Opinião
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18 de outubro de 2020
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10:46

Tempestades da vida: como encarar o câncer de mama (por Mariela Bier Teixeira)

Por
Sul 21
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Tempestades da vida: como encarar o câncer de mama (por Mariela Bier Teixeira)
Tempestades da vida: como encarar o câncer de mama (por Mariela Bier Teixeira)
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Mariela Bier Teixeira (*)

As tempestades são fenômenos naturais que demonstram a força da natureza, que em dadas condições ambientais e meteorológicas desaguam na atmosfera terrestre. Não são uma simples chuva, necessária e revigorante, as tempestades podem incluir rajadas de vento, raios, relâmpagos e até granizo. Algumas se transformam em outros fenômenos ainda mais potentes, como ciclones e tornados. Após a tempestade há destruição na superfície terrestre e há a purificação das impurezas que pairavam no ar. Esses dois resultados são aparentemente contraditórios, porém ambos podem ser benéficos e renovadores. Há um ditado que diz que após a tempestade vem a bonança e, pode-se acrescentar: o arco-íris.

Igualmente as tempestades da vida podem ser encaradas pela perspectiva da renovação e do aperfeiçoamento. Após grandes desastres vemos surgir redes de solidariedade. A pandemia mundial que nos assola atualmente é uma oportunidade de desenvolvimento científico, tecnológico e humano. É necessário investimento para que possamos notar os resultados positivos e sair desta crise. Não é um processo simples. Exige o reconhecimento das nossas fragilidades e limitações.

Enfrentar as tormentas da vida demanda paciência. Nos últimos anos foi assim que enfrentei algumas delas, uma maior que a outra. Em 2017 notei alguns relâmpagos no horizonte, atuava como professora de língua espanhola e a obrigatoriedade desse componente curricular foi revogada. Tive receio de perder espaço na educação. Dessa forma, busquei outra formação na mesma área e fui cursar Licenciatura em Educação Especial. Em outubro de 2018, durante a campanha de prevenção do outubro rosa, fui diagnosticada com câncer de mama triplo negativo, um dos mais agressivos. Era o início de uma intensa e duradoura tempestade.

Essa tormenta foi uma oportunidade de exercer a paciência. Aprender a viver um dia de cada vez, com resignação e esperança. Primeiro com a quimioterapia, foi necessário perceber que a queda dos fios, no banho, no travesseiro, pelo chão da casa, era irreversível. Raspamos os cabelos no último dia do ano, meu marido e eu. Iniciamos 2019 carecas. Enfrentamos juntos as sessões de quimioterapia, radioterapia e a cirurgia preservadora, pois meu caso não exigiu a mastectomia. Em abril de 2019 fui demitida, durante o tratamento e a licença-saúde, um mês antes da cirurgia. Trabalhava como professora contratada na rede estadual. Temi perder o plano de saúde, foram momentos de grandes rajadas de vento que me desestabilizaram.

A tempestade amainou. Quando estava finalizando o tratamento oncológico me inscrevi no processo seletivo para uma vaga de professora. Naquele primeiro momento, fui desclassificada. Algumas semanas depois, surgiu uma outra oportunidade e em agosto de 2019 assumi novamente a minha função na educação. Há um outro ditado que diz que mar calmo não faz bom marinheiro. Em 2020 temos nos reinventado no ensino remoto, pois há uma grande tempestade em nossas vidas. Ela também vai passar. É novamente outubro rosa, não esqueça de fazer os exames preventivos. O arco-íris e todas as suas cores serão a recompensa. Tenhamos paciência.

(*) Professora Especialista em Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação – Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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