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15 de maio de 2021
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10:52

Problemas sociais e políticas públicas: precisamos falar sobre os usos da Cannabis (por Leonel Radde)

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Sul 21
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Problemas sociais e políticas públicas: precisamos falar sobre os usos da Cannabis (por Leonel Radde)
Problemas sociais e políticas públicas: precisamos falar sobre os usos da Cannabis (por Leonel Radde)
Com Brasil na contramão, países das Américas tem avançado na legalização da maconha (Foto: PXfuel/CC)

Leonel Radde (*)  

“Como pode um policial civil defender a maconha?” A frase pronunciada no plenário da Câmara na última semana serviu para trazermos à tona motivos não apenas para a defesa da Cannabis enquanto princípio ativo em medicamentos, mas do investimento, pesquisa e distribuição de produtos derivados da planta. Trata-se de analisar a “maconha” como problema social.

No ciclo de políticas públicas, questões recebem atenção de atores sociais, que manipulam interesses e disputam recursos a título de transformá-la em problema social passível de intervenção em forma de política. Nem toda questão é um problema social e nem todo problema social será tratado em política pública.

Mas, no Brasil e no mundo, a Cannabis é um problema social na agenda pública e foi alvo de intervenção em projetos de Goiânia, Brasília e Nova York. Nessa agenda destacam-se dois alvos de intervenção: a falta de acesso de pessoas que dependem de medicamentos à base da planta e o vácuo científico.

Pessoas que vivem com esclerose, doenças raras, deficiência, ansiedade, depressão, usam a cannabis como alternativa a drogas que não oferecem o mesmo benefício, mas são economicamente acessíveis. O óleo de canabidiol, por exemplo, custa em média R$2.500,00. Certa vez, ouvi uma mãe relatar “sabe o que é uma sensação de impotência? É ver seu filho agonizar em uma das 50 convulsões que ele tem por dia, porque você não tem a capacidade de prover a ele uma gota de óleo!”. A discussão não se resume ao uso medicinal e exclusivo do canabidiol, mas de outras 400 substâncias eficazes a diferentes necessidades.

Em segundo lugar está o agravante do incentivo à pesquisa. Enquanto identificamos núcleos de pesquisa dedicados ao estudo da Cannabis em outros países, no Brasil lutamos para garantir a qualidade de medicamentos essenciais à uma parte da população.

Embora as políticas públicas tenham o objetivo de mudar o status quo, atuando sobre a causa dos problemas sociais, a política de drogas tem feito o contrário, reproduzindo e agravando desigualdades que interseccionam os problemas. Nesse caso, por ética, não só posso como devo defender a Cannabis, tratando-a como um problema social, objeto de política pública.

(*) Vereador de Porto Alegre e Policial Civil do Rio Grande do Sul

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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