Últimas Notícias > Geral > Noticias
|
12 de abril de 2012
|
00:15

Fórum debate utilidade e danos das sacolas plásticas em Porto Alegre

Por
Sul 21
[email protected]
“Sacolas Plásticas – Problema ou Solução?” foi tema de 2º Fórum Ambiental da AGAS | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

André Carvalho

Nos últimos anos, dentre a pauta de sustentabilidade e meio ambiente, um dos assuntos mais discutidos pelo poder público, empresários da área do comércio e a sociedade civil é o fim, ou não, das sacolas plásticas utilizadas nas compras de supermercados. Apesar de aparentar ser um assunto de simples solução, a questão é muito mais polêmica e abrangente do que parece, visto que não se trata apenas de uma defesa ou negligência da ideologia do “ecologicamente correto”. Por trás dessa discussão, há também questões políticas, sociais, educacionais, culturais e históricas.

Observando a necessidade deste debate junto com a sociedade gaúcha, a AGAS (Associação Gaúcha de Supermercados), promoveu nesta quarta-feira (11), o 2º Fórum Ambiental, que teve como tema “Sacolas Plásticas – Problema ou Solução?”. A atividade contou com a participação de grandes nomes e autoridades no assunto para tentar apontar os possíveis benefícios e/ou malefícios deste produto tão presente no cotidiano de todos.

Na abertura do evento, o presidente da AGAS, Antônio Cesar Longo, defendeu as sacolinhas de supermercado, destacando que elas possuem mais de uma utilidade na vida das pessoas. “Quando uma pessoa compra um saco de lixo, este saco só terá a utilidade de carregar o lixo, entretanto, a sacolas de supermercado servem para as pessoas carregarem suas compras do mercado para casa e posteriormente para descartar o lixo produzido”, destacou.

De acordo com Longo, uma pesquisa recente apontou que cerca de 73% da população gaúcha é contra o fim das sacolas. Além disso, ele defende que acabar apenas com as sacolas não será o suficiente para a melhora ambiental, e consequentemente, a qualidade de vida social. “Não basta dar fim às sacolinhas. Temos que pensar em todos os demais produtos que se utilizam do material plástico como embalagem. É engraçado ver esta nova política conhecida como ‘marketing verde’. Isso é um engodo, se fala muito em sustentabilidade, mas se faz muito pouco”, denunciou. E completou: “É importante destacar que 4% do petróleo extraído é utilizado para materiais plásticos. Deste percentual, menos de 1% vão para as sacolas”.

Debatedores dividiram-se entre manutenção e eliminação das sacolas plásticas durante evento no Hotel Deville, em Porto Alegre | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Também favorável as sacolas plásticas, o consultor ambiental Eduardo Torres iniciou sua fala ratificando o pensamento de Longo, afirmando que “a venda das sacolas retornáveis (de pano) é uma falsa ideia de sustentabilidade e ‘ecologicamente correto’. É uma ideia travestida de meio ambiente, mas que não é real”, declarou. Segundo ele, o problema deste debate é que não há um estudo científico que mostre que há mais malefícios do que benefícios nas sacolas plásticas. Apesar disso, Torres traz um dado curioso favorável ao material plástico: “Apesar de ser produzido 1Kg de lixo por pessoa/dia no Brasil, as sacolas plásticas somam apenas 0,2% dos resíduos sólidos. Quer dizer, será que ela realmente é a vilã dessa história?”, concluiu, deixando a indagação em aberto.

Resíduos sólidos são o maior problema, diz biólogo

Já o biólogo Jackson Müller se posicionou contrário aos seus colegas, apesar de acreditar também que “tirar apenas as sacolinhas plásticas de circulação não vai mudar os problemas ambientais. Elas são apenas a ponta de um grande iceberg, chamado resíduos sólidos”. Segundo Müller, apesar de existir inúmeras políticas e leis de educação ambiental, elas são pouco – ou não são –, aplicadas pela administração pública, e isso acaba prejudicando a sociedade quando há debates sobre o assunto, que do ponto de vista dele, é quem mais sofre com as mudanças. “Se não existe uma cultura, uma consciência ambiental, como a população vai poder dizer se as mudanças são positivas ou negativas?”, questionou.

Por outro lado, o presidente do Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos (Plastivida), Miguel Bahiense, ratificou a ideia de que apesar de o plástico ser danoso ao meio ambiente, ele não é o vilão pelo descarte inadequado. Para ele, “o problema está na educação, ou na falta de, por parte das pessoas”, afirmou.

Além disso, ele explicou que, “curiosamente, enquanto as pessoas tentam transformar as sacolas plásticas no problema ambiental, ela é o resíduo sólido que mais teve redução na sua produção. Em 2008 foram produzidas 18 bilhões de sacolas plásticas. No ano passado foram 13 bilhões. Uma redução de cinco bilhões”. E completou: “Para se ter uma ideia, só no estado gaúcho, essa redução representou mais de 20% do consumo de sacolas plásticas nesse período”.

Na visão de Alexandre Saltz, princípio da prevenção deve ser argumento para não usar sacolas plásticas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Aproveitando o questionamento deixado em aberto anteriormente pelo ambientalista Eduardo Torres, o promotor de justiça da Promotoria de Justiça e Defesa do Meio Ambiente, Alexandre Saltz, lhe respondeu afirmando que “se não há nenhum estudo, então deve-se utilizar do princípio de prevenção, onde parte-se da ideia de que na falta de informações precisas sobre os impactos ambientais, o melhor então é não usar as sacolas plásticas”.

Para Saltz, apesar de o plástico estar agregado a vida social e não existir um substituto real para ele, será uma questão de tempo e educação para as pessoas se habituarem a viver sem elas. Ao finalizar sua fala, ele trouxe dados de países que buscam alternativas viáveis para o convívio pacífico com tal material. “Na França, as pessoas pagam pelo lixo embalado com sacolas plásticas. É um valor baixo, mas há um custo. Já na Irlanda, o valor das sacolas são agregados ao final das compras, variando para o número de sacolas necessárias. Se a pessoa precisar de apenas uma, pagará X, se precisar de cinco, pagará X mais cinco”, explicou.

Ele defendeu também que a questão da extinção, ou não das sacolinhas, tem de ser discutido e decidido pelo consumidor, que, para ele, é o principal prejudicado com a polêmica. “É claro que este tema é uma questão de responsabilidade compartilhada, onde, o poder público, o comércio e a sociedade tem deveres, mas dos três o maior prejudicado certamente é o terceiro”, finalizou.

Assim como Saltz, a diretora do departamento de produção e consumo sustentável do Ministério do Meio Ambiente, Fernanda Daltro, também concorda que o maior prejudicado nesse embate é o consumidor. “O consumidor está no meio de uma guerra de contrainformação midiática e de senso comum, onde de um lado se ouve que é bom, de outro, que é ruim, mas nenhum dos dois com argumentos esclarecedores que realmente formam a opinião”. Do ponto de vista dela, quem tem que prestar esse serviço de informação esclarecedora são as industrias e os mercados que trabalham com o material”.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora