Opinião
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19 de junho de 2020
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14:10

Plano Safra da Fome (por Movimento dos Pequenos Agricultores)

Por
Sul 21
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MPA/Divulgação

MPA Brasil(*)

Enquanto a inflação acumulada de janeiro de 2015 a maio de 2020 é de 30%, a cesta básica em São Paulo aumentou 50%. Os indicadores oficiais de inflação apontam uma estagnação e até redução geral nos preços. Mas os alimentos continuam subindo.

Isso é resultado de uma política que prioriza a produção de alguns grãos e carnes para o mercado externo enquanto a agricultura que produz alimentos para a mesa do povo brasileiro está sendo abandonada. O Plano Safra anunciado por Bolsonaro reforça essa lógica.

Os camponeses sofrem com o abandono do governo. Mas os brasileiros que vivem nas cidades sentirão as consequências na hora de comprar comida para matar a fome. A situação é grave, mais até para o povo urbano que para o campo.

Por isto o Plano Safra da Agricultura lançado dia 17 de junho de 2020 pelo presidente Bolsonaro merece este título: Plano Safra da Fome. Ou Plano Soja.

Depois de lido, relido e analisado, o que se vê e se lê é que se trata de mais do mesmo do que se viu nos últimos anos. Aumento dos monocultivos em grandes áreas, juros altos, foco na exportação, estímulo à produção de soja e milho. Bom para os banqueiros, ruim para o povo.

Nada direcionado à produção de alimentos. Nada direcionado ao abastecimento popular de alimentos.

Nada voltado às mais de três milhões de famílias camponesas empobrecidas no campo – assentados, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, pequenos agricultores, povos das florestas, extrativistas, indígenas, quebradeiras de coco – , que produzem sua própria subsistência e um excedente importante para o mercado local.

Desconsidera os baixos estoques de alimentos básicos e não estimula seu suprimento: arroz, trigo, feijão, mandioca, leite, etc.

Não prevê nenhum tipo de estímulo setorial para o suprimento alimentar do país: feijão, arroz, trigo, frutas, leite, mandioca, batatas, produtos da sociobiodiversidade, hortigranjeiros, etc. Desrespeita as culturas alimentares do país.

Não prevê medidas para resolver os problemas de endividamento rural que pesa sobre os pequenos e suas cooperativas e associações, fruto das crises que se sucedem desde 2014.

O que é pior. É um Plano Safra “de costas” para a situação de emergência que se encontra o país. Parece ao Plano Bolsonaro que não há pandemia no Brasil.

Além disto, induz pressão por mais área plantada, o que promoverá mais devastação na Amazônia. É um “Plano Soja”. Com um pouco de milho para disfarçar.

Caso o povo aceite comer só soja e milho e se sentir satisfeito e saciado, pode avaliar com algum grau de positivo o Plano Fome de Bolsonaro.

Na prática, vai faltar alimentos nas prateleiras e os preços vão subir. Vem aí, por culpa do Bolsonaro, além da pandemia e do desemprego, fome e alimento caro. Além do vírus, muitos e muitas perderão a vida por causa da fome.

Na Câmara dos Deputados tramita um Plano Emergencial para promover a produção em escala de alimentos saudáveis e diversificados, com fomento, crédito emergencial, aquisição de alimentos para distribuir à população pobre das cidades e solução para o endividamento rural dos pequenos agricultores.

Este oferece um pouco de esperança em meio ao desastre do Plano Bolsonaro.

Cabe lutar e mobilizar a sociedade para que seja aprovado.

Reafirmamos a defesa da vida produzindo alimentos saudáveis, pois quem alimenta o Brasil exige respeito.

(*) Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA Brasil

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As opiniões emitidas nos artigos publicados no espaço de opinião expressam a posição de seu autor e não necessariamente representam o pensamento editorial do Sul21.


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