Opinião
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31 de agosto de 2020
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13:52

A farsa do impeachment e o golpe contra a democracia completam 4 anos (por Alexandre Costa)

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Sul 21
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A farsa do impeachment e o golpe contra a democracia completam 4 anos (por Alexandre Costa)
A farsa do impeachment e o golpe contra a democracia completam 4 anos (por Alexandre Costa)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Alexandre Costa (*)

Após 21 anos de uma ditadura militar que matou, torturou e deu sumiço a centenas de pessoas, a partir de 1985 o povo brasileiro voltou a respirar a liberdade, o que foi se consolidando com a promulgação da Constituição de 1988. Ano após ano, o regime foi sendo aprimorado, seja pela soberania entre os três poderes, por meio do exercício da cidadania ou pela função pública dos mais diversos órgãos do Brasil. Porém, com o golpe de 2016, os brasileiros assistiram ao naufrágio da democracia no país. A farsa do impeachment de Dilma Rousseff, sem crime de responsabilidade e baseado nas chamadas “pedaladas fiscais”, entrou para história do Brasil como o capítulo mais vergonhoso e degradante da República.

Acusada de praticar manobras contábeis, procedimento rotineiro nas administrações de vários presidentes que a precederam, Dilma foi julgada e afastada sem que pesasse sobre ela qualquer suspeita de enriquecimento ilícito ou de corrupção. Em 17 de abril daquele ano, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o relatório com 367 votos favoráveis e 137 contrários. Em 12 de maio, o Senado aprovou por 55 votos a 22 a abertura do processo, afastando Dilma da presidência até que o mesmo fosse concluído. Neste momento, o vice-presidente Michel Temer assumiu interinamente o cargo de presidente. Em 31 de agosto de 2016, Dilma Rousseff perdeu o cargo de Presidente da República após votação em plenário, resultando em 61 votos favoráveis ao impeachment e 20 contrários.

Hoje, a história segue confirmando a sua inocência, ao contrário de seus algozes na Câmara: à época do julgamento, 40 deputados dos que votaram pelo “sim” eram réus em ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF), investigados por crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e desvio de verba pública. Uma ironia que não passou despercebida pela imprensa global. Conceituados jornais e publicações de todo o mundo estamparam em suas manchetes o golpe jurídico-midiático-parlamentar que resultou na morte da democracia brasileira. Mais recentemente, o golpe brasileiro voltou a percorrer o planeta graças ao documentário “Democracia em Vertigem”, da cineasta Petra Costa. Exibido pelo canal Netflix, o filme recupera os principais fatos políticos do país a partir de 2013, traçando um paralelo com as manipulações de massa que levaram à queda de Dilma. O documentário, com depoimentos inéditos de Dilma e Lula, ganhou indicação ao Oscar deste ano.

Desde então, os retrocessos políticos, sociais e econômicos tomaram conta do Brasil.

Os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro são parte de um roteiro de terror, repleto de denúncias de crimes, de assalto às reservas naturais e ao patrimônio público do povo brasileiro, bem como da retirada de direitos dos trabalhadores. Além do prejuízo econômico, o golpe afetou as relações internacionais, que nos levaram a uma imagem de país degradante, seja pela submissão aos EUA e ao capital internacional, pelo número de mortes e contaminados em decorrência do coronavírus ou pela destruição das matas e poluição ambiental.

Dia a pós dia, o Brasil assiste ao seu próprio naufrágio e, pouco a pouco, é engolido pelas águas turvas do fascismo.

(*) Alexandre Costa é jornalista

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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