Opinião
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25 de julho de 2020
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14:45

Julho das pretas (por Isis Marques)

Por
Sul 21
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Julho das pretas (por Isis Marques)
Julho das pretas (por Isis Marques)
Isis Marques, secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS (Divulgação)

Isis Marques (*)

Com o mote “Nem cárcere, nem tiro, nem Covid: corpos negros vivos! Mulheres negras e indígenas! Por nós, por todas nós, pelo bem viver”, celebramos o Julho das Pretas, cujo grande momento é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Teresa de Benguela, que ocorrem neste sábado, dia 25 de julho.

“Rainha Tereza” é um ícone da resistência negra no Brasil Colonial. Nascida no século 18, ela chefiou o Quilombo do Piolho ou Quariterê, no interior do Mato Grosso. A comunidade resistiu por quase duas décadas, o que incomodava o governo escravista.

Após ataques dos poderosos da época, Benguela foi presa e se suicidou após se recusar a viver sob o regime de escravidão. Sua luta só foi reconhecida pela presidenta Dilma Rousseff, que sancionou a lei nº 12.987/2014, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela.

Os anos passaram e hoje, em pleno século 21, as mulheres pretas ainda ocupam espaços em setores mais precarizados do mercado de trabalho, muitas sem vínculo de emprego e com salários mais baixos.

Com base em dados estatísticos, as trabalhadoras pretas são impedidas de ascensão profissional em suas carreiras devido a vários fatores, como os tais critérios de meritocracia e o dito perfil. Todas as barreiras foram construídas por um sistema que tem como origem excluir as pretas para exercerem funções e cargos de poder dentro das empresas.

Conforme pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizadas em seis cidades brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Brasília), a persistência da desigualdade no Brasil se reflete na ausência de equidade entre os sexos, aprofundando as discriminações e colocando as afrodescendentes na pior situação quando comparadas aos demais grupos populacionais (homens negros e brancos e as mulheres brancas).

Somos a síntese da dupla discriminação de sexo e cor na sociedade brasileira. Mais pobres, em situações de trabalho mais precárias com menores rendimentos e com as mais altas taxas de desemprego.

E o mais trágico é que, se compararmos os dados dos levantamentos nos últimos 15 anos, veremos que quase nada mudou e continuamos excluídas na sociedade.

Por isso, nós, trabalhadoras negras, precisamos fazer esse debate junto a mulheres e homens, apontar as injustiças históricas que sofrem as pretas e mudar essa dura e triste realidade.

Acreditamos na garra e na coragem das mulheres pretas e vamos lutar para que essa mudança aconteça.

(*) Isis Marques é bancária e secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS .

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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