Notícias em geral
|
23 de setembro de 2014
|
14:15

O Rio Grande do Sul e o bom governo

Por
Sul 21
[email protected]

Leonardo Avritzer*

Recentemente um colunista do Valor Econômico denominou a Rio Grande do Sul de “máquina de moer governadores”. Afinal, desde que foi instituída a reeleição, o estado não re-elegeu nenhum governador, provavelmente o único caso no país. É verdade que os gaúchos tiveram uma safra de governadores complicados que comprometeram fortemente a viabilidade fiscal do Estado, começando por Antônio Brito e pelas isenções fiscais injustíficáveis por ele oferecidas e terminando com Yeda Crusius e o escândalo no Detran do Estado. Mas, acho que nesta eleição os gaúchos deviam pensar melhor antes de derrubar mais um governador.

Tarso Genro é certamente o melhor governador do Estado em muitas décadas se analisarmos o governo por duas óticas, a da economia e a da participação política. Pela ótica da economia, o estado do Rio Grande do Sul que vinha crescendo abaixo da média nacional por muitas décadas cresceu acima da média brasileira nos últimos 4 anos. A economia do Estado cresceu 4,1% durante a gestão de Tarso Genro. Diversas ações foram responsáveis por esta retomada ainda frágil da economia gaúcha: o encontro de contas com o governo federal; a expansão da indústria da construção naval na região de Rio Grande, entre outras. É verdade que ainda não foi possível conter o crescimento das despesas, mas muito corajosamente o governo aumentou a contribuição dos inativos que era necessária.

Pelo lado da participação social, o Rio Grande do Sul retomou a sua vocação de fazer participação social nas regiões do Estado. O sistema de participação estadual implantado é o que melhor funciona no Brasil, oferecendo à cidadania um conjunto de oportunidades para participar da política local, entre elas: o orçamento participativo, as consultas, os conselhos estaduais e o gabinete eletrônico. Todas estas são políticas importantes e que funcionam bem, na perspectiva de trazer o cidadão para a política. Tal cardápio participativo não existe em nenhum outro estado da federação. A pergunta então que se faz é por que o gaúcho não quer reeleger um governo que é exitoso em áreas importantes?

A resposta é a crise fiscal do Estado que ainda não está resolvida. Apesar de melhoras na arrecadação, os gastos correntes crescem exponencialmente no Rio Grande do Sul e os inativos recebem a maior parte da folha. Com isso, o leitor tem uma sensação de crise no Estado, o que não deixa de corresponder à realidade. A pergunta então que fica aos gaúchos é se a continuidade administrativa de um governo que tem apontado para uma economia melhor e que tem aberto novas vias para a participação popular não justifica um voto pela reeleição. Afinal de contas, se os gaúchos estão votando contra a crise fiscal não é melhor votar a favor de quem tem a capacidade de resolvê-la?

* Professor do Departamento de Ciência Política da UFMG


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora