Isis Marques (*)
Com o mote “Nem cárcere, nem tiro, nem Covid: corpos negros vivos! Mulheres negras e indígenas! Por nós, por todas nós, pelo bem viver”, celebramos o Julho das Pretas, cujo grande momento é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Teresa de Benguela, que ocorrem neste sábado, dia 25 de julho.
“Rainha Tereza” é um ícone da resistência negra no Brasil Colonial. Nascida no século 18, ela chefiou o Quilombo do Piolho ou Quariterê, no interior do Mato Grosso. A comunidade resistiu por quase duas décadas, o que incomodava o governo escravista.
Após ataques dos poderosos da época, Benguela foi presa e se suicidou após se recusar a viver sob o regime de escravidão. Sua luta só foi reconhecida pela presidenta Dilma Rousseff, que sancionou a lei nº 12.987/2014, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela.
Os anos passaram e hoje, em pleno século 21, as mulheres pretas ainda ocupam espaços em setores mais precarizados do mercado de trabalho, muitas sem vínculo de emprego e com salários mais baixos.
Com base em dados estatísticos, as trabalhadoras pretas são impedidas de ascensão profissional em suas carreiras devido a vários fatores, como os tais critérios de meritocracia e o dito perfil. Todas as barreiras foram construídas por um sistema que tem como origem excluir as pretas para exercerem funções e cargos de poder dentro das empresas.
Conforme pesquisas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), realizadas em seis cidades brasileiras (Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Brasília), a persistência da desigualdade no Brasil se reflete na ausência de equidade entre os sexos, aprofundando as discriminações e colocando as afrodescendentes na pior situação quando comparadas aos demais grupos populacionais (homens negros e brancos e as mulheres brancas).
Somos a síntese da dupla discriminação de sexo e cor na sociedade brasileira. Mais pobres, em situações de trabalho mais precárias com menores rendimentos e com as mais altas taxas de desemprego.
E o mais trágico é que, se compararmos os dados dos levantamentos nos últimos 15 anos, veremos que quase nada mudou e continuamos excluídas na sociedade.
Por isso, nós, trabalhadoras negras, precisamos fazer esse debate junto a mulheres e homens, apontar as injustiças históricas que sofrem as pretas e mudar essa dura e triste realidade.
Acreditamos na garra e na coragem das mulheres pretas e vamos lutar para que essa mudança aconteça.
(*) Isis Marques é bancária e secretária de Combate ao Racismo da CUT-RS .
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