Nubia Silveira
Um dos grandes fotógrafos gaúchos nasceu em Barcelona, na Espanha, trabalhou como padeiro, lutou nas Forças Republicanas, foi preso e — passada a segunda guerra mundial — migrou para o Brasil. O destino foi Porto Alegre, onde José Abraham chegou, em 1952, com mulher e filho. A escolha pela capital gaúcha se justificava: o casal tinha familiares vivendo na cidade. E foi um dos parentes que o levou para trabalhar no laboratório fotográfico da Empresa Jornalística Caldas Jr, editora, naquela época, dos jornais Correio do Povo e Folha da Tarde.
Até as máquinas fotográficas digitais invadirem as redações, o laboratório funcionou como uma espécie de estágio. Entre a revelação dos filmes e cópias de fotos, os laboratoristas aprendiam a lidar com as velhas Rolleiflex, aqueles caixotes com visor na parte superior. Logo saiam do quarto escuro para as ruas da cidade. Com Abraham não foi diferente. Em pouco tempo, Santos Vidarte, o chefe da Fotografia, convidou-o a trocar de lugar.
Chamado por todos de Espanhol – seu forte sotaque não deixa dúvidas sobre a razão do apelido -, Abraham saiu para um de seus primeiros trabalhos acompanhado pelo repórter Walter Galvani. Ambos focas, iniciantes na profissão, foram cobrir uma enchente ocorrida em Pelotas. Não fizeram feio.
Alfonso Abraham, que herdou do pai a capacidade de fotografar e, também, o apelido, guarda com carinho os velhos negativos, que contam um pouco da história do Rio Grande do Sul e do Brasil. Em homenagem ao pai e aos 50 anos da Campanha da Legalidade, Alfonso prepara uma exposição das fotos do Espanhol, que revelam momentos importantes dos dias de indefinição política.
As fotos serão expostas no Café da Imprensa, que Alfonso mantém no térreo do edifício sede da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) — Borges de Medeiros 915, no Centro de Porto Alegre. A mostra será inaugurada no final de agosto e permanecerá aberta à visitação até setembro. O sonho de Alfonso, que começou a trabalhar no laboratório com o pai, é ter, além do café, já em funcionamento, uma galeria, que chamará de Assis Hoffmann, seu primeiro chefe na fotografia, para mostrar o trabalho dos fotógrafos.