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29 de abril de 2011
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23:48

“Brizola mostrou toda a sua capacidade de superar surpresas”

Por
Sul 21
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“Brizola mostrou toda a sua capacidade de superar surpresas”
“Brizola mostrou toda a sua capacidade de superar surpresas”
Brizola montou a Cadeia da Legalidade

Dilamar Machado*

Em 1961, a vida em Porto Alegre transcorria tranquila e mansa, todos se sentiam seguros a qualquer hora do dia ou da noite. Havia muito menos gente e veículos nas ruas, tudo custava barato e o ambiente era de um provincianismo gostoso. Os embates da disputa política do centro do País repercutiam como algo distante, como se Brasília, a nova capital com apenas um ano de existência, ainda não fizesse parte integrante da Nação. Aqui chegavam os ecos da administração de Jânio Quadros, um político excêntrico que se preocupava muito mais com problemas secundários do que com o essencial. Medidas como a proibição das brigas de galos e outras chegavam a provocar o riso e comentários jocosos no seio da população.

Jâniio Quadros: um político excêntrico

No Rio Grande, um novo político, o governador Leonel Brizola, chamava a atenção pelas mudanças que começava a realizar. Criava cin-
co mil escolas de madeira para suprir a carência de salas de aula — uma preocupação com a educação das futuras gerações que ainda hoje, no Rio de Janeiro, é ponto alto de sua administração –; encampava os serviços de energia elétrica e telefones que, tradicionalmente, em todo o País, eram mal prestados por empresas norte-americanas; criava a Caixa Econômica Estadual, para manter a poupança gaúcha no Estado; realizava uma reforma agrária no Banhado do Colégio, até hoje um modelo para o Brasil; criava a Aços Finos Piratini; construía, com financiamento do Banco Mundial, a Estrada da Produção e tantas outras iniciativas. O homem não parava e terminou como marco de administração no Rio Grande do Sul.

Na época, eu trabalhava como repórter político de um jornal que marcou sua trajetória, a Última Hora, fundado um ano antes por Samuel Weiner, a exemplo do que já fizera no Rio de janeiro, São Paulo e Minas Gerais, apoiado por Getúlio Vargas. Designado pelo Editor de Política, eu realizava a cobertura do Palácio Piratini e vivia o dia-a-dia do dinamismo brizolista, que era um destaque dentro da vida pachorrenta que o Estado e o País viviam.

Na tarde de 15 de agosto de 1961, repentina e inesperadamente o Brasil foi sacudido por uma informação: Jânio Quadros havia renunciado à Presidência da República, menos de oito meses após ter assumido com o apoio de grande votação e das esperanças do povo brasileiro. Foi uma correria, principalmente dos repórteres políticos, todos procurando maiores detalhes e conhecer a repercussão que o fato histórico provocava nos quatro cantos do País.

Ao tomar conhecimento que os costumeiros golpistas estavam dispostos a impedir a posse de João Goulart, o vice-presidente que se encontrava viajando pela China, Brizola mostrou toda a sua capacidade de superar surpresas, de liderar massas e de adotar providências rápidas e eficazes. Criou a “Rede da Legalidade”, composta por todas as emissoras do Estado, acompanhadas, depois, por outras de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e outros lugares em todo o território nacional. Reuniu as forças de que dispunha para a defesa da legalidade institucional e montou um dispositivo que acabou permitindo o retorno e a posse de Jango.

Tenho a impressão de que os meus sentimentos trabalhistas, originados pela luta de meu pai, getulista desde a revolução de 1930, foram alicerçados e ampliados mais ainda. Vendo a luta legalista de Brizola, resolvi ser mais legalista do que jornalista. Desta forma, fui para os porões do Palácio Piratini e integrei a luta que Brizola comandava. E nela continuo até os dias atuais, já que muita coisa tem de ser feita para que os ideais trabalhistas e brizollstas possam produzir frutos que beneficiem todo o sofrido e heróico povo brasileiro.

*Em 61 era repórter da Última Hora e da Rádio Gaúcha. Trabalhou em diversos veículos de comunicação do estado e, quando escreveu este texto, em 1986, era deputado estadual (PDr).

Texto publicado no livro Legalidade –25 anos — A resistência popular que levou Jango ao poder, Editora Redacator


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