Franklin Cunha (*)
Moby Dick é um romance do americano Herman Melville (1819-1891). O nome da obra é o da baleia branca enfurecida que tendo sido ferida várias vezes por baleeiros, conseguiu a destruição de todos. O livro foi revolucionário para a época, com descrições intrincadas e imaginativas das aventuras do narrador Ismael, suas reflexões pessoais, a cor branca de Moby Dick, de técnicas de caça e produtos extraídos das baleias.
O romance foi inspirado no naufrágio do navio Essex, comandado pelo Capitão George Pollard, quando este foi atingido por uma baleia e afundou.
Em 1966 John Huston dirigiu um ótimo filme baseado no livro estrelado por Gregory Peck e Richard Basehart . É a história de um homem obsessivo e autodestrutivo que inicia uma caçada em busca da baleia branca Moby Dick a qual anteriormente havia comido uma perna do seu perseguidor implacável, o Capitão Ahab.
Para assinalar que o livro é simbólico Melville diz que “não se imagine que Moby Dick seja relato monstruoso ou uma alegoria intolerável”.
Vários críticos, preferiram dar uma interpretação moral à história. E assim, ela foi interpretada como uma batalha contra o Mal, executada com demasiada intensidade e táticas errôneas. Numa dessas interpretações a monomania obsessiva de Ahab perturba toda a tripulação e finalmente afunda seu barco aniquilando todos os marinheiros.
Encontram-se também leituras políticas do romance de Melville. Uma delas é a do filósofo argentino José Pablo Feinmann (1936 – ) quando diz em seu mais recente livro que “se no século XIX Moby Dick, come uma perna do Capitão Ahab, em 11 de setembro de 2001 a monstruosa baleia branca lhe devora a outra”.
Sabemos que as interpretações políticas não excluem a densidade metafísica e moral do livro de Melville, mas na atual conjuntura mundial, todas se tornam oportunas, irresistíveis , mesmo. Assim Ahab passa a representar a ambição obsessiva do Império norte-americano, de perseguir metas que sempre renascem sob outras formas, porque é o perseguidor que cria e agiganta o perseguido por uma causa que lhe parece legítima. Na perseguição está o fundamento de sua existência e a consolidação de suas posses territoriais e do poder econômico. E bélico.
É Feinmann quem diz: “Assim, fica claro que o louco Capitão Ahab (ou Capitão América, as inicias são as mesmas) é a loucura imperialista, o expansionismo incontrolável, porque cada território que seu delírio paranoico o leva a invadir, aplaca sua angustiante sede de conquista, mas, para sua infelicidade e para a dos outros, Ahab e sua fúria vingativa não podem ser detidos. O Império sente que o mundo está contra ele e seus áulicos dizem que “agredimos para não sermos agredidos, só assim estaremos seguros”, numa variante de um doente o qual se justifica sua fúria persecutória e diz: “Só deixarei se ser paranoico quando pararem de me perseguir”.
E hoje o autor de Moby Dick talvez pudesse dizer do insaciável e insano Capitão Ahab o qual tudo destrói sem vencer, que ele é a atual imagem monstruosa de como o Império é visto em todo o planeta.
E as guerras do Vietnã, Iraque, Líbia, Síria, Afeganistão e mais 17 outras, estariam dando razão ao gênio de Hermann Melville.
(*) Médico. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras
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