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29 de setembro de 2014
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13:09

A campanha amadureceu

Por
Sul 21
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Céli Pinto*

Por varias vezes nesta coluna enfatizei a necessidade de politizar a política e de trazer os partidos para a linha de frente da campanha. Afirmei que a ausência de uma disputa eleitoral que colocasse frente a frente projetos poderia levar a uma perigosa situação de bonapartismo. Antes de continuar, é necessário fazer dois aclaramentos importantes. Primeiro, é ingênuo pensar que há candidatos sem projetos. Existem, isto sim, candidatos que não podem expor seus projetos porque eles vêm de encontro aos mais primários direitos republicanos. Segundo, quando falo de bonapartismo, estou me reportando ao conceito cunhado por Marx, que nada tem a ver com experiências populares-populistas de alguns países latino-americanos atualmente.
Isto posto, gostaria de me ater às pesquisas eleitorais publicadas na última sexta-feira, pois elas dão guarida a minha defesa dos partidos políticos e dos discursos partidários.

Vejamos o que indicam os resultados das pesquisas para a Presidência da República: Dilma e Aécio representam propostas partidárias claras, posturas firmes em relação ao que fazer com a economia e com as políticas sociais. Ambos pertencem a partidos que têm história, têm quadros e militantes. Porém, depois do desastre aéreo, a providência divina nos brindou com uma candidata que se negava a fazer política, que – escolhida por um ente divino – dizia ter o dom de saber quem eram os bons e quem eram os maus. Negou-se a falar de partidos, de propostas, de posturas. Não porque não as tivesse, o seu economista de plantão e a amiga pedagoga-banqueira indicam muito claramente qual seria o rumo de seu governo.

O trauma do acidente, a exploração do divino e o veloriomício de Eduardo Campos fizeram com que esta etérea personagem subisse nas pesquisas, ameaçando o primeiro lugar de Dilma e tornando Aécio quase um candidato nanico. Mas o Brasil tem uma democracia já madura e isto também envolve um eleitorado que, mesmo emotivo e levado pelas lágrimas televisivas no primeiro momento, volta-se na reta final para a política. A pesquisa indica que Marina começa a se diluir em seu próprio discurso, Dilma aproxima-se de uma vitória no primeiro turno, ainda que muito difícil, e Aécio retoma seus votos partidários.

O interessante é que o mesmo acontece na corrida eleitoral no Rio Grande do Sul. Por muitas semanas pareceu que a mídia vencia a política, que os partidos haviam saído de cena e que dois jornalistas da RBS se tornariam os políticos mais importantes do estado: Ana Amélia Lemos e Lasier Martins. Ambos têm partidos, ambos defendem grupos muito bem definidos, ambos têm passado, mas tratam de negar tudo isto e se apresentam como indivíduos que vieram para salvar o Estado da sua vida política, bela vida política, diga-se de passagem.

A candidata a governadora falava de esperança e o comunicador dizia que estava cansado de ver o que os políticos faziam e resolveu se candidatar para trazer soluções. Ora, depois do primeiro momento de entusiasmo, os eleitores e eleitoras começaram a perceber que eles não são só indivíduos, mas pertencem a grupos de interesses, que suas imagens precisam ser contrapostas aos projetos dos outros candidatos.

A pesquisa publicada nesta sexta-feira (26), mostra a fragilidade da política que não se apresenta como política. Depois de estar 10 pontos atrás de Ana Amélia, Tarso Genro empata, em uma trajetória ascendente. O outro candidato partidário, Sartori, também ganhou quatro pontos nas pesquisas. E ai ocorreu também um fenômeno interessante, mas completamente explicável: Vieira da Cunha tornou-se um candidato nanico, com 2% dos votos. O que aconteceu? O PDT apostou na popularidade de seu candidato a senador e Vieira da Cunha deixou de ser o candidato de um partido, de largas tradições, para ser papagaio de pirata de Lasier Martins, que está no partido como poderia estar em qualquer outro partido que desse abrigo a ele e a seu grupo de interesse. Este, por sua vez, também começa a se esvair frente à candidatura de Olívio.

Seria irresponsável prever agora os resultados das eleições no próximo 5 de outubro, mas já é possível dizer que o processo político eleitoral amadureceu ao longo da campanha com este novo quadro.

* Cientista Política, professora do Departamento de História da UFRGS


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