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22 de junho de 2014
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14:59

Resistência Francesa: legado de bravura e liderança é lembrado décadas depois

Por
Sul 21
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Soldado membro da resistência francesa|Foto: Wikicommons
Soldado membro da resistência francesa|Foto: Wikicommons

Sarah Carneiro
Ópera Mundi

Henri Philippe Pétain, militar que ganhou notoriedade na Primeira Guerra, foi convidado a integrar o governo francês em maio de 1940. Neste período, a Segunda Guerra já havia sido deflagrada e fazia poucos dias que as forças alemãs tinham invadido a França.

Pétain rapidamente chegou ao posto de primeiro-ministro, o que aconteceu na noite do dia 16 de junho, quando o então chefe de Estado, Paul Reynaud, por discordar da condução passiva que o poder francês vinha assumindo frente à invasão dos alemães, tornou público seu pedido de desligamento.

Substituição feita, no primeiro dia após sua nomeação, Pétain anunciou um armistício cuja assinatura aconteceria já no dia 22 seguinte, no mesmo vagão de trem, na cidade francesa de Compiègne, onde o general francês Ferdinand Foch havia definido na Primeira Guerra os moldes da rendição alemã. A escolha do mesmo lugar para a celebração do cessar-fogo foi uma exigência de Adolf Hitler, que fez questão de se sentar na mesma cadeira que antes havia sido ocupada por Foch.

Através do Segundo Armistício de Compiègne, estavam então confirmadas todas as condições para que a Terceira República, que vigorava em território francês na época, fosse dividida em Zone ocupée (Zona Ocupada), ao norte, e Zone libre (Zona Livre), ao sul, através daquela que ficou conhecida como Ligne de démarcation (Linha de Demarcação) e impôs ao país uma severa fronteira interna.

A Zone ocupée ficou sob a orientação dos códigos do III Reich, e a Zone libre, conhecida como La France de Vichy, teve uma gestão administrativa que somente na fachada era francesa, pois não deixou de ser interferida pelos alemães.

O chamado de De Gaulle

A cessão ao domínio alemão foi avaliada como impertinente por parte do general Charles de Gaulle, antigo Secretário-Geral do Estado no governo de Reynauld, e que ao saber que um armistício tinha sido anunciado foi imediatamente a Londres solicitar aos britânicos apoio para que a França permanecesse lutando.

Foi então que munido deste ideal, De Gaulle no dia 18 de junho de 1940 se dirigiu aos estúdios da Rádio BBC e, através de uma emissão radiofônica, convocou os franceses a fugirem da servidão, continuarem a luta e a não se renderem, “pois a pátria estava em perigo e era preciso salvá-la”.

Novos apelos seguiram ao do dia 18, de modo que De Gaulle, a partir de Londres, suscitou no povo francês a necessidade de fazer frente ao nazismo e estruturar um movimento, que além de reagir à ocupação alemã, precisava se opor ao governo vigente.

E foi a esse combate político-militar, que aconteceu entre 1940 e 1944, dotado de teor patriótico e contornos revolucionários, constituído por homens e mulheres contrários à ação de Pétain e à consequente conversão da França num país colaboracionista, que foi dado o nome de “Resistência Francesa”.

A Resistência chegou a reunir 450 mil pessoas; mas considerando os leitores da imprensa clandestina, alcançou o número de 2 milhões de simpatizantes, aproximadamente.

Perseguição

Segundo estudiosos, a Wehrmacht, forças armadas alemãs, contava com 900 espaços de detenção; eram campos de internamento, de concentração, prisões e fortalezas, para aonde foram encaminhados judeus, comunistas, alemães antifascistas e detentos políticos.

Georges Duffau-Epstein, presidente da Associação Nacional das Famílias de Fuzilados e Massacrados da Resistência Francesa e Seus Amigos (ANFFMR), afirma que “140 mil resistentes foram deportados ou levados a campos de concentração, dos quais quase 100 mil morreram”. 

A Resistência contou com duas grandes frentes: a Résistance intérieure (Resistência interior), organizada dentro da França, e a France libre (França Livre), constituída fora das suas fronteiras, e que na Inglaterra desencadeou a FFL – Forces françaises libres (Forças Francesas Livres). A France libre, no entanto, não se restringiu somente à capital britânica, pois ganhou terreno na África do Norte.

Jornais e panfletos circulavam na França disseminando as ideias da Resistência, em torno das quais gravitavam distintas perspectivas, a saber: nacionalista, cristã, socialista e comunista. Alinhá-las tornou-se, então, uma urgência, de modo que foi desencadeado um processo de unificação sob a liderança de Jean Moulin, que em janeiro de 1943, criou o MUR – Mouvements unis de la résistance (Movimentos Unidos da Resistência).

Os partisans e suas estratégias

Os resistentes eram chamados de partisans (partidários), adotavam pseudônimos, costumavam usar barba, bigode e óculos falsos como disfarces e fizeram da música Chant des partisans, de Anna Marly, seu hino. Entre eles, havia comerciantes, professores, funcionários públicos, universitários e empresários.

Segundo o historiador Jean-François Muracciole, apesar dos esforços empregados para conseguir fundos e se armar, o movimento sofria de uma contínua falta de dinheiro e sua quantidade de armas era insuficiente.

Para minar o poder alemão, os partisans recorreram à sabotagem, espionagem, rede de informação, greve de setores estratégicos, corte de cabos telefônicos e à formação de maquis, grupos camuflados que se posicionavam em pontos estratégicos para desestabilizar as ações da Wehrmacht.

“Inicialmente o movimento era pulverizado, com iniciativas isoladas. A Resistência no começo era somente escrever palavras anti-Pétain nos muros e espalhar frases como ‘Viva De Gaulle’. Meu pai, por exemplo, em 1941, recolhia armas e explosivos, mas eles não sabiam o que iam fazer com aquilo”, explica Georges Duffau-Epstein, filho de Joseph Epstein, fuzilado em abril de 1944, no Mont-Valérien, onde houve aproximadamente 1000 fuzilamentos e onde, hoje, existe um monumento consagrado aos mortos pela França.

Por parte da sociedade civil muitas táticas foram usadas para comunicar a discordância com as ordens alemãs, como, por exemplo, ondas de assobios coletivos atrapalhando a veiculação dos cinejornais pró-alemães e a destruição sistemática dos cartazes assinados pela Ocupação ou pelo Estado.

Já interromper rotas, confundir informações e gerar um caos no transporte público foram ações empreendidas pelos cheminots (ferroviários, em francês), peça-chave no progresso da Resistência.

Embora o Brasil tenha participado da Segunda Guerra, através da FEB (Força Expedicionária Brasileira), houve um brasileiro que desempenhou importante papel na Resistência: trata-se de Apolônio de Carvalho, que comandou uma guerrilha em de Lyon, e em virtude deste engajamento, Apolônio foi condecorado com a Medalha Legião de Honra.


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