Miguel Rossetto (*)
O que se espera do prefeito de Porto Alegre é seriedade. Quando se trata do transporte público da cidade isto é uma exigência; afinal, são 730 mil usuários por dia. Infelizmente, não tem sido assim. Sem nenhum argumento sério, Melo repete em cada almoço ou jantar que vai privatizar ou liquidar com a Carris. Este é um assunto importante demais para ser definido em poucos gabinetes. Que os bairros, todos eles, falem.
Com 149 anos, empresa pública desde 1953, foi por vários anos premiada como a melhor empresa do Brasil em transporte coletivo. Foi ela que inovou na acessibilidade para pessoas com deficiência, com o ar-condicionado nos ônibus e possui uma equipe de trabalho altamente qualificada. O que a Carris tem a ver com a crise do financiamento do sistema de transporte de Porto Alegre? Nada! Ao contrário, foi a Carris que assumiu linhas abandonadas pelas empresas privadas durante a crise, como na Lomba do Pinheiro. Melo fala do balanço negativo da Carris; é obvio que uma empresa estruturada para atender um volume de passageiros sofre com a enorme redução destes usuários.
E as empresas privadas? Todas estão em piores condições do que a Carris. Melo diz que é impossível repassar recursos para a Carris, mas não achou impossível repassar para as empresas privadas de ônibus. Marchezan e Melo repassaram entre 2020 e 2021, 55 milhões de reais para o caixa dessas empresas.
O que faliu em Porto Alegre é o sistema de transporte de concessões com muitas e ineficientes empresas privadas, que controlam a bilhetagem (ilegalmente..), que controlam o preço da tarifa. Porto Alegre tem a tarifa mais cara entre todas as capitais e um serviço ruim; ônibus desconfortáveis, poucos horários e linhas.
Destruir a Carris não é nem a única nem a melhor solução, é a pior delas. Bem administrada, assumindo o transporte público da cidade, com recursos para a mobilidade urbana como outras cidades o fazem, a Carris é a melhor resposta para os porto-alegrenses que precisam e têm o direito a um ônibus com qualidade e passagem barata. Todo o resto são interesses impublicáveis
(*) Miguel Rossetto é sociólogo, foi vice-governador do RS de 1999 a 2001, ministro do Desenvolvimento Agrário (2003 a 2006 e 2014), ministro da Secretaria Geral de Presidência (2015) e ministro do Trabalho e Previdência Social (2015/2016) nos governo Lula e Dilma e candidato a vice-prefeito de Porto Alegre em 2020.
§§§
As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.