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1 de agosto de 2014
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20:36

Abre o olho, Dilma!

Por
Sul 21
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Benedito Tadeu César*

Em uma posição confortável na corrida eleitoral hoje, a ponto de poder vencer a disputa ainda no primeiro turno, Dilma Rousseff pode ter sua reeleição ameaçada caso a disputa vá ao segundo turno. O mau humor e o pessimismo da grande mídia e dos chamados mercados é tal que pode contaminar os eleitores e abrir chances a candidatos agora pior colocados na disputa.

Após o fracasso do “caos” apregoado e alimentado durante os meses que antecederam à Copa do Mundo, o foco preferencial das críticas da grande mídia passou a ser o “caos” econômico, eminente e irreversível, dizem, caso Dilma se reeleja presidenta.

O bombardeio é intenso e começa pelo desempenho da Petrobras, seja devido à compra da refinaria de Pasadena, seja devido ao preço do combustível (pasmem), mantido baixo (o que gera menores ganhos aos acionistas), para segurar a inflação, ou seja, ainda, devido aos leilões do Pré-sal, cujas regras de nacionalização “afastaram investidores estrangeiros” (que participariam em posição minoritária e, por este motivo, obteriam ganhos menores do que a Petrobras).

Vivemos, de acordo com as notícias diárias da grande mídia, à beira de um cenário de estagflação, o pior dos mundos econômicos, no qual a economia estagna e a inflação dispara. O ciclo virtuoso de crescimento com distribuição de renda chegou ao fim, afirmam. Serão necessárias reformas abruptas e profundas, além de impopulares. Será preciso desvalorizar o Real, elevar os juros básicos da economia, enxugar a máquina pública, paralisar obras e elevar preços das tarifas públicas, da gasolina e da eletricidade, para que o país não caia no abismo, sentenciam.

Ainda que o Brasil continue crescendo em ritmo mais acelerado do que a maioria dos países do G-20 e dos BRICS, que a situação de emprego seja a mais confortável entre os países desenvolvidos (o pleno emprego continua mantido) e que a inflação esteja dentro da meta, o clima de pessimismo passa a atingir parcela importante do eleitorado, que começa a temer a possibilidade de perder os ganhos que obteve durante os últimos 12 anos. Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, afirma a sabedoria popular.

Na guerra pelo convencimento do eleitor, todas as armas são utilizadas. Além da grande mídia, também empresas do setor financeiro saíram a campo para apregoar a catástrofe em caso de vitória de Dilma Rousseff. As mais ousadas, a minúscula Empiricus e o gigante Santander à frente, não apenas alertaram seus clientes sobre os perigos da reeleição de Dilma como também se apregoaram capazes de fazê-los lucrar com as oscilações da bolsa de valores, que se movem em sentido inverso às oscilações das intenções de voto em Dilma.

Esses procedimentos expressam sentimentos e revelam práticas de amplos setores das classes empresariais, que preferem eleger qualquer outro candidato (alguém se lembra o que fizeram para eleger Collor de Mello?) a permitir que Dilma Rousseff seja reeleita e que apostarão todas as suas fichas no adversário que se revele capaz de enfrentá-la com alguma chance de vitória. Para que isto possa acontecer, entretanto, precisam que a eleição seja levada para o segundo turno, quando acreditam que Dilma possa ser vencida, com a união de todos os demais candidatos contra ela.

Além do bombardeio de más notícias, reavivam-se práticas utilizadas desde 1989, na primeira eleição presidencial disputada pós-ditadura, quando Mário Amato, então presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), declarou que 800 mil empresários brasileiros abandonariam o país em caso de vitória de Lula da Silva. Em 2002, diante da iminência da eleição de Lula, o dólar disparou, o “risco país” (definido por agências financeiras internacionais) ultrapassou mil pontos e elevou às alturas os juros da dívida brasileira. Naquele momento, sintetizando o pensamento de grandes segmentos empresariais, George Soros, o megaespeculador internacional, afirmou que os brasileiros não tinham o direito de eleger, a seu bel prazer, qualquer um como presidente da República.

Hoje, fracassada a estratégia centrada nas denúncias de corrupção, tentada ao logo de todo o ano passado e abortada depois da revelação do “Aécioporto”, e diante do insucesso da estratégia do “caos na Copa”, utilizada durante o primeiro semestre do corrente ano, será a temática da economia e das dificuldades econômicas do Brasil, ocultando-se os efeitos da crise internacional sobre o país, que constituirá o centro do bombardeio contra Dilma Rousseff. A estratégia do “caos econômico” substitui, pois, as estratégias de “caos” anteriores: da corrupção e da Copa.

Afastar o pessimismo e impedir que o medo se instale nos segmentos de classes médias e se propague pelas grandes massas populares, recém-ingressadas nos mercados de consumo e de serviços públicos, será o grande desafio a ser enfrentado por Dilma Rousseff e pelos estrategistas de sua campanha eleitoral. Qualquer erro poderá ser suficiente para levar a eleição ao segundo turno, quando os resultados se tornam, quase sempre, imprevisíveis. Abre o olho, Dilma!

*Cientista político


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