa remete à matéria que Cláudio Dantas Sequeira assina nas páginas centrais, com uma pergunta no título: “O Brasil vai mudar”?

IstoÉ

Até aí tudo bem. Afinal, uma reforma na casa – derrubando paredes, ampliando espaços, abrindo janelas e melhorando as redes de luz e água – não exige a troca de ocupantes. O mesmo vale para um país. Mas a IstoÉ discorda. Tanto que conclamou os eleitores ao voto pela mudança como obra a ser realizada por Aécio ou Marina e deixou isso muito evidente quando colocou a foto de ambos, sorridentes, no alto da capa. Portanto, o que a revista sugeriu é o despejo da atual moradora.

As urnas falarão novamente no dia 26 de outubro. Realizarão o desejo da IstoÉ? A campanha eleitoral gratuita nas emissoras de rádio e televisão começou nesta quinta-feira (9) e “será dura” antecipou Aécio Neves, que, pelo jeito, pretende ganhar a eleição nos ombros do avô, Tancredo Neves, e de Eduardo Campos. Presunçoso, o que tem como estilo, ele nem se dá conta da indelicadeza que comete com Marina Silva quando diz que “no domingo o Brasil escolheu a verdadeira mudança”.

Conversa de sonso, porque até aqui Aécio só garantiu uma vitória: sobre Marina. E quando se apregoa como a “verdadeira mudança”, está afirmando que ela não está preparada para fazê-la. Será que ela viu e ouviu? Acredito que sim e penso que, se é minimamente sensível e inteligente, vai agora mandá-lo catar coquinhos em vez de lhe dar seu apoio no segundo turno. É o que eu faria no lugar dela.

A decisão de Marina Silva também está sendo observada na Itália. O jornalista Omero Ciai comentou esta semana no jornal La Repubblica que “uma declaração feita por ela permite que se entenda sua opção como uma escolha entre “carregar a cruz” do apoio a Aécio Neves e “mergulhar no inferno” com o Brasil que apoia Dilma”. O colunista acrescentou que a candidata derrotada do PSB “pede uma reforma política que impeça a reeleição presidencial (apenas um mandato de quatro anos), a criação de escolas integrais e uma política de desenvolvimento sustentável que tem como questão central a proteção da Floresta Amazônica”. Aécio vai concordar com tudo? Já disse que não. O fim da reeleição não é tema para 2018.

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Mas ele não mentiu quando afirmou que a disputa “será dura”. Inclusive cuidou para que tivesse esse tom já na reestreia da propaganda eleitoral obrigatória, sob os aplausos dos que disparam cretinices criminosas contra os nordestinos eleitores da candidata de Dilma Rousseff. E, obviamente, vai continuar explorando, até a exaustão, o conteúdo da delação premiada do ex-diretor da Petrobras Roberto Costa.

Aliás, o depoimento em que Costa apontou PT, PP e PMDB como vilões pela propina paga por empreiteiras – Odebrecht entre elas – foi uma das manchetes do Jornal Nacional, imediatamente anterior à entrada no ar da campanha eleitoral na quinta-feira. Notícia é notícia. Sobre isso não há o que dizer. Porém algo de estranho aconteceu na sequência: a nota lida por William Bonner, segundo a qual “o procurador Janot não encontrou indícios de crime” na construção do aeroporto em terras da família de Aécio Neves e remeteu o caso à justiça civil de Minas. Estranho por quê? Porque essa informação é velha; rolou nas redes sociais há um mês. Seu uso agora no telejornal da “Golobo” foi muito oportuno para o tucano. Alguém duvida?

 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Dilma Rousseff voltou mais branda e propositiva. Gostei dela. Admitiu que seu governo não resolveu todos os problemas do Brasil, que o atendimento à saúde precisa melhorar, que mudanças devem ser feitas na economia, “mas sem causar desemprego”, que a educação e a segurança também carecem de mais providências. E muito importante: não negou a existência da corrupção, enfatizando, no entanto, que não impediu sua investigação. Portanto, não empurrou o malfeito para debaixo do tapete. Essa é uma atitude radicalmente oposta à de Aécio, que, quando perguntado sobre o mensalão mineiro e o trensalão (São Paulo), em que o protagonismo é do PSDB, foge afirmando que “ainda não foram levados a julgamento”.

Artigo no jornal alemão Die Zeit afirma que Dilma está sendo prejudicada por seu comportamento mais sisudo e, de certa forma, distante da população. Mas acrescenta que ela também sofre as consequências das denúncias de corrupção envolvendo seu partido, embora não tenha participação no malfeito e não tivesse podido impedi-lo. A matéria ressalta que o governo Lula e também o de Dilma tiraram milhões de brasileiros da miséria e que a vitória de Aécio Neves – se ocorrer – será o triunfo do conservadorismo no Brasil. As manifestações dos eleitores dele sobre os nordestinos confirmam a análise do jornal alemão.

*Jornalista


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