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28 de julho de 2014
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18:50

Debates como esses, ninguém merece

Por
Sul 21
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Benedito Tadeu César*

Alguém ainda tem paciência para assistir e/ou ouvir debates eleitorais na televisão e/ou no rádio? São debates insossos, que se tornam desinteressantes logo nos primeiros minutos de suas transmissões. Mesmo sem ter acesso aos índices de audiência dos debates ao governo do Estado e ao Senado já realizados no Rio Grande do Sul, pode-se concluir, sem medo de incorrer em erro, que os índices de audiência foram baixos e decresceram ao longo dos programas.

Muitos fatores contribuem para a má qualidade dos debates eleitorais. Desde a legislação e a regulamentação eleitorais, que obrigam a presença de todos os candidatos, mesmo daqueles que detêm índices de intenção de voto próximos de zero, passando pelas regras rígidas impostas pelas assessorias dos candidatos, que impedem a livre confrontação de ideias e de posicionamentos entre os candidatos, até a baixa criatividade das emissoras que não conseguem inovar no formato dos programas.

Em virtude da legislação eleitoral, os debates acabam por reunir uma maioria de candidatos sem um mínimo de representatividade e que não têm informações rudimentares sobre gestão pública, mas que expressam opiniões e formulam propostas para a vida coletiva e para a gestão do Estado, as quais, pelos limites de informação e experiência, tendem a ser vagas e restritas ao campo de vivência pessoal de cada candidato.

Dos oito candidatos a governador do Rio Grande do Sul registrados e com presença assegurada nos debates, segundo a última pesquisa divulgada, seis têm intenções de voto abaixo de 5%, sendo que um tem 4%, outro tem 2%, dois têm apenas 1% e dois sequer pontuaram. Todos eles, no entanto, têm assegurado participação nos debates em condição de igualdade com o governador e com a senadora do RS, que detêm percentuais de intenção de voto acima dos 30%. O mesmo ocorre nos debates com os candidatos a senador, nos quais, além do empate técnico entre Lasier Martins e Olívio Dutra, apenas Beto Albuquerque detém percentual significativo e os outros quatro candidatos variam de 3% até 0% de intenção de votos.

Em busca de espaço e sem preparo para formular e especificar propostas para os problemas mais centrais do Estado, os candidatos nanicos se esmeram em criticar os candidatos melhor colocados ou, ainda, passam a agir como força auxiliar de uma candidatura melhor posicionada, provocando uma situação de flagrante desequilíbrio entre os candidatos e que afronta, inclusive, o princípio do respeito à vontade da maioria, um dos fundamentos da democracia moderna. Detendo percentuais de representação da vontade popular que somados atingem apenas 8% do total, os candidatos nanicos ao governo ocupam 75% do tempo dos debates, sem que a maioria deles tenha propostas realmente relevantes a apresentar.

Sem eliminar dos debates os candidatos nanicos, o que seria antidemocrático, deveria ser possível realizar debates com menor número de participantes, promovendo-se confrontos entre os melhores colocados e outros entre os com menores índices de intenção de votos ou, ainda, debates entre três candidatos, de forma que todos eles se enfrentassem, em rodízio e em igualdade de condições, se questionassem livremente e tivessem tempo suficiente para expor suas propostas e concepções de sociedade e de governo.

Para que isto fosse possível, não seria necessário sequer alterar a legislação eleitoral, já que ela estabelece que as regras dos debates sejam pactuadas entre, pelo menos, 2/3 dos candidatos aptos ou, inexistindo acordo, seja assegurada a participação de todos os candidatos dos partidos políticos com representação na Câmara dos Deputados, sendo possível a realização dos debates em conjunto, com a presença de todos os candidatos a um mesmo cargo eletivo, como tem sido feito até aqui, ou ainda a realização de debates em grupos, com a presença de, no mínimo, três candidatos, como se propõe aqui. Seria preciso apenas que os candidatos e suas coordenações de campanha tivessem disposição de colaborar e que as emissoras de rádio e de televisão tivessem a disposição de realizar um maior número de debates.

Todos ganharíamos. Os candidatos, que teriam maior tempo para expor suas propostas e, inclusive, maior exposição na mídia, os eleitores, que teriam melhores condições de avaliar os projetos de cada candidato, e as emissoras de rádio e televisão, que, não obstante tivessem que promover debates com candidatos nanicos e com pouca audiência, teriam também a oportunidade de promover debates com grande audiência, quando se confrontariam os candidatos com os maiores índices de intenção de votos.

Um pouco mais de criatividade e de respeito aos eleitores faria bem a todos.

*Cientista social


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