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4 de julho de 2014
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14:19

Jornais da Capital circulam sem pesquisa Datafolha. Por quê?

Por
Sul 21
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Jornais da Capital circulam sem pesquisa Datafolha. Por quê?
Jornais da Capital circulam sem pesquisa Datafolha. Por quê?
O único jornal de Porto Alegre a publicar os resultados da pesquisa Datafolha
O único jornal de Porto Alegre a publicar os resultados da pesquisa Datafolha

Maria Wagner*

É quando se escancara a desvantagem do jornalismo diário de papel em relação à mídia eletrônica. Os leitores viram: entre os jornais de Porto Alegre desta quinta-feira, 3 de julho, apenas O Sul circulou informando, em manchete na capa e abrindo a página oito, o resultado da pesquisa Datafolha mais recente sobre o desempenho dos candidatos à presidência da República, realizada nos dias 1 e 2 do mês que está na primeira semana.

Às nove da manhã eu já havia lido a Zero Hora, o Correio do Povo, o Jornal do Comércio e, confesso, levei um susto quando vi a capa de O Sul. A segunda reação foi colocar meus olhos castanhos em dúvida. Fossem azuis ou negros talvez enxergassem melhor. Mas como? Nem óculos uso. E segui duvidando. “Será que o editor se enganou?”, perguntei a meus botões. Gosto de ouvi-los. Às vezes, eles me recolocam no prumo. Puxam minhas orelhas. “Foi ali que você errou!”, dizem.

Mas – caramba! – não fechavam os dados desta pesquisa com a anterior, que apontava perda da presidenta Dilma Rousseff entre os eleitores no quesito intenção de voto. A de agora diz que a posição dela melhorou, cresceu 4 pontos percentuais e passou de 34% para 38%. Diante disso voltei aos jornais já lidos. E ainda conversando com meus preciosos botões cheguei a admitir que “provavelmente exagerei na velocidade da leitura”. Que nada! A releitura serviu apenas para confirmar que Zero Hora, Correio do Povo e Jornal do Comércio foram vítimas do que no jargão da concorrência jornalística se tem como “furo”. A propósito, já trabalhei em uma redação onde o chefe de reportagem atualizava no mural, diariamente, os tais furos sofridos pelos rivais. E comemorava.

Peço desculpas ao editor de O Sul. O problema é que sou uma espécie de reencarnação de São Tomé e necessito muito, para crer, colocar o dedo na ferida. Por isso, deixei os jornais sobre a mesa, o cafezinho à espera e tomei assento na frente do computador. Fui direto ao site de Edgar Lisboa que, aliás, tem coluna diária no Jornal do Comércio, e lá estava a informação sobre a pesquisa. O que ou quem impediu sua publicação nos três jornais de Porto Alegre? Pode ter sido decisão da própria Folha de São Paulo liberá-la para os demais somente depois de tê-la como manchete nas bancas. Mas se é isso, não valeu para O Sul. Questão de agilidade?

No terreno das suposições, posso imaginar também que os editores dos jornais que não publicaram a pesquisa receberam ordem de não fazê-lo. Ou os três foram solidários no cochilo. Opa! Cochilo talvez não seja o termo mais apropriado nesse caso. Principalmente quando usado por quem conhece a dinâmica do baixamento de páginas nas redações e sabe que os editores respeitam horários, mesmo que a contragosto. Então só pode ter sido má vontade deles com a presidenta e candidata à reeleição Dilma Rousseff? Penso que não.

Seja qual for motivo, nenhum deles atende à vontade dos leitores, dos quais a informação foi literalmente sonegada. À tarde, o “furo” de O Sul recebeu comentários nas bancas de jornal e revista que visitei. O leitor é malicioso. A ironia corre solta. Agora, para aparecer bem na foto, os faltosos terão que recuperar a notícia com versões e interpretações para que não tenha o sabor que em torno da mesa chamamos de “comida requentada”. Esse episódio – um desgosto capaz de provocar azia em quem não viu a notícia a tempo de colocá-la na página – só mostra que o maior nem sempre é o melhor. Às vezes, o menor ganha a corrida porque o grandão olha em volta e se julga sem adversários na competição. Mas tem.

*Jornalista


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