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17 de fevereiro de 2011
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13:30

Antonioni e o homem multidimensional

Por
Sul 21
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Eu penso em um egípcio participando dos protestos da Praça Tahrir, no centro do Cairo, atirando pedras contra algum alvo que simbolize Mubarak. E quando ele desce ao chão para catar mais munição, de repente, talvez já com algum tijolo na mão, ele larga tudo – objeto, multidão, raiva -, e sai correndo em direção às pirâmides e acaba se perdendo no deserto. Ele troca o furor da multidão e da história pelo recolhimento e pela solidão.

Quando transformarem a Praça Tahrir num filme, é provável que essa cena não aconteça. Mas é ela que me vem à mente se o diretor escolhido para a empreitada fosse Michelangelo Antonioni. Um artista que eu nunca compreendi. Até que, nas minhas últimas férias, alheio a tudo o que acontecia no mundo, assisti a Zabriskie Point e tive um relance para começar a entender as reviravoltas que o italiano promove nos seus filmes.

Em Zabriskie Point, Antonioni começa retratando um jovem engajado nas revoltas estudantis americanas de 1960, 70. Mas, em meio ao furor da revolta impulsionada pelo instinto coletivo, o personagem foge. A segunda metade do filme se transforma em jornada pessoal do protagonista pelo deserto, longe da política e perto da sedução quase primitiva de uma desconhecida.

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