No futebol, quase sempre o talento é que resolve. Aos 25 minutos do primeiro tempo, o baixinho Bernard, atacante de 19 anos, mineiro de Belo Horizonte, revelado pelas categorias de base, recebeu a bola pela esquerda, bem no fundo, e a partir daí valeu a criatividade.
Ele deu um balãozinho em Edílson, viu a chegada de Souza, tocou com o lado do pé direito e deu outro chapéu e já na frente bateu de primeira para o meio da área. Jô bateu de primeira, de voleio, e fez o gol do Atlético – que seria o da vitória de 1 a 0 no início da noite deste domingo quente, no Estádio Olímpico.
Com o resultado, o Grêmio sofre sua terceira derrota (Vasco e Náutico antes), permanece com 12 pontos ganhos e no quinto lugar da tabela de classificação.
A torcida fez sua parte. Animada pela estreia de Zé Roberto, pela chance de ver seu time disputar até a liderança e, também, pela chance de mais uma vez ver Ronaldinho ser derrotado, praticamente lotou o estádio. Foram exatos 34.550 torcedores.
Não adiantou. Além da iniciativa pessoal de Bernard e do gol, o Atlético Mineiro a partir daí mostrou sempre mais organização. Foi bem na defesa, estabeleceu uma linha de marcação no meio-campo para evitar que o ataque do Grêmio tivesse o confronto direto com os zagueiros e passou a apostar nos contra-ataques.
O Grêmio dominava, controlava a bola, mas não conseguia transformar este domínio em chances de gol. No segundo tempo, foi ainda pior porque, apesar de todo o domínio, além de não conseguir as chances ainda ficou ameaçado de sofrer mais gols. Só não levou porque Marcelo Grohe salvou duas vezes, uma em chute frontal de Jô (aos 22) e outra em conclusão de Escudero (aos 46).
Pior para o time é que a partir da metade da fase final, quando os caminhos para o empate pareciam complicados, o Grêmio passou a se precipitar, claramente nervoso. As jogadas foram simplificadas, os lançamentos pelos altos dominaram e isso só facilitou a situação da defesa atleticana.
Para complicar ainda mais, o árbitro Paulo César de Oliveira foi rigoroso demais aos 33 minutos. Ao disputar a bola com Pierre, ele esticou o braço esquerdo e acertou de leve o rosto de Pierre – que caiu contorcendo-se. Não houve a clara intenção de Pico de agredir, mas o árbitro interpretou como um tapa e mostrou cartão vermelho. Houve outros lances semelhantes ao longo da partida, punidos ou não apenas com amarelo.
Na fase inicial, a melhor chance do Grêmio foi aos 43 minutos, quando Kléber driblou dois na esquerda e cruzou. Zé Roberto, na pequena área, tentou acertar, mas se desequilibrou e tocou fraco na bola. Seria o empate.
No segundo tempo, o Grêmio voltou do intervalo com Tony em lugar de Edílson e Rondinelly no de Léo Gago. O time mudou o esquema, com dois volantes e dois meias. Acelerou, mas foi improdutivo. Aos 28, mais uma tentativa: trocou outro volante, Fernando, por André Lima. O time passou a ter três atacantes e dois meias ofensivos para buscar o sufoco.
Não deu certo também. Foi o momento do jogo em que o Atlético mais utilizou os contra-ataques. Marcelo fez duas defesas salvadoras e, em outra, Jô chutou por cima em passe excepcional de Ronaldinho.
Ronaldinho, por sinal, foi o personagem de sempre. Foi vaiado na chegada ao estádio, ao sair do ônibus, quando seu nome apareceu no sistema de som e em cada momento em que pegava na bola. Mesmo assim, jogou uma boa partida, deu passes precisos e, no final, viu praticamente todos parceiros de Atlético correrem em sua direção para um abraço solidário. Foi uma espécie de resposta às vaias da torcida.
Zé Roberto (foto), outro dos personagens, foi altamente participativo no primeiro tempo, esteve em quase todas as jogadas de ataque do time, sofreu faltas, mostrou a categoria de sempre. No segundo, deu sinais de que cansou.
De qualquer maneira, mostrou que pode ser o grande acréscimo do Grêmio no resto do Brasileirão. Precisa apenas que o resto do time aprenda a jogar com ele, especialmente na rápida troca de passes.
O Grêmio volta a jogar no domingo, contra o Santos, na Vila Belmiro.
Do blog mariomarcos.wordpress.com
